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EDITORIAL

Apoiar as mobilizações contra o ajuste e combater a ultra direita

EDITORIAL 17 DE NOVEMBRO – O PMDB governa o Estado do Rio de Janeiro há mais de uma década. O partido de Temer, Cabral e Pezão levou as contas públicas do estado a uma profunda crise fiscal. Fez parte desta aliança durante a maior parte do tempo o PT e o PcdoB.

Em tempos de crise, a proposta do Governo Estadual do Rio é de que os trabalhadores paguem a conta. Ao todo são 21 projetos de lei: corte de gastos, extinção de programas sociais, aumento dos impostos e elevação na contribuição previdenciária dos servidores. Pezão foi ousado, fez um ataque frontal e direto: confisco de 30% do salários.

A reação foi grande, um protesto de milhares de servidores chegou a ocupar a Alerj na última terça feira, dia 8. A contradição é evidente, um setor minoritário, mas expressivo aponta uma saída de ultra direita para o país: defendem Bolsonaro e pedem intervenção militar. As lideranças de direita tentaram fazer com que o movimento se dividisse, retirando apenas a segurança pública do pacote. Assim, queriam dividir a resistência. Perderam. A assembleia aprovou lutar contra todo o pacote.

No dia 16, data prevista para a votação do Pacote na Alerj, Pezão recuou do confisco dos salários. Manteve, no entanto, o pacote de ataques. Mas, o fato é que os protestos e a instabilidade da sua própria base de apoio na Alerj colocou o governo do Rio na defensiva.

O protesto de 16 de novembro
O MUSPE, Movimento Unificado dos Servidores Públicos do Rio de Janeiro organizou o protesto da última quarta-feira. No carro de som estava o Sepe, Sindicato dos Profissionais da Educação, o Sindpefaetec, Sindicato dos Servidores das Escolas Técnicas do Rio, o SindsPrev Rio e o SindJustiça Rio. As entidades, associações e sindicatos dos bombeiros, da Polícia Militar e demais agentes de segurança também estavam. O protesto da última quarta-feira foi unificado, porque a proposta feita por lideranças de direita que tentaram “separar” a segurança pública foi derrotada.

Foram mais de 30 mil nas ruas e as contradições vieram à tona novamente. Mais uma vez surgiram as faixas pró intervenção militar e os gritos de apoio a Bolsonaro. Eram minoritários, mas existiam. Causavam horror em uma parcela dos manifestantes, mas não o suficientes para que fossem retirados.

Não temos dúvida quanto ao caráter do ato que ocorreu no Rio de Janeiro ontem, foi progressivo. Mas devemos organizar desde já uma campanha contra a extrema direita. Não defendemos a liberdade de dizer: “Intervenção militar já”. Não defendemos o direito de organização de grupos fascistas.

A repressão, feita pela Tropa de Choque da PM, foi como sempre, brutal. Os professores, trabalhadores da educação e servidores da saúde já conhecem esta atitude típica das forças de repressão. A novidade foi que, desta vez, entre os manifestantes estavam os setores da segurança pública que também estão sendo atacados pelo ajuste do PMDB. Alguns policiais se recusaram a reprimir a mobilização. Assim abre-se nesta contradição uma brecha para questionar dentro das próprias forças repressoras o caráter militar da PM e a violência contra manifestações legítimas.

A extrema direita
As ideias de extrema direita tem ganhado peso, e não apenas entre os militares, PMs e bombeiros. Carlos Bolsonaro foi o vereador mais votado do Rio de Janeiro. Jair Bolsonaro tem 8% das intenções de voto. O MBL, um grupo de direita liberal organiza grupos de desocupação de escolas. O poder judiciário e suas medidas bonapartistas ganham prestígio. É neste perigoso contexto que um grupo invadiu o Plenário da Câmara no dia de ontem pedindo: “intervenção militar”.

É urgente uma ampla unidade da esquerda para derrotar a ultra direita. Mas também será preciso ter política, apresentar uma saída programática para a crise fiscal. É preciso construir um bloco de esquerda que tenha coragem de atacar os privilégios dos empresários e banqueiros e, também, que tenha legitimidade para denunciar as espúrias ligações entre os empresários e o poder público que são a fonte da corrupção.

Não será efetivo para combater a influência da extrema direita ‘separar os protestos’ e deixar de fora os setores da segurança pública que estão neste momento em luta contra o ajuste do governador do Rio. Não por acaso, era exatamente esta a proposta dos líderes da direita.

Sem dúvida, é preciso apresentar um programa, que inclua a desmilitarização da polícia e o direito de organização.Estas medidas não têm nada a ver com defender as forças armadas. Ao contrário, vai contra os seus interesses estratégicos, facilita sua divisão, enfraquece o inimigo.

Entretanto, também é inútil subestimar a necessária batalha política e ideológica que deve ser dada. Não se pode ser consequente nesta batalha apoiando a Lava Jato. A enorme popularidade da operação só tem fortalecido o bonapartismo e o crescimento de saídas reacionárias para a crise brasileira.