Crescimento das mortes no Brasil segue em ritmo acelerado

Gilberto Calil

O quadro reúne os dados dos 15 países com maior número de mortes registradas. O cálculo do ritmo de expansão é feito pelo número de mortos, já que o patamar de subnotificação dos casos no Brasil torna precária a comparação da evolução do número total de casos. Entendemos que o cálculo do ritmo de crescimento é mais revelador do que os números absolutos, tendo em vista que a expansão do Covid-19 se iniciou em momentos diferentes, o que é indicado na última coluna.

O ritmo de crescimento mundial vem diminuindo de forma consistente. Há duas semanas era de 86% e agora é de 41%, uma redução muito significativa e que comprova os efeitos positivos das medidas de contenção através de política de isolamento social adotadas de forma rigorosa em muitos países.

No entanto o Brasil segue em direção oposta, mantendo acelerado ritmo de crescimento do número de mortes, associado à rápida expansão de novos casos. Brasil e México, embora em patamares absolutos distintos, mantém-se com um ritmo de crescimento duas vezes superior à média mundial em 14 dias, tendo crescido respectivamente 2.73x e 2.77x, seguidos por Canadá (1.98x e Estados Unidos 1.51x). Os Estados Unidos, mesmo diminuindo lentamente o ritmo de expansão, segue com o maior número de mortes diárias. Todos os demais países tiveram um crescimento do número de mortes abaixo de 50% no período de 14 dias, acompanhado de maior diminuição da expansão de novos casos, o que tende a expressar uma tendência de efetiva diminuição de casos ativos. Brasil e México são, também, disparadamente os dois países com menor número de testes. O número de testes por milhão de habitantes que Brasil (1.597) e México (820) realizaram até o momento é inferior ao que vários outros países realizaram apenas nos últimos dois dias. Na relação entre testes realizados e resultados positivos, o Brasil tem números ainda pior (2.3 testes por resultado positivo, frente a 3.7 do México).  O Irã tem mais de quatro vezes mais testes por milhão de habitantes (6.854) que o Brasil e os demais países oscilam entre 14.570 e 44.456 testes por milhão.

O crescimento do ritmo do número de mortes no Brasil contraria a tendência internacional e indica um enorme agravamento da situação. Ultrapassando as 10.000 mortes, o país teria que estar com taxas muito mais baixas de novos casos para ter a expectativa de começar a reduzir o ritmo de crescimento das mortes em quinze dias. Mas para isto seriam necessárias políticas efetivas de isolamento social, adotadas por todos os países antes de chegarem neste estágio. No isolamento social continua sendo relaxado e sabotado pelas autoridades federais, produzindo a conjunção trágica entre altas taxas de crescimento das mortes e dos novos casos, em um cenário de subnotificação generalizada. No país, o número de mortes e o número de casos dobraram em 11 dias, enquanto no mundo levaram 24 dias para isto. Estamos no epicentro mundial da pandemia, junto com Estados Unidos e já com mais mortes diárias que o Reino Unido. O Brasil tem o maior ritmo de crescimento de casos e de mortes, é o segundo país do mundo com maior número de pacientes internados em estado grave (16,8% do total mundial, mesmo não atualizando o número há duas semanas), e ontem foi o terceiro do mundo em novos casos (depois de EUA e Rússia ) e o segundo em mortes (depois de EUA).

Os Estados Unidos seguem com um ritmo de aumento das mortes acima de 50% em 14 dias, mantendo número elevado de mortes diárias e inúmeros focos regionais, seguindo com aproximadamente um terço do total de novos casos e do número de mortos do mundo. Itália e Espanha reduziram bastante o índice de aumento das mortes, mas ainda têm números elevados em razão da base alta que já tinham. Dividindo-se o período em duas semanas, temos que nos EUA o número médio de mortes por dia diminuiu levemente, de 1.937 para 1.837, na Espanha diminuiu de 328 para 210, na Itália diminuiu de 324 para 280, enquanto no Brasil saltou de 391 para 512. Ontem, o número de mortes no Brasil já foi superior a Espanha e Itália somados.

Outros países que ainda tem menor número de casos e de mortes em números absolutos, vem tendo crescimento bastante superior à média mundial, com situação se agravando rapidamente. Dentre eles, tiveram crescimento do número de casos superior a 100% nos últimos 14 dias Peru (2.86x), Bangladesh (2.8x), Kuwait (2.76x), Rússia (2.75x), Índia (2.44x), Bielorrússia (2.4x), Catar (2.37x), Arábia Saudita (2.34x), Gana (2.31x), Paquistão (2.21x), Chile (2.11x), África do Sul (2.1x) e Egito (2.07x).

É imprescindível e urgente reduzir o ritmo de crescimento do número de casos e do número de mortes no Brasil, pois a manutenção destes índices projeta um cenário terrível. Se por hipótese considerarmos que este ritmo se mantenha o mesmo (2.73 vezes em 14 dias), o número de mortes no Brasil atingiria 27.376 em 22/5, 74.655 em 5/6 e 203.810 em 19.6. Não se trata de uma previsão, mas de projeção do que ocorreria no caso de manutenção do atual ritmo. Portanto é urgente diminuir radicalmente os ritmos de contaminação, o que só é possível com medidas mais rigorosas de isolamento social e garantindo efetivas condições de sobrevivência aos mais precarizados. Um pequeno aumento ou uma pequena diminuição no percentual produz um grande efeito em cascata nos números em dois ou três ciclos, o que reforça a urgência do reforço das medidas protetivas.