Gabinete do ódio segue trabalhando

Direita Volver

Coluna mensal que acompanha os passos da Nova Direita e a disputa de narrativas na Internet. Por Ademar Lourenço.

No dia 21 de julho, às 18h30, as Hashtags #STFVergonhaNacional e #FamiliasContraFelipeNeto estavam nos dois primeiros lugares nos Trending Topics do Twitter. Hashtag é um assunto marcado com o sinal # para que as mensagens sobre o tema sejam buscadas. E Trending Topics é lista de assuntos mais comentados da rede social.

A primeira Hashtag era um ataque ao Supremo Tribunal Federal típico dos militantes bolsonaristas, que querem que o Presidente governe sem precisar obedecer as leis. E a segunda atacava o influenciador digital oposicionista Felipe Neto usando mentiras, como uma suposta associação dele com a pedofilia. Outra Hashtag mobilizada por esta militância no mesmo dia era #fundebNAO. Isso mesmo. Para eles, dar mais verbas para a educação por meio do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) é ruim, pois iria aumentar a “doutrinação comunista nas escolas”.

A vida não está fácil para o chamado “gabinete do ódio”, grupo de militantes bolsonaristas que promovem ataques e espalham notícias falsas na internet. Perfis falsos foram removidos e alguns dos operadores do dito gabinete foram alvos de operações da Polícia Federal.  Mas a rede de milícias digitais a serviço do Presidente é muito grande e, mesmo com seu comando desarticulado, é capaz de agir. Segundo a deputada Joyce Hasselman, que já foi bolsonarista mas agora é de oposição, os grupos de ódio em favor do governo têm um público de 8 milhões de pessoas.

Nenhuma das ações contra as milícias digitais até hoje chegou a quem financia os grupos. Em 2018, a Folha de São Paulo apurou o pagamento de R$ 12 milhões para disparos em massa no Whatsapp durante a campanha para a Presidência da República. Mas nenhum empresário foi investigado. Como sempre, os ricos ficam impunes. Ao que tudo indica, a justiça a serviço das elites quer enfraquecer o bolsonarismo não para derrota-lo, mas para obrigar o governo a negociar com a burguesia.

Não podemos negar que muitas pessoas militam em defesa do atual presidente de graça e sem orientação de nenhum comando. Fanáticos religiosos, monarquistas, fascistas declarados e todo tipo de gente doente está disposta a isto. Nos atos em defesa de Bolsonaro, os influenciadores digitais sobem no carro de som para divulgar seus pequenos canais no Youtube ou perfis no Twitter.

Mas as investigações apontam que existe sim uma articulação desta militância diretamente com Bolsonaro. Um dos operadores da rede de Fake News trabalhava no gabinete do Presidente, segundo o Facebook. Desde 2018, milhares de grupos foram formados no Whatsapp e eles continuam ativos. Tudo indica que eles são coordenador a partir de um grupo menor, que é quem manda as notícias falsas para que serem disseminadas.

Bolsonaro não recuou, só mudou de tática, temporariamente

Nos últimos dias, o Presidente parece ter atenuado o discurso. Alguns pensam que ele foi “domesticado” e aceitou o jogo democrático. A direita tradicional começa a negociar com o governo uma agenda de medidas a serviço dos grandes empresários. Um exemplo foi a privatização do saneamento.

Bolsonaro usou a mesma tática do ano passado, após mais de um milhão de estudantes irem às ruas contra o governo. Ele fingiu mais moderação, mas por baixo dos panos os grupos de ódio na internet continuaram os ataques e a distribuição de notícias falsas.

É uma divisão de tarefas. O chefe se protege, enquanto os subordinados fazem o jogo sujo. Se a situação melhorar para eles, o Presidente segue em sua tentativa de acabar com a democracia. Como foi no início deste ano. Com a popularidade do governo um pouco melhor, o bolsonarismo foi para o ataque. Instigou motins entre policiais militares, o que poderia gerar caos no país e justificar medidas autoritárias.

Não podemos baixar a guarda. A cada dia que este grupo estiver no governo, é um dia que a democracia corre o risco. A história já ensinou que fascistas nunca recuam a longo prazo e nunca cumprem acordos. Moderar a intensidade de nosso ataque é dar forças ao inimigo.