“Assim, as bases cristalizam-se como resíduos, mas o espírito se esfuma (…). Há quantos dias Bonifácio não evacua? (…). Pobre Bonifácio! Teus santos pensamentos constipam-se, uma vez que não podes exprimi-los pela boca ou pela pena. Ó tu, vítima da profundidade das ideias, ó tu, pia constipação”. (MARX, Karl. “Escorpião e Félix”. In: “Escritos ficcionais”. São Paulo: 2018, pp. 41 e 47).
Em 1⁰ de janeiro de 2019, na cerimônia de posse do 38⁰ presidente da República dos Bananas, o golpista Michel Temer transmitiu a faixa verde-amarela ao neofascista vitorioso na farsa eleitoral de 2018, que a ajustou – com a sórdida soberba dos déspotas – sobre a bolsa colostômica. A propósito, não por mera coincidência, o indigesto adereço abdominal fora incorporado à indumentária oficial do “inominável” após o suposto atentado que teria lesionado exatamente seu intestino intelectual.
Em outros termos, não à toa a tal bolsa de Bolsonaro, expondo as fezes a fim de evitar infecções no local, sintomaticamente pusera à mostra o impróprio produto interno bruto cerebral presidencial. Para não parecer que escatológica é a paráfrase do provérbio, como se contra excrementos de fato houvesse argumentos, esta “coleta” de 9 de agosto de 2019 vai direto – curto e grosso – e reto aos “olfatos”. Na coletiva à saída do Palácio do Planalto, Bolsoasno foi confrontado com o veredito condenatório do agrotóxico agronegócio – sob a insuspeita severa sentença da revista científica “Nature” -, julgado como agente criminoso que desmata e mata incontinente, responsável – irresponsável impune – por um quarto do nefasto efeito estufa do inferno planetário.
Em resposta à pergunta sobre a eventual possibilidade de conciliar os – insaciáveis inconciliáveis – interesses econômicos com a sustentabilidade ecológica, a bolsa boçal abriu a boca colostômica, jogando cocô no microfone: “É lógico que sim [é possível crescer com preservação]. É só você deixar de comer menos um pouquinho. Quando se fala em poluição ambiental, é só você fazer cocô dia sim, dia não, que melhora bastante a nossa vida também, tá certo?”
O jornalista poderia ter replicado que, sendo essa proposta parte do projeto necropolítico governamental, Sua Excrescência realmente tem se esforçado muito não só para que o povo coma “menos um pouquinho”, mas sobretudo para que não coma nem um pouquinho. Não é “fake news” que o Brasil voltou ao Mapa da Fome: se é verdade que os números não mentem, entre 2018 e 2020, houve um expressivo aumento de 27,6% da fome no país. Numa população de 215 milhões de habitantes, 73 milhões comem mal, metade das crianças sofre insegurança alimentar, mais de 30% dos nordestinos passa fome e cerca de 14,5% das famílias vivem em situação de extrema pobreza.
Usando um termo chulo tão caro ao burro chucro, neste quadro caótico, é evidente que o “Produto Interno Bruto” só poderia estar mesmo uma “merda” (em sentido literal e entre aspas duplas): em 2020, vale destacar, registrou uma queda de 4,1% em relação ao ano anterior. Quanto ao gravíssimo problema do avassalador avanço do desmatamento em terras griladas, segundo dados do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, o (as)salto astronômico foi de 50% no triênio trágico do tanático desgoverno. Para se ter uma ideia do tamanho do buraco amazônico, entre 2014 e 2018, a média da merda foi de 112,8 mil hectares, pulando – em apenas 12 meses – para 215,6 mil, até abrir o clarão de 226,5 mil hectares em 2020.
