Os seres humanos e o tempo
Com o rápido envelhecimento da população mundial, o tempo e as novas tecnologias se tornam fatores determinantes e de imensa relevância na vida do ser humano contemporâneo.
Vivemos a era da rede técnica da internet e das redes sociais que transformou as relações econômicas (financeiras e comerciais, etc) e as relações entre as pessoas e consigo mesma no mundo. A Inteligência Artificial (IA) bastante avançada na área militar, na medicina, e robótica, inaugura um novo momento na história da humanidade.
Como consequência, o indivíduo sofre uma autoalienação humana. O ser humano está hipnotizado, subsumido nas redes sociais. Está escravizado ao mundo cibernético, aos meios de comunicação móvel (celular, smartphones, etc). Isto modifica os padrões culturais, o comportamento e as atitudes dos indivíduos e a relação do homem com o tempo e o espaço. Tudo é rápido, instantâneo.
Há uma aceleração do tempo e diminuição das distâncias no globo, através do mundo digital, que interfere na totalidade entre os seres humanos e entre si e a natureza, aumentando a capacidade de destruição da mesma. Interfere na ação das organizações políticas partidárias e dos movimentos sociais a exemplo da primavera árabe e as manifestações de 2013 no Brasil, quebrando o paradigma político tradicional. O mesmo ocorre atualmente nas manifestações do Equador, Chile e Hong Kong, etc…
O TEMPO GEOLÓGICO indica que a terra existe há 4,5 bilhões de anos e que o homem surgiu no planeta cerca de 2,5 milhões de anos. Isso nos leva a perguntar: O que é o tempo?É o tempo que nos toca a pele, define nossos rostos, nossa identidade, constitui-nos como pessoas – mundo e torna-nos produto de nossa produção.
O NOSSO TEMPO é o tempo histórico. Tempo é a estrutura da mesma subjetividade. O tempo é ainda o tecido de formatação de todo conhecimento e todas as coisas que tangenciamos. É também a estrutura que usamos para representar e habitar tempos que não são como passado e futuro. Ser e tempo coincidem. O tempo é a condição de representação simbólica do ser humano que se historiciza.
Assim, o tempo para a sociedade capitalista é o tempo cronológico marcado útil, contado, medido, sequencial até o infinito. O tempo capitalista é um tempo da finitude que sempre coloca o problema da duração e, portanto, da morte.
A MORTE é a única experiência humana da qual todos temos a certeza que vamos comungar. O homem é a única espécie animal que quando nasce já sabe que pode ficar velho e morrer.
NESSE sentido, a sociedade capitalista engendra contradições e conflitos intrínsecos e extrínsecos no individuo que leva-o a conflitos subjetivos, crises psicológicas de não se contemplar com a sua beleza natural ou com a velhice que provoca decepção e frustração em relação a decrepitude física, mental e estética. Por outro lado, leva-o resistir e não se resignar com a finitude da vida e com a velhice.
Talvez, esta seja, a razão do homem e da mulher contemporâneos buscar a beleza ideal (a beleza de NARCISO, da mitologia grega), através das cirurgias plásticas e incentivar projetos de pesquisa na busca de retardar o final da vida ou até idealizar a ser belo e viver para sempre (DorianGray).
Seja como for, a humanidade começa a experimentar algo inédito na sua história: os dados da ONU demonstram que aumenta aceleradamente o percentual de idosos na população do planeta. Eis um desafio de alta relevância, que necessitamos refletir face os eventuais impactos para a mulher, o homem, para a sociedade e economia.
A POPULAÇÃO ESTÁ FICANDO VELHA
Após a segunda guerra mundial, o mundo vivenciou um acelerado crescimento populacional, com elevadas taxas de natalidade e redução das taxas de mortalidade na maioria das nações, e os países ricos e industrializados, na contramão desse processo, vivenciaram um lento e baixo crescimento demográfico, caracterizadas por baixos índices de natalidade.
Dessa forma, tudo indica que as recentes transformações nas últimas décadas impactaram a dinâmica populacional a partir do final do século XX. Assim, baseados em dados da dinâmica demográfica global, os demógrafos projetam uma inversão da Pirâmide Etária da população mundial.
