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Porque os bolsominions não vão citar o desemprego no “protesto” de domingo

O maior problema do país, que afeta diretamente 13 milhões de pessoas, não está entre as pautas do ato

Direita Volver

Coluna mensal que acompanha os passos da Nova Direita e a disputa de narrativas na Internet. Por Ademar Lourenço.

Todos já sabem que os apoiadores do governo vão fazer um ato. Para os bolsominions, a solução da crise política é o presidente da República ter poderes ditatoriais para fazer o que bem quiser. Mas Bolsonaro teria este poder todo para fazer o que exatamente?

Com certeza não seria para acabar com desemprego, que aumentou desde que Bolsonaro tomou posse. Se alguém visitar todos os perfis bolsonaristas em todas as redes sociais, sabe quantas vezes vai encontrar a redução do desemprego como pauta do ato? Nenhuma. O maior problema do país, que afeta diretamente 13 milhões de pessoas, não será citado no “protesto”.

Ninguém nesses atos também vai mostrar indignação com a libertação dos militares que mataram um inocente com 80 tiros em abril. O aumento do número de feminicídios em 2019 também não será lembrado em nenhum cartaz desses atos.  Para os bolsonaristas, povo desempregado, negro morto pela polícia e mulher sendo assassinada é um problema irrelevante, não é digno de protesto.

Ninguém ali vai lembrar que o assassinato da vereadora Marielle Franco completou um ano sem que os mandantes do crime fossem descobertos ou que as universidades federais tiveram um corte de 30% em seu orçamento. Mas isso já é compreensível. Essa gente comemorou o assassinato de Marielle e é favorável aos cortes.

Mas da Reforma da Previdência eles se lembraram. A proposta que aumenta o tempo que a pessoa vai precisar trabalhar para se aposentar será pauta do protesto. Protesto a favor da reforma. E quais as outras pautas do ato? Uma medida provisória que já foi aprovada no Congresso e o pacote “anti-crime” do ministro Sérgio Moro, que, entre outras coisas, facilita que policiais que matam saiam impunes.

Em resumo, a pauta do ato é que o povo trabalhe sem se aposentar e que os policiais possam matar sem punição. E também que Bolsonaro tenha amplos poderes para prejudicar ainda mais o povo.

Por que alguém participa de uma coisa dessas?

Com certeza o motivo não é a luta contra a corrupção. Ninguém no ato bolsonarista vai protestar contra o escândalo dos funcionários fantasmas da família Bolsonaro ou do vínculo do presidente com milícias. Então por que ir para um “protesto” a favor do governo?

Não pega bem a pessoa assumir que é machista, racista, homofóbica e que odeia pobre. Um ato em favor do extermínio da juventude negra, contra a liberdade sexual das mulheres e em defesa da exploração dos trabalhadores não iria dar muita gente.

Vejamos o caso das universidades federais. Antes da expansão de vagas e das cotas para negros e estudantes de escolas públicas, elas eram prestigiadas pela classe média. Hoje, o cidadão que estudou em escolas particulares e teve a vaga “roubada” por um cotista tem motivos para odiar a universidade federal. Mas levantar um cartaz escrito “fora negros e pobres das universidades” iria pegar mal, além de ser crime. É mais esperto dizer que a universidade é lugar de “balbúrdia”.

Também é uma atitude esperta a pessoa escrever em um cartaz que “defende a família e os valores cristãos”. Afinal, um cartaz escrito “odeio gays e quero que eles desapareçam” ou “lugar de mulher é na cozinha” não soaria tão bem. Assim como não soaria tão bem um cartaz escrito: “quero que a polícia mate negros e pobres”. É mais esperto um cartaz dizendo: “pelo pacote anticrime de Sérgio Moro”.

Na verdade, não se trata de esperteza. A palavra certa é covardia. Se essas pessoas tivessem a coragem de dizer o que realmente pensam, estaria escrito na faixa principal do ato: “Tenho a esperança de um dia ser patrão e por isso quero que o trabalhador seja explorado”. Nós da esquerda ao menos temos a vergonha na cara de assumir quais são as nossas verdadeiras pautas.

Marcado como:
extrema direita