Por: Jonathan Zotti da Silva, morador de Porto Alegre, professor da rede pública do RS, formado em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
O Brasil pós-golpe de 2016 ainda mantém certa bipolarização política. Isso é negativo, pois o cenário político brasileiro não se resume a dois polos; também porque muitos trabalhadores não tem formação política suficiente para pensar de maneira autônoma o que a mídia impõe. E o que a mídia impõe nesse momento é a caçada aos petistas de maneira espetacular, colocando os antipetistas no lado bom da história e os petistas no lado ruim. Pior, o senso comum joga a esquerda toda no rótulo de petista. É efeito colateral. Nesse sentido, o desafio da esquerda socialista é superar o petismo e unificar os trabalhadores, que hoje se encontram polarizados de acordo com os interesses da mídia.
Muito tem se escrito sobre como superar o petismo. Aqui no Esquerda Online temos ótimos artigos tratando sobre o tema. Portanto, este texto não versará especificamente sobre essa pauta. Antes, é necessário debater sobre como unificar os trabalhadores, o que não é uma tarefa fácil em nenhum momento, especialmente na atual conjuntura nacional.
Infelizmente, a corrupção quase que generalizada que se instalou no seio do Partido dos Trabalhadores fez com que o povo se decepcionasse com a política de maneira geral. Essa decepção é maior com os partidos e movimentos de esquerda – em grande parte por causa da influência das manchetes, é claro. Então, para que a esquerda volte a ter legitimidade, é preciso reconquistar a confiança dos trabalhadores. A maneira mais apropriada para fazer isso é a proposição. A esquerda socialista precisa defender pautas populares, precisa protagonizar a luta pela construção dos serviços públicos. Abaixo seguem, de maneira aleatória, algumas pautas que unificam a vontade popular:
– acabar com o auxílio-moradia, e outros penduricalhos, dos juízes;
– diminuir os penduricalhos dos deputados, como verba de gabinete, cota parlamentar e auxílio-moradia;
– parar a ofensiva contra os direitos dos trabalhadores, como a reforma da previdência e a reforma da CLT;
– parar a ofensiva contra o SUS, lutando para que este aumente ao invés de diminuir em função dos planos de saúde;
– parar a ofensiva contra a educação pública, exigindo o pagamento imediato do piso do magistério, combatendo o corte de verbas, a Reforma do Ensino Médio imposta e a privatização dos programas de pós-graduação;
– renegociar as dívidas dos Estados, sem que estes tenham de aplicar medidas de austeridade contra os servidores públicos e os cidadãos;
– acabar com a contribuição sindical, que é anual, mas cobrada compulsoriamente;
– reivindicar uma distribuição mais igualitária do “bolo tributário”, para que Estados e municípios recebam fatias mais justas dos repasses;
– barrar a limitação por franquia do consumo de internet;
– acabar com o foro privilegiado;
– auditar as dívidas dos Estados e da União de maneira transparente, a fim de resolver algo que compromete mais da metade das finanças públicas;
– acabar com a aposentadoria especial para políticos;
– acabar com a pensão vitalícia para filhas de militares.
É preciso retomar a direção do processo político no país. Não se pode deixar a narrativa nas mãos do PMDB. A cada dia mais, os trabalhadores estão entendendo que Michel Temer é ainda pior para as classes populares do que o último governo de Dilma Rousseff. Mas, parece que ainda não enxergaram outro ator político que esteja legitimamente ao seu lado. Se a esquerda não se unir para protagonizar a luta em torno de proposições, ou a direita o fará com as suas pautas. Mais do que nunca, este é o momento em que a esquerda precisa ser oposição e proposição.
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