EDITORIAL 20 DE NOVEMBRO | A especificidade da formação social brasileira na questão da dominação racial fez surgir uma expressão com forte cunho ideológico de existência de uma suposta “democracia racial” no Brasil.
O principal expoente na elaboração da democracia racial foi Gilberto Freyre com seu livro Casa Grande e Senzala, que se tornou um clássico da sociologia no Brasil e que, ao comparar a escravidão no Brasil com países como os EUA, afirmava “Híbrida desde o início, a sociedade brasileira é de todas da América a que se construiu mais harmoniosamente quanto às relações raciais”.
A tese era de que a escravidão no Brasil era composta de senhores maleáveis e escravos conformados. Em perspectiva, no Brasil, segundo Freyre, teria ocorrido uma miscigenação entre negros e brancos que levou a uma harmonia e tolerância racial, ou seja, a construção de uma sociedade com ausência de preconceito e discriminação raciais.
A história dos dez milhões de africanos que foram sequestrados e trazidos para o Brasil como escravos indica exatamente o contrário. Desde o início, houve resistência na forma de rebeliões. Inúmeros foram os quilombos, insurreições e guerrilhas organizados por negros e negras em resistência à escravidão.
O mito da democracia racial está a serviço de demonstrar que a exclusão do negro de direitos e sua inserção subordinada na sociedade brasileira não está na forma como foi estruturado o capitalismo no Brasil. O determinante seria sua inferioridade racial. O mito da democracia racial está a serviço de perpetuar o racismo na sociedade brasileira através da meritocracia, afinal, para esta ideologia todos têm as mesmas oportunidades e os eventuais fracassos se devem a maus resultados individuais.
Abaixo, vamos listar alguns dados que comprovam que o Brasil longe de ser o país da democracia racial é o país da exclusão social e do racismo em relação aos negros e negras:
1. Genocídio da juventude negra. 30 mil jovens de 15 a 29 anos são assassinados por ano no Brasil, sendo cerca de 77% negros.
2. O atlas racial brasileiro demonstra que os negros e negras representam 65% dos pobres brasileiros, metade da população negra no Brasil.
3. Dados de 2015 da Pesquisa Mensal de Emprego indicam que os trabalhadores negros recebem, em média, 59,2 % do rendimento dos brancos. Essa diferença aumenta se compararmos a situação apenas das mulheres negras.
Por isso, neste dia 20 é mais necessário do que nunca olhar a realidade brasileira através dos dados que demonstram que estamos frente a um estado racista que desde os mecanismos de repressão até os bancos escolares diferencia e exclui mais da metade da população brasileira do direito a uma vida digna. Somente ao enxergar esta realidade é que poderemos fazer uma luta consequente e sem trégua pela igualdade racial, que só pode ser compreendida com o fim deste sistema que cada vez mais necessita de prática racistas para mais explorar.
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