Por: Renato Fernandes
No último 3 de outubro, logo após as eleições municipais, Michel Temer fez uma viagem rápida para dois países do região: Argentina e Paraguai. O objetivo dessa viagem era o de construir uma nova aliança, no interior do Mercosul, para fortalecer as políticas neoliberais regionalmente.
Como disse Temer em entrevista na Argentina, essa visita teve como eixos o “fortalecimento do Mercosul como instituição”, dar passos para a conclusão do acordo de livre comércio com União Europeia, além da viabilização de acordos econômicos entre ambos países. Ambos presidentes, Maurício Macri e Temer, expressaram preocupação com a situação na Venezuela e insistiram no ultimato de suspensão de Caracas do Mercosul se não cumprir as exigências do bloco. Em todo esse processo de negociação, o que aparece mais claro é que Temer e Macri têm disposições para “flexibilizar as regras do Mercosul”, o livre comércio e de fecharem acordos bilaterais (entre os países ou com a UE), mas não tem nenhuma disposição de flexibilização com relação à Venezuela.
Perguntados pelos jornalistas sobre o plebiscito na Colômbia, tanto Temer, quanto Macri afirmaram que “desejam” que as negociações para a Paz continuem, sem se posicionarem concretamente sobre os marcos dessas negociações.
Temer ainda comentou sobre as eleições municipais brasileiras, afirmando que, por um lado, há uma “grande insatisfação com a classe política” em razão dos altos níveis de abstenção, brancos e nulos. Por outro lado, afirmou que há uma “continuidade democrática” e que as eleições demonstram a força da democracia no Brasil e que isso tem que ser “festejado”. Em última instância, essas afirmações coincidem com a análise de alguns cientistas políticos no Brasil, que essa “abstenção eleitoral”, em determinado sentido, pode servir também para “saídas conservadoras” no âmbito eleitoral. É isso que o discurso de Temer tenta fazer.
Para Macri, Temer está mais à direita do que ele
O governo de Macri na Argentina tem um claro programa neoliberal: redução dos investimentos estatais na economia para melhor garantir o pagamento da dívida do Estado. Nesse sentido, abrir a economia por meio de acordos comerciais para aumentar o investimento privado no país. Dentro desse projeto de Macri está o “tarifazo”, isto é, um aumento de até 400% nas tarifas de água, luz, gás, transporte, etc.
Esse plano enfrentou uma enorme resistência na Argentina. Parte do “tarifazo” foi cancelado pela justiça, pressionada pelos protestos populares, e deve ter um ritmo diferente do que o presidente Macri queria.
Frente a essa situação e comparando a política de ambos países, um assessor de Macri afirmou que “Temer é mais de direita que nós”. Essa frase deve ser entendida de duas maneiras. A primeira é uma interpretação literal: de que o programa de Temer é mais neoliberal do que o de Macri. Isto sem dúvida. Mas, a segunda tem a ver com a relação de forças: Macri tem uma dificuldade maior do que Temer para implementar seus projetos. Consegue reduzir o investimento estatal, mas não avançar numa proposta de flexibilização dos direitos trabalhistas e de privatização das empresas públicas.
Temer foge dos protestos “pela democracia”
Perguntado das razões que o levaram votar às 8h da manhã no último domingo, em tom cômico, Temer afirmou que foi melhor para “ele e para a democracia” evitar o protesto de estudantes. Na verdade, isso representa o medo que ele tem da “democracia dos debaixo” e das manifestações contra ele.
Na visita na Argentina, Temer optou por não fazer uma “visita oficial”, pois teria que ir ao Congresso argentino onde seria chamado de “golpista” e seria questionado pela oposição. Optou também por encontrar-se com Macri na residência oficial da presidência argentina, em Olivos, cidade na região metropolitana de Buenos Aires e não na Casa Rosada, onde os protestos contra ele seriam maiores. Na verdade, as ações de Temer demonstram o medo que está instalado em alguns quadros do governo.
Apesar disso, o “fujão” foi bem recepcionado por algumas dezenas de brasileiros e argentinos, que aderiram ao chamado do Coletivo Passarinho, e entoaram o “fora temer” e “liberaram” algumas ratazanas para simbolizar exatamente o caráter do governo
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