Março de 2021 marca um ano de suspensão das aulas presenciais e a adoção do ensino remoto no país por conta da crise sanitária decretada, em fevereiro de 2020, pelo governo federal.
Passado esse período, a pandemia continua assolando nosso país, e diversas avaliações e pesquisas sobre essa forma de ensinar foram feitas. Temos análises que vão desde a verificação sobre a sua qualidade, até as desigualdades sociais que foram constatadas/confirmadas a partir da sua adoção.
Aqui, a reflexão tem como foco a saúde mental das trabalhadoras da educação, grupo de trabalhadoras que teve a responsabilidade de operacionalizar e garantir a continuidade das aulas não presenciais. Importante ressaltar que a afirmação de que coube às trabalhadoras da educação tal responsabilidade tem fundamento em dados oficiais do Censo Escolar de 2020 divulgado pelo INEP: as professoras são 79,4% do corpo docente na educação básica, ou seja, a cada 10 docentes, 8 são mulheres.
Feita a constatação da “feminização do magistério“ e da dimensão da tarefa que recaiu sobre as mulheres trabalhadoras da educação e sua saúde mental neste contexto da pandemia, a questão do ensino remoto e a saúde mental, neste Dia Internacional da Mulher Trabalhadora, merece destaque, pois, neste 08 de março de 2021, o eixo da luta é o direito à vida das mulheres.
“Ansiosos, sobrecarregados, cansados, estressados e frustrados, assim se sentem a maior parte dos professores diante da realidade das aulas remotas”. Essa foi a conclusão da pesquisa “Sentimentos e percepção dos professores brasileiros nos diferentes estágios do Coronavírus no Brasil”, do Instituto Península, realizada em agosto de 2020. Esse quadro se assevera quando pesquisas feitas com os profissionais da educação mostram que, associada à síndrome de Burnout (uma característica muito presente no professorado), a mudança repentina causada pela adoção do ensino remoto durante a pandemia não possibilitou treinamento e, muito menos, condições estruturais para professores e estudantes, principalmente, para os da rede pública de ensino.
Indo ao encontro dessa angustiante situação, a pesquisa da organização Nova Escola intitulada “A situação dos professores no Brasil durante a pandemia”, aponta que 28% dos professores avaliou sua saúde mental emocional como péssima ou ruim e 30% como razoável. Apenas 8% dos educadores afirmam que se sentem ótimos (questionário online/Maio20). As ameaças de redução de salário e não garantia de carga horária se somam aos problemas advindos do trabalho remoto vivenciados pelas profissionais da educação, o que só aumenta o seu sofrimento psíquico.
A pandemia está mostrando os graves problemas que enfrentam as professoras e professores, sejam da rede pública ou particular, nos aspectos referentes às condições de trabalho e a não valorização da profissão, mas, sendo a educação um campo historicamente ocupado pelo gênero feminino, os problemas de saúde mental, agravados na pandemia com o trabalho remoto, somam-se aos outros problemas enfrentados, especificamente, pelas mulheres neste momento pandêmico. A pesquisa “Sem parar: O trabalho e a vida das mulheres na pandemia” realizada pela ONG ”Gênero e número” e pela Organização feminista “Sempreviva” concluiu que entre as 2.641 mulheres entrevistadas, 47% afirmam ser responsáveis pelo cuidado de outras pessoas. Além disso, a violência de gênero também se agravou. As denúncias no disque-denúncia aumentaram 14% no primeiro quadrimestre de 2020. Esse quadro dá uma mostra de o quanto o impacto da pandemia e do isolamento social é maior sobre as mulheres, sem falar na preocupação subjetiva em relação à pandemia em si e aquelas que sofreram perdas entre os seus neste período.
Vemos, portanto, que a situação tão difícil enfrentada na educação brasileira como um todo, se torna duas vezes mais difícil às mulheres que nela atuam, sendo assim, os problemas de saúde advindos do trabalho remoto devem ser analisados, sobretudo, a partir da abordagem de gênero. Desconsiderar esse elemento crucial, não reconhecendo que é maior a sobrecarga e o acúmulo de função sobre as trabalhadoras da educação, fortalece o machismo estrutural.
Para além desse espectro essencial de análise, necessitamos, para poder sobreviver à pandemia, de que haja urgentemente um lockdown em todo o país para salvar vidas, o retorno urgente do auxílio emergencial, vacinação para todes, via SUS, retorno das aulas presenciais somente com prévia vacinação da população e, principalmente, Fora Bolsonaro!
*Educadora e militante do coletivo Educação e Resistência, do Pará.
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