Macron foi eleito na França como uma novidade e um caminho alternativo para a implementação das políticas neoliberais e de austeridade no país. Um ano e meio após sua eleição teve que começar a enfrentar mobilizações permanentes dos coletes amarelos. Frente a esse desafio, o governo assumiu cada vez mais um caráter autoritário.
A situação das mobilizações na França
Desde 17 de novembro, na primeira mobilização dos Coletes Amarelos, há uma permanência das manifestações na França. Todo sábado, com momentos de alta e outros de baixa, o movimento dos Coletes Amarelos realiza mobilizações contra o governo e suas medidas. Neste último sábado, 23/03, ocorreram mobilizações por todo país, o XIX ato, com destaque para Nice e Paris.
Neste domingo, o presidente francês se encontrou com o presidente chinês Xi Jinping na cidade de Nice. Por isso, os Coletes Amarelos decidiram manifestar-se na cidade. O governo francês montou um operativo de segurança gigantesco e proibiu manifestações nos principais locais da cidade como a Place Garibaldi. O resultado foi um dia de confrontos que deixou uma militante de 73 anos ferida seriamente. Outras cidades que tiveram proibição de manifestação dos Coletes Amarelos foram Marselha e Montpellier.
Em Paris, a manifestação ocorreu sob um forte esquema de repressão. Os manifestantes foram proibidos de ocuparem a tradicional Champs-Elysées e fizeram manifestações em outros pontos da cidade. De acordo com os jornais, 5 mil pessoas se manifestaram em Paris, onde a principal palavra de ordem foi o pedido de demissão do presidente Macron – ao todo, segundo o Ministério do Interior, foram 40.500 manifestantes em toda a França nesse sábado.
As manifestações de sábado foram precedidas por enormes mobilizações nos últimos dias no país com destaque para a greve climática estudantil e a greve intersindical do último dia 19/03.
Um governo cada vez mais autoritário
Frente a essas mobilizações, Macron busca recuperar sua popularidade em queda desde o início das mobilizações, e seu protagonismo. As pesquisas de opinião francesas, de janeiro deste ano, mostram que 75% da população está insatisfeita com Macron. Em abril de 2018 este índice era de 59%. A queda da popularidade está diretamente ligada a continuidade da aplicação das medidas neoliberais, ao mesmo tempo em que endureceu a repressão.
Uma das principais medidas que Macron está preparando é uma nova reforma da Previdência, que pode modificar a idade mínima para conseguir a aposentadoria – hoje aos 62 anos. Outra medida neoliberal é a nova proposta de “lei da Escola” proposta pelo ministro da Educação que quer inserir um conjunto de medidas administrativas nas escolas, como competitividade entre escolas e classes, provas nacionais e pressão por resultados. Com isso, Macron cede a pressão dos grandes empresários e da burguesia imperialista francesa.
Por outro lado, como forma de responder ao desgaste social, Macron aumentou a repressão às mobilizações de massas. Os estudantes que se mobilizam contra o novo sistema devem ser sancionados. Para os Coletes Amarelos foi previsto a mobilização de setores do Exército da operação Sentinela – criada em 2015 para combater o terrorismo. Vale lembrar que a declaração de Estado de Emergência, que dá poderes excepcionais ao Estado, está inscrita no direito comum francês desde 2017, o que permite ao Estado tomar medidas de exceção de forma regular em razão do que eles consideram “ameaças”. Um dos piores números da repressão é o número de presos e processados desde que começou as mobilizações dos Coletes Amarelos. Desde 17 de novembro de 2018, foram detidas 8.700 pessoas. Cerca de 2.000 pessoas foram processadas, sendo aproximadamente 800 pessoas condenadas a prisão fechada e 1.200 submetidas a sanções (multas, trabalho voluntário, etc.).
Frente a isso, um conjunto de organizações políticas como NPA, o Partido Comunista Francês, o Partido de Esquerda e movimentos sociais como a união de estudantes, UNEF, e o sindicato Solidaires, lançaram uma declaração contra a guinada autoritária do regime político francês.
Na situação de crise política e social, o “novo” representado por Macron se demonstra cada vez mais semelhante ao “velho”: frente às demandas democráticas dos movimentos sociais, uma resposta cada vez mais autoritária e bonapartista, comum em qualquer parte do mundo toda vez que a classe trabalhadora luta por seus direitos.
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