Por: Mari Mendes, de Mogi das Cruzes, SP
As eleições municipais em Mogi das Cruzes foram marcadas pela falta de polarização no debate político. O candidato do PSDB, Marcus Melo, foi eleito com 64% dos votos válidos e a Câmara Municipal quase não foi renovada, sendo ocupada por 22 homens e apenas uma mulher que não representa as lutas feministas na cidade. As únicas candidaturas de mulheres da esquerda foram da professora Inês Paz, que teve 1609 votos, e de Alexandra Braga, com um pouco mais de 200 votos, ambas do PSOL. Nenhuma das duas foi eleita.
Disputa de ‘mentirinha’
A corrida eleitoral começou cedo, com o atual prefeito Marco Bertaiolli (PSD) preparando o terreno para seu sucessor, Marcus Melo (PSDB). A candidatura da situação foi o tempo todo blindada pelas candidaturas proporcionais e pelos demais candidatos a prefeito.
O tom da ‘disputa’ durante os 45 dias foi de ‘já ganhou’. Assim, a população seguiu a vida normal e quase não se ouviu na cidade o termo eleições.
O pleito foi disputado pelo inexpressivo candidato Nelson Pedro (PMN), Gondim (SD, numa coligação com PROS / PT / PRTB / PTB / PSDC / PMB / PTN) e Marcus Melo ( coligação PSDB / PSD / PMDB / PP / PR / PSB / DEM / PRB / PDT / PSC / PC do B / PPS / PV / PHS / PSL / REDE).
Marcus Melo liderou as pesquisas desde o início da corrida eleitoral e, seguindo a postura do principal apoiador, apresentou uma cidade que parece ficção: perfeita, linda e ‘livre’ dos problemas que são comuns à classe trabalhadora e à população pobre da cidade.
Ao contrário do mundo ‘faz de conta’ das eleições
No entanto, sabemos que a vida em Mogi não está fácil como foi mostrada na campanha eleitoral. Desemprego crescente. Na Educação, a terceirização dos serviços só cresce, assim como a superlotação das salas de aula. Apesar das propagandas em torno às creches subvencionadas, a demanda de crianças fora das creches ainda é gigantesca. Falta de serviços públicos de saúde de qualidade, caro e falta de moradia que atenda ao conjunto da população pobre é a face da cidade que a propaganda eleitoral não mostra. Enquanto isso, o dinheiro que deveria ser destinado a essas áreas é entregue ao setor privado e aos empresários que mandam na cidade e são os verdadeiros representados pelo prefeito eleito.
O resultado político da abstenção da esquerda socialista
A esquerda mogiana sempre encontrou dificuldade de se organizar, devido ao perfil conservador que impera na maior e mais rica cidade do Alto Tietê. Os grupos e organizações que aqui surgem encontram pouco espaço para disputar a consciência dos trabalhadores e da juventude e quando tentam são perseguidos, cooptados, engolidos pela máquina das oligarquias e pelo coronelismo local.
Ainda assim, existem importantes movimentos sociais, grupos de combate às opressões e dois partidos da esquerda socialista legalizados, PSTU e PSOL, que atuam junto à classe trabalhadora e juventude na cidade.
Porém, nessas eleições, o PSTU se absteve do debate eleitoral, o PCB fechou diretório e o PSOL decidiu não lançar candidatura majoritária, priorizando a disputa de uma cadeira na Câmara.
É necessária a unidade da esquerda socialista
Já havíamos alertado para a reorganização nacional da direita a partir da manobra reacionária do impeachment. Diante desse cenário, a apresentação de uma Frente de Esquerda, nas lutas e nas eleições, que apresentasse um programa que apontasse uma saída para os trabalhadores da cidade, que disputasse o pouco espaço que a esquerda tem e desmistificasse a ideia de cidade fictícia que vinha sendo sendo apresentada pela direita era fundamental.
Uma campanha independente, que se esforçasse para construir uma unidade da esquerda para preparar as lutas para derrotar o projeto de terceirização e ataques que vêm sendo implementados em todas as esferas por esses partidos que se colocam como alternativa para Mogi.
Opinamos que foi um enorme equívoco do PSOL abrir mão da candidatura majoritária e sua aliança com partidos de aluguel da direita como o PEN, PRP e PT do B, inviabilizando, assim, a constituição de uma frente de esquerda que aglutinasse os diversos movimentos sociais, os movimentos de combate às opressões e o PSTU.
Esse era o único caminho possível para politizar o debate eleitoral e dar um passo importante na construção de um pólo que preparasse o terreno da luta após as eleições municipais e os ataques que Temer, Alckmin e Marcus Melo farão contra os trabalhadores.
Ao não se constituir a Frente de esquerda e diante da negativa do PSOL de apresentar-se de forma independente para a disputa da Prefeitura, a esquerda se sentiu órfã, abandonada e não participou com força nas eleições. Apesar deste equívoco, o MAIS indicou voto nas candidaturas de Inês Paz (PSOL), mas não participou da campanha devido às alianças políticas com partidos da direita.
A ausência de uma alternativa da esquerda socialista fez muita falta e demonstrou a importância da defesa de um programa anticapitalista. Ao não ter uma alternativa, ficou apenas o sentimento de derrota antes mesmo do pleito eleitoral se iniciar, para algumas centenas de trabalhadores e jovens que buscavam uma saída pela esquerda.
As eleições passaram, mas a necessidade de unir a esquerda nas lutas e avançarmos na organização de um campo dos trabalhadores e da juventude pobre, negra e feminina na cidade é urgente. Um campo que impulsione as lutas contra o Temer e seus ataques e contra o “blocão” da direita Mogiana. Construir desde já um bloco alternativo à direita, que nos ataca cotidianamente e ao PT, que há tempos não serve aos objetivos da nossa classe. Estaremos empenhados nesta construção.
Foto: Reprodução Facebook
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