Os trabalhadores da construção civil de Fortaleza estão em campanha salarial desde fevereiro. Trata-se de um fato político que mexe com a capital. Há forte tradição de passeatas cruzando os bairros nobres da burguesia cearense, e greves que ocupam a histórica Praça Portugal, a que os apoiadores de Bolsonaro tentaram ocupar domingo 26, mas sem êxito.
Em um cenário de desemprego em massa no setor e mais de 53% da população cearense na informalidade, os operários reivindicam não retrocederem em nenhum direito de sua atual Convenção Coletiva. Reajuste da inflação no salário, cesta básica e vale-alimentação, e a manutenção das chamadas cláusulas sociais.
Acontece que a patronal, sendo alguns deles, proprietários de grandes construtoras do país, está intransigente no objetivo de flexibilizar a jornada de trabalho, impondo o banco de horas. Para um trabalho extenuante como o do setor, o banco de horas é uma brutal violência contra a força de trabalho e, evidentemente, contra o trabalhador e tudo que implica sua subjetividade.
Os patrões estão se sentindo tão à vontade com o atual governo federal e suas medidas políticas, que algumas empresas estão contratando seguranças armados para intimidar a organização dos trabalhadores e, por conseguinte, sua luta em defesa de seus direitos.
Nesta quarta, 29, o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil deparou-se com mais de oito seguranças armados em um canteiro de obra na Beira-Mar de Fortaleza (Construtora Normatel), que buscava impedi-los de ingressar à obra, o que é garantido na Convenção. Os diretores do Sindicato chegaram a ser ameaçados caso entrassem. Houve uma rebelião da peãozada, mais de 150 trabalhadores, que cercou os seguranças e garantiu a entrada do Sindicato. As atividades foram paralisadas até que o responsável da obra aparecesse. Foi encaminhada a continuidade das lutas nas obras, exigindo que a patronal assine o acordo da Convenção Coletiva sem o banco de horas.
Entretanto, há um sinal de alerta no triste episódio que por pouco não foi trágico. Não é a primeira vez este ano que seguranças armados, à luz do dia, enfrentam a representação dos trabalhadores. Evidentemente que se trata de um contexto geral de retrocessos, retirada de direitos, profundos ataques aos trabalhadores, e também às suas organizações. São tempos nada modernos estes do século XXI. A burguesia brasileira está muito à vontade com o atual governo em Brasília no que concerne aos ataques e intimidações à classe trabalhadora, porém, nem ela e nem o governo devem ignorar que, se os trabalhadores retomam sua confiança, não haverá seguranças armados e nem outros mecanismos que possam freá-los na luta por seus direitos.
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