Por Matheus Gomes e Rodrigo Claudio
A publicação da última pesquisa eleitoral em Porto Alegre confirmou Luciana Genro como favorita para as eleições de outubro: a candidata do PSOL aparece em todos os cenários em primeiro lugar, a frente das pré-candidaturas do PMDB, PT, PDT e PSDB.
Nos parece que a preferência da população portalegrense a Luciana é uma expressão da audiência conquistada pelo PSOL nos últimos processos eleitorais e também é produto da experiência do conjunto da população porto-alegrense com os governos do PT (começou com Olívio em 1988 até o mandato de Tarso e João Verle em 2004) e os políticos tradicionais da direita gaúcha (José Fogaça e Fortunati). Nenhuma alternativa eleitoral conseguiu modificar qualitativamente as condições de vida do povo negro e trabalhador da cidade. A expectativa em Luciana é reflexo do desejo de mudança e da polarização social que cresce a cada dia, por isso estamos diante da possibilidade de um governo do PSOL. Mas em meio ao fim do ciclo petista, precisamos apresentar um projeto que seja o oposto do aplicado anteriormente, construído através das lutas sociais e da organização independente da burguesia.
A realidade é que tem sido presença marcante nas mobilizações que começaram desde as jornadas de junho de 2013, forças de esquerda alternativas ao PT que cumpriram um papel protagonista nas grandes lutas da cidade como as mobilizações que culminaram com a redução da passagem, as lutas por moradia e as ocupações urbanas, as novas mobilizações do movimento negro independente, a luta pelo direito a cultura e o uso dos espaços públicos, as retomadas indígenas, as ocupações de escola, mobilizações dos movimentos feministas e LGBT’s, as greves dos rodoviários e municipários de Porto Alegre.
Os militantes que se organizam a partir do manifesto “É preciso arrancar alegria ao futuro” recebem com felicidade essa notícia mas também com preocupação devido aos rumos da política de alianças com a abertura de negociações com a Rede para a composição da chapa para a Prefeitura abertas pela direção do PSOL.
A política de aliança do PSOL com a Rede é um grande erro
Existe uma expectativa que a candidatura de Luciana Genro enfrente os interesses da especulação imobiliária e da máfia do transporte, ou seja, que seja uma candidatura que inverta a ordem de prioridades. Sabemos que a cidade tem um nítido corte de classe: de um lado a burguesia e do outro a Porto Alegre da periferia, do povo negro e explorado. Diante dessa situação, a pergunta que fica é se é possível enfrentar os interesses dos poderosos fazendo coligações com os partidos que representam esses interesses?
A experiência com os governos na esfera nacional, estadual e municipal do PT nos últimos anos nos fazem chegar a conclusão que parte da crise moral e política que esse partido passou com os escândalos de corrupção que culminaram com o impeachment de Dilma Roussef, processo esse dirigido pelo PMDB do seu vice-presidente, tem a ver com a política de alianças que o PT começou a aplicar nos anos 90 e que foi decisiva para a assimilação desse partido pelo estado capitalista e a degeneração de sua direção. A política das alianças sem princípio, ou seja, de colaboração de classes, terminou em uma tragédia para a esquerda brasileira e agora devemos fazer um balanço para construir novas alternativas e novas práticas para uma esquerda socialista e revolucionária.
A direção do PSOL em Porto Alegre ao abrir discussões de composição de chapa com a Rede, assim como o mesmo movimento feito em Cachoeirinha na região metropolitana, onde o PSOL lançou uma coligação com o PCdoB e Rede para a prefeitura, sinalizam com uma repetição de métodos do ciclo petista. Dessa forma comprometeremos o diálogo com os milhões de jovens que protagonizaram inúmeras lutas nos últimos anos e rechaçaram a política tradicional, gritaram contra os políticos da ordem e as instituições.
A Rede é o partido de Marina Silva, uma das principais candidatas para a presidência em 2018, que no segundo turno das eleições presidenciais apoiou Aécio Neves (PSDB) e foi fortemente financiada pelo Grupo Itaú. Na cidade de Porto Alegre é o partido de Regina Becker Fortunati, que está ligada politicamente ao Prefeito Fortunati que está no seu segundo mandato e é responsável pelos principais ataques que sofremos nos últimos anos e Regina Becker foi a deputada estadual que atacou as religiões de matriz africana e, felizmente, foi derrotado após uma forte mobilização. Os estudantes, rodoviários, municipários, lutadores pela moradia e o povo negro sabem muito bem que a Família Fortunati governa para os ricos, devemos manter distância deles e combatê-los de maneira firme.
Os argumentos utilizados pelos companheiros da direção do PSOL são muito parecidos com o que a direção do PT utilizava para chegar as prefeituras: “É preciso construir uma coligação para governar e garantir maioria na Câmara de Vereadores”, “precisamos de mais tempo de TV para que sejamos viáveis eleitoralmente”. Não concordamos com essa argumentação. Para construir uma alternativa anticapitalista é preciso governar apoiado na mobilização e organização popular. O PT em Porto Alegre provou que alternativas que transformam instrumentos como o Orçamento Participativo em meros apêndices da democracia burguesa também não solucionam os problemas do capital. Estamos atrasados na construção de uma articulação ampla entre o conjunto dos movimentos sociais, isso construiria a estabilidade para transformarmos Porto Alegre numa cidade rebelde, onde o povo decida de fato. Acreditamos que a candidatura de Luciana deva estar a serviço dessa tarefa e seu peso eleitoral hoje pode ser o trampolim para impulsionar nossas lutas.
Frente de Esquerda com Luciana para ser uma alternativa ao PT e a Direita tradicional.
Fazemos um chamado a direção do MES, corrente majoritária do PSOL no Rio Grande do Sul, a interromper imediatamente as negociações de conformação de uma coligação com a Rede. Essa coligação inviabilizará a presença de organizações importantes da esquerda socialista como o PSTU e PCB.
O melhor nome para representar a esquerda socialista que não se vendeu aos interesses do capital é Luciana Genro mas para isso ela tem que ocupar o papel que está colocado. Convocar os partidos da esquerda independente e socialista como o PSTU, PCB, organizações políticas sem legalidade, os movimentos sociais de moradia, os estudantes que ocuparam as escolas de Porto Alegre e lutaram pela educação pública, os LGBT´S, os negros e negras, as mulheres para organizar um grande movimento social dos de baixo para apresentar um programa que represente os interesses da maioria da sociedade. Esse movimento ainda é possível e seria uma vitória significativa para os trabalhadores e para a juventude de Porto Alegre. Essa é a expectativa dos melhores ativistas, da geração de jovens que começam a despertar para as lutas sociais e querem honestamente construir uma alternativa ao PT e a direita.
Os militantes do manifesto “ É preciso arrancar alegria ao futuro “ estarão nas primeiras fileiras para lutar por uma frente de esquerda em Porto Alegre nas lutas e eleições.
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