Por Raíza Rocha, da Redação
O 10° Anúario de Segurança Pública, elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ONG que reúne especialistas na área, aponta que, em média, cinco mulheres foram estupradas por hora em 2015. O Anúario considera o número de boletins de ocorrência registrados em todas as delegacias do Brasil. De acordo com este levantamento, foram 45.460 estupros por ano.
O próprio anuário considera que estes números devem ser muito superiores em razão da subnotificação deste tipo de crime. Baseado em recente estudo do Instituto de Pesquisa Aplicada (IPEA), que apontou que só 10% dos casos de estupro eram notificados às autoridades, o Fórum de Segurança Pública estima que devam ter ocorrido 130 mil a 450 mil estupros no Brasil em 2015. Em breve cálculo, isto significaria entre 356 a 1232 estupros por dia, ou seja, de 14 a 51 estupros por hora.
A cultura do estupro, uma expressão da naturalização do machismo na nossa sociedade, é o que explica este tipo de crime. Uma mulher é violada porque socialmente foi construída a ideia de que seu corpo pertence ao homem. A lógica que levou as mulheres negras a serem cotidianamente estupradas pelos senhores no período da escravidão segue nos dias atuais.
Não é a toa que, como apontou pesquisa pesquisa da Unicef chamada Violência Sexual, as mulheres negras são as principais vítimas de estupro. A cultura do estupro no Brasil está intrinsecamente relacionada com a história da nossa colonização. Certamente, todas as mulheres estão vulneráveis ao estupro. Basta ser mulher. Mas é preciso explicar a maior vulnerabilidade das mulheres negras. A desumanização da mulher negra, imposta por mais de 300 anos de escravidão, e sua objetificação e hipersensualização nos levam a estes índices assustadores.
A cultura do estupro é também responsável pela subnotificação. Segundo pesquisa do DATAFOLHA, um em cada três brasileiros acreditam que as mulheres são culpadas por serem estupradas. Além da naturalização do machismo que leva um homem a violentar uma mulher, faz parte do jogo de ideias desta cultura a justificativa da sociedade diante deste crime, atenuando-o. A roupa que ela usava seria insinuante. O “não” que ela disse, era um quero mais. O local que ela estava era muito perigoso, como ela não poderia achar que aconteceria alguma coisa? Esta lógica de achar justificativas para um crime injustificado impõe uma inversão dos culpados. A mulher vítima, que foi violada, é culpada. É o machismo, mais uma vez entrando em ação. O corpo, os seus desejos, não pertencem à mulher. E todos a julgam. É por isso que também é tão difícil denunciar.
Primavera Feminista
Felizmente, estes números não tem passado batido. Em 2015, as mulheres brasileiras se insurgiram contra Cunha e o conservadorismo do Congresso para impedir a aprovação do projeto de lei que criava barreiras para mulheres vítimas do estupro realizarem aborto. As mobilizações em todo o Brasil, neste ano, em solidariedade à vítima do estupro coletivo no Rio de Janeiro também mostram resistência coletiva ao machismo. Ao mesmo tempo, ocorreram diversas campanhas nas redes sociais, como as hashtags #meuamigosecreto e #meuprimeiroassedio que deram visibilidade à luta contra o machismo e ganhou mais corações e mentes para esta bárbara realidade.
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