Nesta segunda-feira, dia 01/06, teve início a eleição para a diretoria do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região. A votação, feita de forma virtual, acontecerá em meio à pandemia do novo coronavírus, que já matou quase 30.00 pessoas no Brasil.
O estado de São Paulo vive uma quarentena desde o dia 24 de março, com os bancos funcionando de forma contingenciada. A FENABAN afirma que cerca de 80% das áreas administrativas e 40% dos que atuam em agências estão home office. Segundo os números dos bancos, mais de 230.000 trabalhadores e trabalhadoras estão trabalhando em casa.
Uma eleição anti-democrática
Nesta situação, manter a eleição é uma atitude irresponsável e antidemocrática da atual diretoria da entidade, por diversos motivos. Os bancários estão preocupados com a saúde, a vida e os empregos, seus e de seus familiares, portanto, sem condições para refletir e debater o futuro de sua entidade, coisa que deve ser feita em uma eleição de diretoria.
Além disso a atual situação impede que setores que atuam na oposição à atual diretoria tenham condições de construir uma chapa, processo que pressupõe visitar unidades, conversar com os bancários, reunir-se para discutir propostas, etc. Ainda que houvesse a possibilidade de se construir uma chapa, não haveria a mínima condição para realizar a campanha, que também pressupõe reuniões nas unidades, distribuições de panfletos nas concentrações e agências. Mesmo com uma chapa única, para que a eleição seja democrática, seria necessário que esta chapa visitasse as unidades para explicar suas propostas aos bancários, coisa que evidentemente não foi feita.
Por último o processo virtual não tem o mínimo de transparência e segurança: para votar, o bancário entra no site do sindicato, informa sua matrícula sindical e CPF e vota. Caso não tenha o número da matrícula sindical, é possível votar apenas com o CPF e a comissão eleitoral ficaria, neste caso, responsável por averiguar se o voto do bancário é ou não válido. Que segurança oferece este tipo de processo?
O sindicato se afasta ainda mais da categoria
Os sindicatos têm se afastado cada vez mais em relação a suas bases. Segundo pesquisa feita pelo Ibope em agosto de 2019, somente 45% das pessoas confiam nos sindicatos, sendo uma das instituições com menor nível de confiança. O número de filiados tem caído no último período. Segundo o IBGE, somente 12,5% dos trabalhadores brasileiros são associados: o menor percentual nos últimos 7 anos. Na categoria bancaria, a situação é a mesma, com afastamento cada vez maior da base e queda no números de filiados.
A situação é delicada e torna-se muito mais grave porque o governo Bolsonaro tem atacado a organização sindical e os direitos dos trabalhadores de forma constante. Frente a essa situação, a política da direção deveria ser de escutar a base e reforçar os fóruns democráticos da categoria. A única forma de enfrentar o quadro atual é reforçar a legitimidade dos sindicatos. Infelizmente, atitudes como a manutenção da eleição em meio à pandemia vão no sentido oposto.
A direção está preocupada em defender a si própria, e não aos bancários
A direção do sindicato dos bancários de São Paulo demonstra estar preocupada em defender seus privilégios, não os direitos da categoria. Foi assim na última convenção coletiva, onde literalmente as ações judiciais de sétima e oitava horas foram vendidas para os banqueiros. Depois, o aditivo negociado em dezembro de 2019, com a desculpa que iria garantir a jornada de seis horas, reafirmou a entrega desse passivo bilionário para os banqueiros.
Agora, a emenda feita à Medida provisória 936/2020 acaba com a jornada de seis horas para uma parte importante da categoria bancaria. Partidos que votaram a favor desta emenda na câmara dos deputados alegaram ter sido orientados desta forma pela CONTRAF/CUT! Todos estes fatos se explicam pelas acordos da CONTRAF/CUT para manter as liberações dos dirigentes sindicais previstas na convenção coletiva, que os banqueiros ameaçam retirar.
A realização das eleições do sindicato nessas condições reafirma a postura de não se preocupar com a categoria e também de não se preocupar com a legitimidade da nossa entidade. Por estes motivos, nós, da Resistência/PSOL, não participaremos desse processo eleitoral, assim como os demais setores da oposição bancária.
Acreditamos que o momento político deveria impulsionar uma ampla unidade da categoria em defesa dos direitos e das suas entidades sindicais e que isso deveria se refletir na eleição, mas a postura da direção do sindicato tornou impossível esta unidade, bem como qualquer tipo de participação nossa neste processo. Lamentamos a postura desta direção e reafirmamos nosso compromisso com a categoria bancária e suas lutas.
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