‘Blitz da Amarração’, da Prefeitura Regional de Pinheiros, é denunciada por racismo religioso
Publicado em: 14 de junho de 2017
Da Redação
O prefeito regional de Pinheiros, em São Paulo, Paulo Mathias, PSDB, foi protagonista de um vídeo, divulgado nas redes sociais, de uma campanha da Prefeitura Regional com o mote #DesamarraJá, que teria como objetivo remover anúncios irregulares das paredes da cidade. Mas, as apreensões divulgadas no vídeo remetem apenas a divulgações de religiões afro-brasileiras. A Coordenação Nacional do ILABANTU, Instituto Latino Americano de Tradições Bantu, divulgou uma nota de repúdio à ação preconceituosa.
Assista ao vídeo
Leia a íntegra da nota:
O NOTA DE REPÚDIO À OPERAÇÃO BATIZADA COMO “BLITZ DA AMARRAÇÃO” REALIZADA PELA PREFEITURA REGIONAL DE PINHEIROS – SP
Em parceria com fiscais da Prefeitura da cidade de São Paulo, Polícia Militar e Guarda Civil Metropolitana, o Prefeito Regional de Pinheiros, Paulo Mathias, do PSDB, resolveu montar uma “grande operação” em prol do interesse público dos munícipes, a qual batizou de “Blitz da Amarração”. O objetivo seria remover anúncios irregulares que “emporcalham a cidade”, apreender o material e punir os responsáveis.
Ocorre que, o tipo de material apreendido e divulgado em vídeo nas redes sociais refere-se apenas a anúncios supostamente relacionados com religiões afro-brasileiras. Ora, há inúmeros outros tipos de anúncios colocados de maneira irregular, por que então uma predileção no “combate à amarração”?
Sabemos que o racismo brasileiro possui um amplo repertório de atuação, especializando-se em hierarquizar – consciente ou inconscientemente – atribuindo estereótipos negativos aos referenciais culturais, sociais e espirituais pertencentes à população negra. Porém, quando denunciamos a injustiça racial pela perpetuação de desigualdades, ela é justificada como chiste ou mal-entendido.
É notório o fato de que diante dos processos formais de desenvolvimento urbano, aliados à perspectiva consumista da modernidade capitalista, milhares de mentes recebem, diariamente, informações distorcidas através dos bombardeamentos midiáticos, o que corrobora para infundir o racismo, a intolerância religiosa, o preconceito e a discriminação.
Em todas as religiões há falsas profissões, falsos líderes, sacerdotes corruptos e abusadores. O que não toleraremos é esse tipo de comunicação de representante de órgão público que programa uma ação dirigida, exclusivamente, a anúncios referentes a religiões de matrizes africanas, reforçando estereótipos e preconceitos inerentes ao racismo institucional, impregnado em nossas instituições.
O modo de ser de uma metrópole, cujos valores são o consumismo, a velocidade, o interesse privado sobreposto ao interesse público, o desemprego que desponta, a necessidade de sobrevivência, a destruição das faunas e floras, a poluição dos recursos hídricos e o desrespeito à biodiversidade tornam os espaços urbanos, cada vez mais, espaços hostis ao desenvolvimento dos Povos e Comunidades de terreiro. Sobretudo nas dimensões paulistas, que, dentro dessas dinâmicas dessacralizadoras, acabam por produzir modificações no interior de seus códigos e tradições, fato combatido e não compactuado pela própria comunidade de terreiro.
Sugerimos ao Prefeito da cidade de São Paulo e seus Prefeitos regionais a se adequarem às dinâmicas da cidade conclamando as comunidades de terreiro para estabelecer políticas públicas que auxiliem na manutenção de suas tradições e assegurem os direitos constitucionalmente garantidos de liberdade de culto e crença e de proteção aos locais de suas liturgias. (CF, artigo 5º, inciso VI). Vale dizer ainda, que a apresentação destas demandas ocorre de forma transversal, na medida em que, as reivindicações não são somente por garantia e viabilidade institucional das culturas tradicionais de origem africana, mas ao direito à saúde, alimentação, moradia, segurança, educação e melhores condições de vida a toda população afro-brasileira e africana na diáspora.
Nesta perspectiva o ILABANTU se configura como uma organização coletiva voltada ao amadurecimento das pautas reivindicatórias dos Povos de Comunidades Tradicionais de Matriz Africana frente aos diálogos com o poder público.
Não iremos permitir que nossa religião, criminalizada e duramente perseguida por órgãos oficiais até o Código Penal de 1940 continuem a sofrer agressões, sob pena de apuração de crime de responsabilidade por intolerância religiosa.
Repudiamos, veementemente, ações que reproduzem a inegável herança racista proveniente da colonização e escravidão de populações africanas no Brasil.
São Paulo, 13 de junho de 2017.
A Coordenação Nacional do ILABANTU
Instituto Latino Americano de Tradições Bantu
Leia ainda: Lei não proíbe sacrifício religioso em animais, decide TS-SP
Top 5 da semana

brasil
Prisão de Bolsonaro expõe feridas abertas: choramos os nossos, não os deles
brasil
Injustamente demitido pelo Governo Bolsonaro, pude comemorar minha reintegração na semana do julgamento do Golpe
psol
Sonia Meire assume procuradoria da mulher da Câmara Municipal de Aracaju
mundo
11 de setembro de 1973: a tragédia chilena
mundo