A pré-candidata do PSOL para a Prefeitura de Goiânia, capital de Goiás, se chama Hemanuelle Jacob. Uma mulher, negra, periférica, mãe solo e professora há 15 anos na rede pública estadual. Tem como desafio ocupar um espaço na política que historicamente é destinado a homens brancos e ricos. Conhecida também como Manu Jacob, propõe-se a enfrentar uma dura batalha contra o conservadorismo e o bolsonarismo na sua cidade pois tanto o atual prefeito, Iris Rezende (MDB), quanto o governador do Estado de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), fazem parte da base aliada do atual presidente, sendo que ambos representam o que há de mais arcaico e retrógrado na política brasileira.
Não basta ser mulher, é preciso um programa que dispute o sentido de cidade que queremos. O direito à cidade é o direito da comunidade LGBTI ocupar os espaços públicos sem medo de violência. Que mulheres não sejam violentadas constantemente nos transportes públicos e possam circular pela cidade sem medo. Que a juventude negra possa estar viva. Um programa que coloque a vida acima dos lucros e para isso preciso políticas em que envolvam as demandas e necessidades da população que luta pela sobrevivência.
As políticas públicas precisam ter seus recortes de raça, classe e gênero. Por exemplo a questão da habitação: deve-se ver que é a população negra é quem está na base da estatísticas do déficit habitacional, que existe uma desigualdade de gênero nas titularidades dos terrenos e como a comunidade LGBT sofre com a expulsão de suas casas, famílias e na dificuldade de locação das transsexuais e travestis para moradia. Goiânia é uma cidade espraiada e com uma política habitacional que coloca negros e negras, pobres longe do centro da cidade.
Com praticamente o fim do Minha Casa Minha Vida e sem uma política nacional de habitação, é preciso que o município traga para si essa responsabilidade. A exemplo do que foi a gestão de Erundina para a capital de São Paulo em investir em mutirões auto gestionários com assistência técnica.
Manu Jacob mora no Jardim do Cerrado VII, Região Oeste de Goiânia a 01h30 do Centro se pegar o transporte público no horário. Ser mulher preta e periférica é o lugar de luta desta pré-candidatura. Disputar a prefeitura de Goiânia é colocar a periferia como centro. É privilegiar aqueles que nunca foram privilegiados e inverter o valor da gestão municipal, reivindicando o direito à cidade para luta anticapitalista.
Toda política pública precisa ter sua perspectiva interseccional, pensando o direito de acesso à cultura, moradia, transporte público, educação, saúde nas suas diferenças e garantir a todos os direitos humanos fundamentais. É acima de tudo fazer uma política que humanize esses espaços burocratizados com seus “tecnocratas”. Uma gestão participativa que extrapole os limites da democracia liberal.
Colocar a vida acima dos lucros é dizer que é preciso enfrentar a especulação imobiliária, as empreiteiras que historicamente financiaram os políticos. É enfrentar a máfia do transporte e discutir a mobilidade humana, como direito fundamental e não mercadoria. Nesse período de pandemia vimos como o saneamento básico, moradia e saúde são direitos inegociáveis, porém constantemente atacados.
Uma pré-candidatura socialista só tem sentido se for para dividir o poder, radicalizar a democracia, socializar a riqueza e trazer a população para discutir e solucionar os problemas de nossa crise urbana. Mais que uma gestão dos recursos e destinação para políticas públicas é preciso um projeto de cidade que busque empoderar e emancipar o cidadão com conselhos populares de bairro, que tenha como objetivo não somente a consulta, mas que seja deliberativo e que organize a luta anticapitalista.
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