Moral desta imoral história antiecológico-escatológica: o cocô não tem culpa (com o “peidão” do trocadilho) do buraco – reduplicado – ter virado este enorme rombo florestal. Ademais, se quem não tem terra, não tem emprego, não tem dinheiro e tem fome, se não come mal, não come; e se quem come menos faz menos cocô, e quem não come não faz cocô, porque para fazer cocô antes é preciso comer; logo, não tem mesmo – nem poderia ter jamais – qualquer cabimento culpar o cocô de quem come pouco, ou o “não cocô” de quem não come, pelo desastroso desequilíbrio ecológico. Na contramão do bom senso, contudo, a imunda boca bolsocolostômica sarcástica acusa o cocô do povo pela derrubada das árvores, culpando o “peidão” – trocadilho gasoso irrespirável – pelas queimadas: de “flato”, não poderia ser a “emissão de ventosidades pelo ânus” tupiniquim (segundo a definição de “peido” no “Aurélio” – “peidão” é aumentativo) – é obviamente tão ululante – a responsável pela colossal expulsão de 1,49 bilhão de toneladas de gás carbônico na atmosfera. Aliás, quem faz muito cocô – e muito dinheiro, é claro – várias vezes ao dia, é o grande negócio “agropecuniário”; o grotesco grileiro que faz da floresta pasto, pondo cabeça de gado no lugar de copa de árvore; o “neocoroné” que come como boi e caga como boiada – que nem come carne…
Por falar nisso, e sem perder o trocadilho bovino, vem à memória aquele indigesto vídeo da reunião ministerial de 22 de abril de 2019, que virou “carne de vaca” na imprensa, viralizando nas redes: foi justamente o ministro do Meio Ambiente, o facínora Ricardo Salles, quem descaradamente defendeu – com um machado numa mão, a motosserra na outra e o desmatamento na cabeça – que o governo aproveitasse oportunisticamente a preocupação da opinião pública com a tragédia pandêmica para “passar a boiada”, abrindo estratégicas brechas jurídicas com trator para institucionalizar a inescrupulosa – ecogenocida – lucrativa devassa florestal.
Indo direto – grosso – e reto ao ponto intestino da pútrida reunião minion-ministerial, o “flato” é que a imprensa computou impronunciáveis 37 termos de baixo calão: 6 saídos da cloaca do alto escalão; 31 excretados pela sórdida boca bolsocolostômica. Como se estivesse mesmo numa churrascaria com a equipe técnica do timeco de várzea federal, xingando bem alto o juiz e os bandeirinhas, o ex-capitão desbocado deu bandeira suja de indecência pública e notória, manchando a honra – da cúmplice golpista, desonrosa de/por/sem princípio – cartolagem institucional. Operação aritmérdica elementar, quem tiver estômago que refaça a conta: além de oito vezes “porra”, quatro vezes “putaria”, duas vezes “puta que o pariu”, duas vezes “filho da puta” e duas vezes “foder”, falou “bosta” sete vezes, disse “merda” cinco vezes e cuspiu “estrume” uma, esmurrando a mesa do boteco Brasil.
A propósito de tanto despropósito intestino, os impropérios coprofágicos saíram da bolsa desbocada exatamente no 519⁰ “ânus” da invasão da terra “em que se plantando tudo dá” – para encher o bolso e o bucho dos nababos, cantando o indecoroso hino, em uníssono suíno, sentados eternamente em vaso esplêndido. Aquele impudico “cocô”, contudo, só seria atirado no microfone três meses e pouco depois de ter jogado treze vezes “merda”, “bosta” e “estrume” no ventilador verde-amarelo. Diante da tremenda diarreia verbal de 22 de abril de 2019, pois, aquele “cocô” de 9 de agosto chega até a parecer mesmo coisa eufemística de criança, que aprendeu que é falta de educação – “é feio” – dizer que vai “cagar”. Não à toa o chargista Aroeira, censurado pelo capitão “bunda-suja” (sua alcunha jocosa dada pelos alto oficialato, depois de ir para a reserva na caserna com baixa patente), retratou-o de fraldão, com o título “Uma c*gada por dia”, corrigido pelo cagão-mor federal: “Uma? São várias, talquei? Ó! Lá vem outra!”.
