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Dicas para uma militância longa e saudável: não é coach | parte 2
Publicado em: 28 de janeiro de 2025
Ouça agora a Notícia:
Apresento o segundo texto da série iniciada em maio de 2024, alerto mais uma vez que essa sequência de textos não são uma revelação da verdade, apenas reflexões que derivam de minha própria experiência enquanto militante, informo também que esse projeto se propõe coletivo, portanto caso qualquer camarada queira contribuir na construção da série sinta total liberdade.
O primeiro texto tratou do conceito de autocuidado, caso não tenham acessado segue o link.
Da educação financeira
Uma vida dedicada à causa socialista e a revolução é marcada por grande abnegação, desprendimento, no geral observamos muito a entrega de nosso tempo a essa tarefa, porém existe outro aspecto importante de doação que militantes dedicam também, o aspecto financeiro.
Sabemos que economia de mercado é o fator determinante de nossa quadra histórica, a moeda é a principal mercadoria na construção das relações de produção e distribuição de mercadorias, vendemos nossa força de trabalho por moeda para ter acesso às mercadorias que mantêm nossa sobrevivência.
Do mesmo modo, para realização de qualquer projeto ou ação num mundo onde o capitalismo reduz cada vez mais um maior número de objetos, fenômenos e direitos à forma mercadoria, ficamos cada vez mais dependentes de moeda, de dinheiro, para desenvolver tarefas na luta pelo socialismo e pela revolução.
Diante dessa constatação, enquanto militantes organizados, precisamos ter a ciência de que nossa organização precisa de dinheiro para promover seus objetivos. Porém qualquer dinheiro serve? Acreditamos que não, a moeda como mercadoria privilegiada, capaz de ser trocada por qualquer outra mercadoria, aliada a ideologias individualizantes, egoístas, pautadas na acumulação de mercadorias representa poder e um risco moral na medida que sua propriedade torna-se um fim em si mesma, temos ciência que não é possível falar em autonomia política sem haver autonomia financeira.
Uma organização que não sustenta de forma autônoma suas finanças, tende a transferir seus objetivos políticos à manutenção das estruturas que garantem a sobrevivência da organização, isso muda a relação de prioridade de defesa de interesses, deslocando a priorização dos interesses da organização para a priorização dos interesses das estruturas, tendo como efeito a morte em vida da organização, pois destituída de objetivos próprios e submetida ao controle de outra estrutura com objetivos próprios, a organização submissa torna-se apêndice da organização mantenedora.
Ser a autonomia financeira essencial a uma organização, e a constatação das limitações que o capitalismo nos impõe não significa que não devamos construir outras formas de produção e distribuição fora da fórmula mercadoria, principalmente nas ações de trabalho de base, porém mesmo existindo tais possibilidades elas tem se mostrado mais como complementares, do que substitutivas às dinâmicas impostas pela economia de mercado.
Portanto, a contribuição individual de camaradas que fazem parte da organização e ações de captação de recursos são necessárias para que nossa organização exista de fato.
Porém, como trabalhadoras e trabalhadores, realizar contribuições financeiras regularmente não é uma tarefa simples, principalmente para camaradas em com trabalhos pouco valorizados, em trabalhos que pagam somente o salário mínimo, que trabalham na escala 6×1, ou situações precárias de trabalho ou sem emprego.
Do mesmo modo, questões de raça e gênero criam uma percepção diferente no poder de um salário.
Um trabalhador homem branco, filho de familiares alfabetizados, dotado de casa própria tem um salário com maior poder que um trabalhador negro, filho de pais analfabetos, que mora em aluguel ou posse, esse salário não é só para sua construção pessoal, mas faz parte da construção da sobrevivência de muitas famílias além de sua própria família nuclear.
Da mesma forma, as companheiras mulheres também tem um histórico de despatrilonialização e controle da propriedade e das finanças pelos homens, existindo inclusive o conceito de violência patrimonial nas relações abusivas, onde mesmo as mulheres com renda se vêem desprovidas de autonomia financeira, portanto a questão de gênero é muito importante. Qualquer mulher, infelizmente, está diante da possibilidade de se tornar vítima de violência dentro de uma relação, portanto seu salário tem outro peso, pois manter uma reserva de emergência, algo necessário, quando possível, para qualquer pessoa, para as mulheres é essencial, bem como as redes de apoio.
Diante da centralidade das finanças na vida de uma organização e de cada militante, para uma militância longa e saudável não se pode ignorar esse tema, para isso refletir sobre educação financeira, não no sentido de achar que é o caminho para riqueza, é algo muito importante.
Educação financeira se trata de uma área do conhecimento dedicada a desenvolver um conjunto de habilidades e competências para tomar decisões financeiras embasadas, construir patrimônio e evitar ou solucionar dívidas.
A sociedade de consumo cobra de nós um modelo padrão de vida que gera anseios de gastos que criam verdadeiras tensões psicológicas, aponto de causar adoecimento, observar esses comportamentos é extremamente necessário para não deixar o capitalismo tomar conta de nossas emoções.
Construir uma rotina de gestão racional dos recursos, anotar quanto se ganha, quanto se gasta e onde se gasta são medidas extremamente necessárias para começar a ter controle de si e do dinheiro.
Existem várias iniciativas de formação nesse sentido, muitas gratuitas, recomendo para quem não conhece o canal no YouTube da Nath finanças, https://youtube.com/@ nathfinancas?si= lvXtRe6P52zqBDvH , por ter um editorial alinhado a ideias progressistas, com viés de esquerda.
Até breve, camaradas.
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