Tallia Sobral
Professora da rede pública estadual de Juiz de Fora
Se fizéssemos um filme sobre a história do Brasil, o período da escravidão, com certeza, seria uma das piores cenas, por conta do caráter da exploração europeia sobre os povos africano e indígenas, mas principalmente pela sua falta de humanidade.
Os navios negreiros, o comércio de negros escravizados, a tortura, objetificação de homens e mulheres, o abuso sexual e a dominação cultural e religiosa tomariam a atenção e dariam o tom da trama. Não sem razão. É inacreditável a falta de limite moral de proprietários, representados pelos senhores de engenho, para aumentar sua riqueza e avançar na dominação econômica e política mundial.
Mas um fato inquestionável e animador, que roubaria a cena e daria um novo contexto, assim como na realidade, seria a resistência negra. Os quilombos, o candomblé, a umbanda, o samba, o jongo e capoeira são símbolos dessa resistência física, militar e cultural.
Se é verdadeira a frase de que para acabar com um povo é necessário acabar com sua cultura, também é verdade que para se reconhecer enquanto tal, os escravos africanos no Brasil, criaram sua própria identificação cultural, com características e atividades comuns, socialmente construídas entre eles e específicas da conjuntura que viveram. E a capoeira faz parte dela.
A capoeira como elemento de resistência
A capoeira surge no Brasil por meio dos negros escravizados trazidos da África como um mecanismo de luta e resistência. Muito utilizada no embate direto com capatazes, capitães do mato e feitores, tanto em momentos de negação aos castigos, quanto para momentos de fuga, ela foi essencial na defesa militar dos quilombos. Os lideres dos grupos responsáveis em proteger os quilombos e os líderes dos próprios quilombos eram normalmente os melhores capoeiristas. Dois grandes exemplos foram Ganga Zumba e Zumbi dos Palmares.
Desde seu surgimento, pela repressão sobre os capoeiristas, a capoeira vai incorporando as culturas trazidas pelos negros da África. A música e a dança passam a ser parte dos momentos de treino e exercício. E mais do que ter seu caráter de luta física, a capoeira passa a ser um elemento de resistência cultural e da construção de uma identidade do povo negro em nosso país.
No Brasil, país mais negro fora do continente africano, a capoeira deve ter seu caráter cultural e de resistência resgatado, como símbolo da luta dos explorados contra os exploradores, na luta do povo pobre e negro contra toda exploração e racismo. Nós construímos esse país, nós trabalhadores e trabalhadoras produzimos toda a riqueza e sobre ela devemos ter o direito!
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