Aliás, pensando no tal escatológico banquete patriotário nababesco da República dos Bananas, o jornal francês “Charlie Hebdo” flagrou a “fragrante” sobremesa sobre a toalha verde-amarela-azul-branca, servida despudoradamente sem “ordem e progresso”. O autêntico “dessert” do cardápio executivo neofascista, traduzido em francês como “Glace à Brésilienne” na faixa branca em lábaro celeste estrelado, foi/é o indigesto “sorvete brasileiro” bolsocolostômico de exportação. Para quem não viu a charge, enfim, o artista Nicolas Tabary mostrou o abjeto Jair defecando na bandeira o globo-bolo alimentar celeste sobre uma “casquinha”, como uma bola de sorvete de cocô. À esquerda do quadro, no balão branco, alertou a voz do coro do decoro “democrático-burguês” vermelho-azul-branco, condenando o público e notório atentado presidencial brutal ao pudor diplomático: “Ce n’est pas bien, Monsieur Bolsonaro, de faire caca sur tout le monde” (Não é bom, Sr. Bolsonaro, fazer cocô em todo mundo). No balão à direita (em fundo escuro, é claro), a “resbosta” indecente de Sua Excrescência: “Si! C’est bien!!! Car je fais caca un jour sur deux, pour préserver l’environnement et la planéte” (Sim! É bom!!! Porque faço cocô todos os dias, para preservar o meio ambiente e o planeta).
A culpa, contudo, não é do cocô, como contou cantando Hélio Ziskind na “História do Cocô” (da trilha da “Turma do Cocoricó”):
“Já tô acostumado/ Já tô acostumado a ser pisado/ Maltratado/ Ser jogado no esgoto/ Ser usado como xingamento/ Palavrão, coisa ruim/ (…) Ah coitado!/ Que coitado o quê?/ Ele é um cocô!/ Ô seu cocô, não fique chateado/ É mesmo/ O que há de errado?/ Vou contar a minha história/ Uma triste/ Triste história/ Me chamam de fedido/ Fedido!/ Nojento/ Nojento!/ Caca/ Caca!/ De tudo que é ruim/ Ninguém gosta de mim/ Mas eu não tô nem aí/ Eu sô cocô/ E eu nasci assim/ Já tô acostumado/ Cocô/ Cocô/ Olha o cocô!/ Já tô acostumado!/ Cocococô!/ Eu existo/ Porque vocês são bichos/ Que gostam de comer/ Milho é muito bom!/ Hum, chocolate!/ Hum, grama!/ E tanta comida serve pra quê?/ Pra gente ficar mais forte/ Mais bonito/ Mais crescido ó!/ Mais todo bicho que gosta de comer/ Depois do que ele come/ Lá dentro da barriga ele faz o quê?/ Cocô!/ Faz o cocô!/ Cocô!/ Ele faz o cocô/ Yeah/ Yeah/ Uuhh/ Ele faz o cocô/ Uôuô!/ Opa!/ Me dá uma licencinha?/ Cocô/ Cocô/ Hihihi/ Cocô/ Tá/ Mais agora posso limpar você daí?”
Se o problema fosse o cocô, seria mais fácil limpar. Mas o cocô foi sendo alimentado, foi crescendo, ficando mais forte, até virar esta merda bolsocolostômica com faixa presidencial. O “flato” infausto, enfim, é sempre a mesma cíclica história escatológica: sempre que a bolsa é pressionada, vaza bosta para todo lado. Como neste 21 de junho, em que Sua Excrescência chegou sem máscara em Guaratinguetá, agredindo misoginamente uma jornalista, mandando-a broncamente calar a boca e vociferando enfezado que “essa Globo é uma merda de imprensa”. Não dá mais para aguentar esse fedor horrendo “inominável”: já passou da hora de limpar essa cagada colossal no meio do caminho democrático! Xô, cocô! Fora, seu bosta! Se manda, seu merda! Chega de cagada!!!
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