Na manhã desta sexta-feira, 24 de maio, a Primeira Ministra do Reino Unido, Theresa May convocou a imprensa para uma declaração pública na sede de sua residência oficial, em Londres. Nesta, anunciou sob lágrimas sua renúncia ao cargo de líder do Partido Conservador, e consequentemente ao comando do governo. A partir do dia 07 de junho (ou seja, em menos de duas semanas), Theresa May não será mais Primeira Ministra do país.
A decisão, embora bastante importante, não foi recebida com surpresa. Na verdade, desde as sucessivas e acachapantes derrotas sofridas pelo Governo no Parlamento sobre os encaminhamentos do Brexit, muitos já consideravam o governo May como um “defunto político”. O Partido Conservador, mesmo bastante fragmentado e desmoralizado, conseguia manter uma unidade mínima e manter May no Governo pelo receio de, em caso de queda, ser inevitável a antecipação de Eleições Gerais e – com elas – a provável vitória do Labour sob a liderança de Jeremy Corbyn e seu Manifesto antiausteridade e anticapitalista For the Many, not the Few. (Para a Maioria, Não para a Minoria, em tradução livre)
Situação insustentável de May e do Partido Conservador obrigaram a renúncia
O plano de May e da maioria de seu Partido era, mesmo completamente débil e sem conseguir responder a mínimas questões de governo, adiar a renúncia até uma definição mais clara sobre o encaminhamento da saída britânica do bloco europeu. No início do mês de abril, o Governo convidou a Oposição (incluindo o próprio Corbyn) para “contribuir” com um novo plano para o Brexit – mas o Labour saiu das negociações em poucas semanas por não haver condições de avançar em acordos. Na semana anterior à renúncia, o Governo havia sinalizado que estava construindo alterações no Projeto de Acordo com a EU (que havia sido derrotado inúmeras vezes) – mudanças que poderiam incluir um aumento de proteções trabalhistas e até mesmo um Novo Referendo! – e tentaria reapresenta-lo ainda no mês de Junho.
Mas apesar dos esforços de May, a crise só aumentava. Nas eleições locais do início de maio, o Partido Conservador obteve um dos piores resultados de toda a sua história. Nas eleições para o Parlamento Europeu, cujo resultado será divulgado após o dia 26 de maio, a expectativa é que tenha obtido uma performance ainda pior. Nos últimos dias, o Gabinete da Primeira Ministra teve a renúncia de aliados importantes, como Andrea Leadson – uma das principais articuladoras de May junto aos setores mais à direita do partido.
O Partido Conservador e a Direita tentarão de tudo para evitar Eleições Gerais
O Partido Conservador, e todos os setores de Direita – incluindo as principais frações burguesas e imperialistas – seguem sem o menor interesse na realização de Eleições Gerais. Isso porque, mesmo com a confusão em torno ao Brexit e a falta de unidade na esquerda (e no próprio Labour) sobre o tema, Jeremy Corbyn ainda é, cada vez mais, franco favorito a ser o próximo Primeiro Ministro, caso haja um novo Parlamento eleito.
Segundo a legislação britânica, a renúncia da Primeira Ministra não obriga, por si só, a antecipação das Eleições Gerais. O Partido Conservador poderia escolher um novo Líder e, caso este consiga compor uma coalizão majoritária no Parlamento, seria o sucessor de May, no comando de Westminster. E é exatamente isso o que pretendem fazer. Várias lideranças do Partido Conservador, dentre eles o ex-prefeito de Londres Boris Johnson (de uma das alas mais à direita) já se lançam em campanha interna para o posto.
Porém, as condições do Partido Conservador para tal política são ainda menores hoje do que após as últimas Eleições. Com a crise dentro do próprio Partido (e em seus aliados), além da dificuldade de unir os Tories sob um novo líder e montar tal coalizão, este seria um Governo que já nasceria extremamente fraco e sem legitimidade fora do Parlamento.
Eleições gerais já – por um governo Corbyn, sem a direita blairista e que aplique as medidas do manifesto anti-austeridade “for the many, not the few”
Minutos após a renúncia de May, Corbyn e o Labour já publicavam suas declarações exigindo novas Eleições. Afinal, o que colapsou não foi apenas a figura individual de Theresa May – mas todo seu governo, sua política e seu Partido. Na composição parlamentar atual, trocar May por outro Tory – qualquer que seja – não agregará nenhuma legitimidade, governabilidade ou coerência ao Parlamento Britânico.
Nos últimos meses, já com o governo May bastante debilitado, uma polêmica se instalou na esquerda sobre a linha central a ser batalhada. Uma parte dos ativistas e organizações secundarizaram a situação extremamente débil do governo e a chance de forçar sua derrubada, que abriria portas para um governo Corbyn. Preferiram cerrar fileiras com setores da direita trabalhista – ligada ao ex-Primeiro Ministro Tony Blair (expoente da chamada “Onda Rosa”, neoliberalismo com discurso “social” e bombas sobre o Afeganistão) e até com setores da burguesia liberal (e do imperialismo), na defesa da União Europeia e na exigência por um Novo Referendo. Com isso, além de perder a oportunidade da iniciativa política, acabaram abrindo espaço para o reaparecimento de setores de extrema-direita (Brexit Party, do ressuscitado Nigel Farage) e de alternativas da burguesia liberal (como os LibDem) – mas isso será tema de um novo artigo, à luz do resultado das eleições europeias no país.
Mas que os erros sirvam de lição. O momento agora é de unificar toda a esquerda, sindicatos, movimentos climáticos e sociais para exigir Eleições Gerais já. E nessas aproveitar o impulso e a iniciativa, baseado nos pontos do Manifesto For the Many, not the Few, chamando o voto no Labour, para garantir o posto de Primeiro Ministro para Jeremy Corbyn. Queremos um governo baseado nos movimentos sindicais, sociais, climáticos, de juventude etc., para aplicar o programa do Manifesto, e ir além. Precisamos, a partir do Reino Unido, de uma nova primavera que sopre seus ventos de mudança, pela esquerda, para todo o planeta.
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