Sem precedentes na história da humanidade, nunca um grande número de pessoas teve tão elevada longevidade. Das crianças que nascem hoje, cerca de 50%do total deve completar 65 anos e viverá em média 20 anos a mais do que as pessoas nascidas na década de 1950. A população global é de 7,6 bilhões de pessoas e se estima que em 2030, atingirá 8,6 bilhões de habitantes.
Dessa forma, o documento” DEVELOPING IN AN AGEING WORLD”, publicado em 2007, pela Organização das Nações Unidas (ONU), estima que em 2050 haverá cerca de 2 bilhões de seres humanos com 60 anos ou mais no planeta (22% do total), sendo que em 2005, eram 670 milhões, ou 10% da população global.
Por essa razão, o crescimento da expectativa de vida projeta uma diversidade de fatores, entre os quais, o aumento acelerado da proporção de idosos num grande número de países, como EUA, BRASIL, CHINA, ÍNDIA e os países da UNIÃO EUROPEIA.
Atualmente, o Brasil possui 212 milhões de habitantes e 29 milhões de idosos (13% da população total). Segundo estimativas do IBGE, os idosos serão 29% em 2050, quando esta faixa etária vai representar 66 milhões de indivíduos.
Ter uma ” uma boa genética” é o fator biológico mais associado à longevidade. No entanto, há uma corrente majoritária de biólogos e bioquímicos que aceitam a ideia de que os organismos envelhecem e morrem porque, com o tempo, suas células perdem a capacidade de desempenhar funções, definham e morrem mais depressa do que conseguem fazer a reposição.
O envelhecimento da população é uma questão real e que está presente no mundo. Dessa forma, existem estudos avançados para descobrir o enigma da finitude da vida e do envelhecimento, como o projeto de pesquisa que tem por objetivo realizar o sequenciamento do genoma da baleia-da-Groelândia, realizado em 2015. Esse mamífero é o mais resiliente à passagem do tempo, com 18 metros de cumprimento, 100 toneladas e vive 200 anos, pode ter em seu DNA pistas sobre como contornar o câncer e sobreviver por dois séculos.
Seja como for, a humanidade está diante de um grande desafio. Este fenômeno demográfico é denominado por alguns especialistas de revolução da terceira idade, impondo fatores de alto relevância;
- a) as doenças, como ALZHEIMER, DIABETES, HIPERTENSÃO, associadas ao envelhecimento estão se tornando comuns.
Segundo a ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, o Brasil possui 1,2 milhão de portadores de ALZHEIMER e no mundo há 36 milhões. A diabetes e hipertensão atingem cerca de 70 milhões de brasileiros. Ao mesmo tempo, que muitas pessoas estão vivendo com saúde por mais tempo, o que significa uma elevação da expectativa de vida;
- b) Exerce uma influência direta na economia no que tange aos ajustes de renovação da mão de obra no mundo do trabalho.
Cada vez mais, se acentua o desequilíbrio das equações inativos e ativos, exigindo mais flexibilidade e adaptação das pessoas nas empresas e demais setores de atividades da economia.
Face a crise econômica, os governos de plantão tratam de implantar contrarreformas neoliberais que atacam os direitos trabalhistas e previdenciários, como pretensa forma de resolução dos desequilíbrios da equação;
- c) A progressão geométrica no crescimento da população idosa, exerce uma pressão gigantesca sobre a sociedade e o Estado. Em contrapartida, os governos reagem com as contrarreformas neoliberais e ignoram as políticas públicas que atenda às necessidades da população idosa.
Diante dessa ofensiva neoliberal, se apresenta um desafio para a sociedade e os movimentos sociais, no sentido de mobilizar e organizar os trabalhadores pra exigir dos governos e, em especial, o governo Bolsonaro/Morão que adotem políticas públicas de Estado para incorporar a população idosa a planos de saúde públicas, assistencial e a sociabilidade, com politicas de moradia, transporte e convívio social. Não basta viver mais, com elevadas expectativa de vida, é preciso viver com dignidade, saúde e lazer.
REFLEXOS DO AUMENTO DA POPULAÇÃO IDOSA NA ESTRUTURA SINDICAL
O envelhecimento da população incide diretamente nos setores de atividades da economia, exigindo a curto e médio prazo a renovação da mão de obra, por um lado, e por outro, acumula em escala crescente o contingente de aposentados.
