Roberto Robaina, dirigente do MES (corrente interna do PSOL), escreveu um sucinto texto de polêmica com Valério Arcary. Robaina afirma que tem acordo com a necessidade de um governo de esquerda com um programa de esquerda, defendido por Arcary em artigo publicado no Brasil de Fato. O líder do MES disse também que está completamente de acordo com os pontos programáticos levantados por Valério. Assim, felizmente, temos uma significativa base política e programática de acordo inicial — o que deve ser saudado.
O desacordo, porém, começa quando a questão é o que fazer com essa política e programa. O PSOL deve se autoproclamar como única alternativa da esquerda (lançando candidatura própria desde já) ou deve propor, em base a um programa, uma aliança ampla da esquerda para derrotar Bolsonaro? Valério, expressando a política da Resistência (também corrente interna do PSOL), propõe que o partido defenda uma candidatura unificada da esquerda com um programa de esquerda, isto é, de reformas estruturais com elementos anticapitalistas. Arcary argumenta que o PSOL não se basta, que precisa, se quiser dialogar com os setores mais conscientes da classe trabalhadora e da juventude, ser um instrumento útil para derrotar Bolsonaro.
Robaina resolve a questão de modo aparentemente fácil. Como Lula e o PT não vão aderir a um programa anticapitalista, então seria semear ilusão e confusão propor uma frente de esquerda com um programa de esquerda. Mas as coisas são mais complexas que o silogismo argumentado por Robaina. Atrás de Lula, gostemos ou não, estão dezenas de milhões de trabalhadores e jovens que querem derrotar Bolsonaro, nutrindo, em maior ou menor grau, expectativas no líder petista. Basta ler as pesquisas de opinião ou ter trabalho de base entre os trabalhadores para saber disso. Há os que apoiam Lula, sem muitas ilusões, só porque consideram ele o candidato com mais chance de vencer o genocida. Mas há, no povo trabalhador, muitos que têm esperanças sinceras em Lula. A defesa de uma frente de esquerda com um programa de esquerda tem como objetivo justamente abrir um diálogo, desde um ponto de vista classista e socialista, com esses setores da classe trabalhadora e da juventude.
A autoproclamação do PSOL como a única e verdadeira alternativa de esquerda (por meio do lançamento de sua candidatura própria a presidente), como defende Robaina, deixando de lado, assim, a batalha pela unidade da esquerda contra a extrema direita, ao invés de contribuir para a luta contra o programa de colaboração de classes, vai somente reforçar a hegemonia reformista na esquerda, inclusive na base social do PSOL.
O PSOL pode e deve batalhar por uma frente de esquerda com um programa de esquerda contra Bolsonaro e também em contraposição às alternativas de direita e do “centro”. Assim será visto por uma ampla parcela dos trabalhadores e da juventude com um instrumento político útil e necessário. Após fazer a luta pela linha da frente de esquerda, no início do ano que vem, considerando as condições concretas do cenário político, o partido poderá optar, taticamente, pela coligação com o PT no 1o turno ou pelo lançamento de uma candidatura própria, mantendo nas duas hipóteses a defesa do seu programa e resguardando sua liberdade de crítica.
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