Por Gleide Davis, Colunista do Esquerda Online
Por vezes tenho tentado falar sobre o assunto, porém, tenho receio do que as pessoas irão pensar quando descobrirem que a ansiedade não é um estado de espírito, mas uma doença mental.
Falar sobre ansiedade enquanto doença em uma sociedade que cobra de nós cada vez mais habilidades em nos sobressairmos em relação a outras pessoas, ter habilidade de ser inteligente, práticos, saudáveis e atraentes para a vida social, mercado de trabalho e relacionamentos; é praticamente pedir para sofrer mais uma opressão na cartilha do capitalismo.
Ser negro, mulher, LGBT, deficiente, gordo, etc, é naturalmente “nascer para” ganhar menos mesmo estudando tanto quanto ou mais que outra pessoa que possui uma raça, gênero e sexualidade diferente da sua.
Ser uma mulher negra e periférica me fez entender ao longo da vida que nós negros e pobres não podemos reivindicar determinados sofrimentos, porque a nossa vida já os possui demais, e pedir ajuda é o mesmo que pedir arrego. Negros e pobres não podem adoecer, pois este é um privilégio de pessoas que podem pagar para ter uma saúde decente, e isso nós nunca tivemos.
A falta de emprego, de moradia, de saúde, a falta de amor tem nos adoecido e nossas doenças mentais são como monstros embaixo de nossas camas que não podemos combater porque não possuímos meios eficientes para tal, porque o estado burguês não os dispõe, porque a sociedade exige que pessoas negras sejam fortes para suportar as piores mazelas que esta tem a oferecer, para a sociedade uma pessoa negra frágil é completamente descontextualizada de sua raça. Somos indivíduos obrigados desde a infância a aceitar que as piores coisas recairão sobre nossas costas e o que nos resta é apenas aceitar.
Eu tenho escondido, porque não quero parecer uma fragilizada inútil, mas não posso mais negar: eu tenho o direito de chorar. Todas as vezes que fugi de uma reunião de militância ou fugi de boas oportunidades de trabalho, terminei relacionamentos, me tranquei e me escondi embaixo dos lençóis até aquele monstro que estava vindo me pegar com uma péssima noticia que fazia meu rosto formigar e a minha respiração faltar sumisse da minha cabeça, sozinho, como se eu não pudesse gritar por ajuda, eu não estava mentindo, eu estava gritando por socorro, porque eu estou doente.
Ser uma mulher negra é historicamente levar nas costas as marcas de abusos, de baixa auto estima, de solidão e de ostracismo social, por isso somos tão fortes, porque nunca tivemos ninguém por nós. E nessa nossa força fomos nos sufocando e adoecendo; porque os relacionamentos nos deixam solitárias, porque os empregos nos são negados, porque a universidade nos odeia, porque a sociedade quer que a gente suma. E vamos suportando, porque somos fortes, precisamos ser.
Aceitar que pessoas negras podem ser frágeis, que adoecem, gritam por ajuda, sucumbem as suas dores mentais, é reconhecer que nunca fomos aqueles animais que tentaram nos fazer, sempre fomos gente, sempre choramos, sempre sentimos dor. Porque também adoecemos.
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