Esse fenômeno atinge como uma hecatombe a estrutura sindical, combinado com a contrarreforma trabalhista. Na maioria dos sindicatos eleva de forma acelerada o total de sócios aposentados, provocando um desequilíbrio no quadro do total de sócios, onde, cada vez mais, os sócios aposentados acabam influenciando o resultado do processo eleitoral.
Esse fenômeno ocorre em todos sindicatos, em maior ou menor grau alterando o seu perfil e influenciando na atuação política das entidades.
Outro fator de relevância, como decorrência do envelhecimento da categoria é a renovação lenta ou quase nenhuma da categoria, atingindo o local de trabalho e sua organização sindical.
Este processo se torna determinante para os sindicatos e de todas entidades dos trabalhadores em educação, à medida que não há renovação dos seus ativistas e quadros políticos. Este fenômeno é visível nas entidades sindicais.
Nesse sentido, é ilustrativo o exemplo dos profissionais da educação que representam 2 milhões de indivíduos e são partes desse processo. Há um envelhecimento da categoria, suscitando polêmicas e o temor, de se tornar crônico, do aumento da falta de professores(as) da educação básica.
O perfil etário da força docente expressa a oferta de professoras (es), a taxa de renovação dessa força e fornece indicadores indiretos da experiência de ensino. Em 2000, o BRASIL tinha 37% do total de professoras (es) com 40 anos ou mais (OCDE-2001).
Hoje esse percentual ultrapassa 65%, tendo uma tendência para os grupos mais idosos como um fenômeno mundial. Já era presente nos países ricos (EUA, UNIÃO EUROPEIA, JAPÃO, etc..). Atualmente, se estende para a maioria das nações, como China, ÍNDIA e os países africanos, asiáticos e latino-americanos.
Em São Paulo, os profissionais da educação, como em todo país, estão inseridos neste fenômeno. Reflexo da revolução da terceira idade, há um envelhecimento da categoria docente. Em 2007, 59,02% da categoria era formada por professoras (es) com mais de 40 anos de idade e, em 2018, 73,09% do total acima de 40 anos e 73,2 % são mulheres.
Constata-se que os trabalhadores em educação são de maioria feminina e há uma evolução na faixa etária de 21,69% dos que estão acima de 50 anos, para 38,35% em 2018. E para os que estão acima de 60 anos, vai de 2,94%, em 2007, para 7,45%, em 2018.
Diante do fenômeno da revolução da terceira idade e consequente aumento das aposentadorias, o governo Bolsonaro e o congresso se apressaram em aprovar a PEC do profissional da educação, que pode trabalhar até os 70 anos e agora está a contrarreforma neoliberal da Previdência que ataca os direitos básicos (mudança no cálculo das aposentadorias e pensão, elevação da idade mínima, etc..).
Bem como, a contrarreforma no sistema educacional (redução de verbas, flexibilização do currículo, etc..). A justificativa está no envelhecimento da população e o equilíbrio fiscal.
CONCLUSÃO
Assim, a revolução da terceira idade apresenta vários desafios para a sociedade e para o Estado, como já ressaltamos. No entanto, é necessário destacar a exacerbação de uma questão crônica que reside na discriminação e o preconceito em relação ao idoso, que é maior ou menor, dependendo das desigualdades sociais e econômicas, tem início na família e se prolifera para toda a sociedade.
Eis um problema complexo que não basta instituir uma lei, como o ESTATUTO DO IDOSO, LEI 10271/2003. É preciso combater a discriminação e o preconceito sobre a população idosa através da educação, por um lado, e a adoção de políticas públicas por parte do Estado, por outro.
Neste contexto, urge a necessidade de mobilizar e organizar a resistência, denunciando a contraofensiva neoliberal expressa nas políticas dos governos, BOLSONARO, MOURAO e DORIA. E por outro lado, estudar e produzir políticas para a realidade que está indicada no aumento exponencial da relação do percentual de aposentados no quadro total dos sindicatos, e em especial, da APEOESP SINDICATO, que se estima possuir cerca de 180 mil sócios e aproximadamente 50 mil sócios aposentados.
Da mesma, há um fenômeno semelhante nas 23 entidades e sindicatos municipais da educação.
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