Na última sexta-feira, segundo dados divulgados na própria imprensa chilena, cerca de 1,2 milhão de pessoas realizaram a maior manifestação em Santiago desde o fim da ditadura de Pinochet, em 1990.
As imagens da multidão são impressionantes e emocionantes. Santiago possui, oficialmente, 5,6 milhões de habitantes, ou seja, mais de 20% da população da Capital chilena estavam nas ruas ontem.
Entretanto, não foi só em Santiago. No oitavo dia de protestos sucessivos, dezenas de outras cidades chilenas registraram manifestações neste 25 de outubro.
O que acontece hoje no Chile é a expressão mais avançada de um movimento continental de questionamento de governos de direita e sua agenda neoliberal e reacionária.
Nos últimos dias ficou nítido que as manifestações chilenas vão muito além do justo repúdio dos jovens ao aumento das passagens do Metrô. Aliás, aumento este que já foi revogado pelo governo.
Na verdade, as manifestações se justificam pela indignação da juventude e do povo trabalhador contra 30 anos de aplicação de medidas neoliberais de retirada de direitos da maioria da população, que tornaram o Chile um dos países mais desiguais da América Latina.
Medidas estas que se intensificaram durante os governos direitista de Piñera, mas que não chegaram a ser totalmente interrompidas ou desfeitas nos governos encabeçados pelo partido socialista (PS) chileno.
O cenário é ainda de ampliação dos protestos, o que pode ser muito bem definido pela conhecida frase do marxista revolucionário russo, Wladimir Lenin: “quando os de baixo já não querem e os de cima já não podem”.
A decretação do estado de emergência no último dia 19.10; a violência da repressão policial utilizada em larga escala; e o uso, inclusive, das forças armadas chilenas para reprimir as manifestações populares; já deixaram pelo menos 18 mortos (segundo dados oficiais, mas esse número pode ser bem maior), mais de 6 mil presos e milhares de feridos, alguns em estado grave.
Mas, nem esta violentíssima repressão, desferida pelo governo Piñera, foi suficiente para conter os legítimos protestos do povo chileno.
Os protestos populares enfrentaram o estado de emergência e a repressão criminosa e seguiram não só ocorrendo como aumentando sua dimensão, cada vez mais popular.
Esta situação obrigou o governo a recuar. Desde então, foi revogado o aumento nas passagens do Metrô e anunciadas medidas paliativas pars tentar conter a indignação do povo. Até o Congresso Nacional votou a redução da jornada de trabalho para 40h semanais. Uma reivindicação antiga dos trabalhadores.
O recuo do governo já representa uma vitória do movimento da maioria do povo chileno. Mas, as gigantes manifestação de Santiago nesta sexta-feira demonstram que a juventude e os trabalhadores chilenos querem muito mais do que concessões parciais e medidas paliativas. Portanto, nada está garantido ainda e o movimento deve continuar.
O ódio contra esse governo de direita e suas medidas neoliberais, e a defesa do Fora Piñera, crescem a cada dia nos protestos. O atual presidente virou corretamente um símbolo negativo e perverso de todos esses anos de exploração e opressão.
Por uma Assembleia Constituinte e uma saída pela esquerda
Ainda hoje, no Chile, a Constituição válida é a mesma dos tempos da ditadura de Pinochet. Uma demonstração cabal dos limites da transição democrática neste país e um dos grandes exemplos dos graves erros dos governos de conciliação de classes encabeçados pelo PS.
Portanto, a luta popular em defesa dos direitos sociais se combina também com a defesa das liberdades democráticas e por enterrar de vez todo o entulho autoritário do período sombrio da ditadura.
Neste momento, se espalham pelo pais a construção e o fortalecimento de Assembleias Populares nos bairros. Esta característica da luta em curso demonstra de forma evidente o profundo anseio da juventude e da maioria do povo por mudanças mais estruturais nas instituições políticas do Chile.
Portanto, mais do que nunca cresce a importância da proposta de uma Assembleia Constituinte soberana e com mecanismos de participação popular ativa e direta, que refunde o país sobre outras bases sociais e políticas.
Os protestos exigem mudanças profundas e significativa no Chile. Não será com a manutenção deste governo deste regime político apodrecidos que será possível construir um novo pais para a maioria do povo.
Inclusive, uma mudança política expressiva, com certeza, vai influenciar toda a América Latina, que hoje vive uma onda de mobilizações contra governos de direita, aliados dos EUA, e seus planos de austeridade e suas medidas neoliberais.
Junto com o desenvolvimento das Assembleias Populares e da defesa de uma nova Assembleia Constituinte, é urgente avançar na construção de um novo projeto de esquerda no país.
Uma saída política da juventude e do povo trabalhador só será possível com a superação dos erros do passados, cometidos pelos partidos de esquerda tradicionais (PS e PC), que chegaram a governar o país em aliança com a velha direita, como a chamada democracia cristã.
Acompanhamos com muita atenção o desenvolvimento da Frente Ampla chilena e, dentro dela, do Partido Comunes. Acreditamos que estes espaços serão decisivos para a construção de uma nova alternativa de esquerda, independente, da juventude e do povo trabalhador para o Chile.
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