Nas ruas, o governo teve uma derrota. Os atos dos dias 15 e 30 de maio contra os cortes nas universidades foram maiores que o ato em defesa do governo no dia 26. Mas isto está longe de significar uma derrota completa do bolsonarismo. Na verdade, eles tiveram um ligeiro fortalecimentos nos últimos dias.
Um exemplo é a briga no Twitter. Nesta rede social, os assuntos mais comentados, os Trending Topics, ficam expostos ao público. Desde janeiro, existia uma briga acirrada entre governo e oposição para ver quem ficava mais no topo. Depois do ato bolsonarista do dia 26, o governo passou a ganhar esta disputa com larga vantagem. De segunda à sexta durante o dia todo, em especial entre às 19h e 21h, o assunto de interesse do governo sempre é o assunto no topo dos Trending Topics. Esta mudança foi tema de matéria recente na revista Piauí.
Alguns vão dizer que se trata apenas do uso de robôs, programas usados para aumentar artificialmente o engajamento em um conteúdo. Não é só isso. A oposição também tem seus robôs. E antes do ato a favor do governo eles também existiam. O que aconteceu é que a militância pró-Bolsonaro se tornou mais disciplinada e motivada. Eles passaram a se organizar pelo Whatsapp. Os grupos bolsonaristas nesta rede se reavivaram e estão com uma movimentação muito intensa, como mostrou matéria recente do The Intercept.
Alguém duvida que devem existir no mínimo umas 100 mil pessoas dispostas a passar boa parte do seu dia postando, comentando, curtindo e se engajando nas redes sociais em defesa do governo? Um número maior que isso foi às ruas. E eles se somam àqueles que ganharam emprego em Brasília e aos famigerados robôs.
Não podemos esconder a realidade. Bolsonaro é maioria nas redes sociais. No Whastapp, sua rede de grupos e listas de transmissão criou um exército que atinge dezenas de milhões por meio de mensagens. No Twitter, esse exército conseguiu vencer a disputa com a oposição para ver quem consegue manter seu assunto preferido no Trending Topics. No Youtube, figuras antes desconhecidas passaram a ter centenas de milhares de inscritos. E no Facebook eles contam, entre outras coisas, com a página do político com o maior número de curtidas.
Depois da disputa com a oposição nas ruas, o bolsonarismo se reorganizou. Quem foi para os atos em favor do governo viu uma militância coesa, que sabia o que fazia. Lideranças bem definidas, todo mundo defendendo a mesma pauta. Não tinha nada de espontâneo ali. Nada da confusão que foram os atos pelo Impeachment da Dilma em 2016. Um exército pequeno, mas disciplinado e mobilizado é mais perigoso que um exército grande, mas disperso. O bolsonarismo perdeu em número, mas teve um ganho de qualidade.
Ofensiva também na mídia tradicional
A reação não é só nas redes sociais. Apesar da briga com a Rede Globo, o governo conta com o apoio de grandes empresas de comunicação como a Record, a Jovem Pan e principalmente o SBT. Recentemente Bolsonaro esteve no programa do Ratinho. De acordo com a revista Época, o apresentador cobrou dinheiro para falar bem do presidente. O programa de Danilo Gentili no SBT também contou recentemente com a presença de Bolsonaro.
E essa rede em defesa do governo na mídia vai ganhar reforços. A rede de TV dos Estados Unidos CNN vai começar suas atividades no Brasil e contratou o apresentador Willian Waack. Demitido da Globo após um episódio envolvendo racismo, Waack é ideologicamente alinhado com Bolsonaro. A CNN também tem histórico de se alinhar com a direita mais radical.
A disputa será longa e dura
Eles não são invencíveis. Estão perdendo espaço, na verdade. Defender o governo está ficando cada vez mais difícil. Com o passar do tempo, não dá mais para colocar na conta dos governos anteriores tudo de ruim que acontece no país. Mas não nos enganemos. O desespero e o risco da derrota fez o bolsonarismo reagir. Como diria o mestre da estratégia militar Sun Tzu, “Conheces teu inimigo e conhece-te a ti mesmo; se tiveres cem combates a travar, cem vezes serás vitorioso”. Fiquemos de olhos bem abertos.
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