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MUNDO

Invasão do Capitólio: último gesto desesperado de Trump!?

Gê Souza, do Rio de Janeiro, RJ

Enquanto escrevo este artigo, o Capitólio, sede do Congresso americano está cercado por milhares de apoiadores de Trump, num gesto desesperado para tentar impedir a certificação de Joe Biden como o novo presidente americano.

No dia de hoje, 06, a Câmara de Representantes e o Senado americano estavam realizando uma sessão conjunta para certificar a vitória de Joe Biden, última etapa das eleições presidenciais americanas, antes da posse de Biden, em 20 de janeiro, quando a sessão foi paralisada e os congressistas retirados do plenário. 

Este cerco ao Congresso americano é uma cena inédita na sucessão presidencial americana, mas é uma consequência natural após os assombrosos questionamentos de Trump diante da derrota eleitoral, que ele jamais aceitou, e cujo último gesto já foi anunciado: ele não irá comparecer a posse de Biden, para fazer a transmissão do cargo.

Antes mesmo da eleição presidencial de novembro, Trump já tinha declarado que o único resultado que aceitaria seria a sua vitória. Desde então, tem dedicado o resto de seu mandato para contestar a vitória de Biden, usando para isso meios legais e ilegais.

Para tentar vencer no “tapetão”, Trump exigiu a recontagem de votos em vários estados onde Biden venceu e fez inúmeros questionamentos judiciais que questionaram a contagem de votos, e foi derrotado nas cortes estaduais e na Suprema corte. Finda as batalhas judiciais, Trump e seus apoiadores tentaram pressionar as autoridades eleitorais estaduais, culminando nesta semana com a “sugestão” escandalosa de que o Secretário de Estado da Geórgia – Brad Raffensperger, “achasse” 11.780 votos a seu favor (ele perdeu para Biden por uma diferença de 11.779 votos no local). Quando essa manobra fracassou, Trump começou a fazer exigências a Mike Pence, seu Vice-Presidente, para rejeitar os votos eleitorais democratas e não proclamar Biden vencedor. De acordo com a legislação americana o vice-presidente tem essa prerrogativa na certificação do Congresso.

Pence recusou a manobra e Trump o atacou pelo Twitter dizendo que Pence se “acovardou”. 

Mike Pence didn’t have the courage to do what should have been done to protect our Country and our Constitution, giving States a chance to certify a corrected set of facts, not the fraudulent or inaccurate ones which they were asked to previously certify. USA demands the truth!

— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) January 6, 2021

“Mike Pence não teve a coragem de fazer o que teria de ser feito para proteger nosso país e nossa Constituição, dando aos Estados uma chance de certificar um conjunto correto de fatos, não os fraudulentos ou imprecisos resultados que foram solicitados a certificar previamente. Os EUA exigem a verdade!”

Neste momento o Congresso segue ocupado, com notícias de tiros em seu interior (ainda não confirmado), pessoas feridas já foram retiradas da manifestação e a Prefeita de Washington já decretou toque de recolher a partir das 18h (20h de Brasília). Também foi encontrada uma bomba na sede do Partido Republicano, mas foi desarmada antes de explodir.

Os setores democratas e republicanos falam em “golpe” e “tentativa de desestabilizar a democracia americana”, enquanto as forças policiais se preparam para retirar os manifestantes. No Twitter Trump “pede que os manifestantes ajam de forma pacífica e respeitem as Forças policiais”, enquanto vários setores condenam o Presidente por não pedir aos manifestantes que saiam do Congresso, inclusive Mike Pence.

Dificilmente esta tentativa de ocupação do Congresso americano se transformará em golpe de estado. Para isso seria necessário que as principais classes – a burguesia ou o proletariado estivessem dispostas a isso, o que não é o caso dos EUA. Aliás, não há necessidade de golpe para derrubar Trump. Ele já foi derrotado pelo voto popular e Biden tomará posse em 20/1. No entanto, esta força demonstrada por Trump, a ponto de conseguir que milhares de seguidores invadam o Congresso americano, para tentar impedir a posse de Biden, traz um questionamento a força da democracia americana, e, sobretudo mostra a resiliência dos setores neofascistas e supremacistas brancos americanos, que arquitetaram esta espetacular e desesperada tentativa de reverter o resultado eleitoral americano, contando pra isso com a conivência e o apoio de Trump.

Outro fato espantoso foi a conivência das forças de segurança do Capitólio que pouco ou nada fizeram para impedir a invasão. A reação seria outra se fossem manifestantes da classe trabalhadora ou do movimento Black Lives Matter, como ficou claro nos atos recentes contra os assassinatos de mulheres e homens negros.

Democratas vencem na Geórgia

No dia de hoje, ocorreu a apuração da eleição em segundo turno na Geórgia, das duas vagas para o Senado americano daquele Estado, conquistadas por candidatos democratas, entre eles Raphael Warnock, o primeiro senador negro da Geórgia.

Os democratas já têm maioria na Câmara dos Representantes e, se levarem também o Senado, abrirão caminho para Biden aprovar leis e projetos no Congresso sem a resistência dos senadores republicanos, que atualmente têm maioria na Casa, porque cada partido vai ter metade dos representantes no Senado, e neste caso a Presidência decide as votações. Kamala Harris, por ser a vice-presidente, irá presidir o Senado e, portanto dará o controle ao Partido Democrata.

Trump foi derrotado mas não pretende desaparecer

Todo esse comportamento de Trump, que tantos protestos e indignação causam no mundo, inclusive na maioria dos setores burgueses e também no Partido Republicano, tem como objetivo manter sua base de apoio (dentro e fora dos EUA), que lhe garantiu mais de 70 milhões de votos nas últimas eleições, mas também o interesse de controlar o Partido Republicano, um dos maiores do mundo. Trump sabe que não poderá impedir a posse de Biden. Mas, para manter seu poder e influência fará qualquer coisa, inclusive apoiar a invasão do Congresso americano. Não podemos esperar de Trump nenhum vestígio de respeito à democracia, como ficou demonstrado em seus quatro anos de governo.

O futuro governo Biden deve identificar e punir os responsáveis pela invasão do Capitólio, a começar por Donald Trump, que nada fez para impedir ou repudiar esta ação dos neofascistas americanos. Nenhuma liberdade aos inimigos da liberdade!

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