Por: Aruska Patri, de Niterói, RJ
Conheci-o através de uma carta. Essa frase pode parecer romântica se você imagina duas pessoas trocando correspondências de amor. Mas a carta em questão foi a primeira grande aparição nacional do diabo. Uma tentativa de “recuperar o protagonismo político”. Ele cansou de ser vice decorativo. Nunca vou esquecer: “Verba volant, scripta manent” (As palavras voam, os escritos permanecem).
Quando o PT tentava algum acordo político, ele os atrapalhava. Quando o golpe tava sendo preparado, ele então auxiliava. Sempre coadjuvante, deixava claro que um dia seu destino seria cumprido. Tornaria-se o terceiro político do PMDB presidente do Brasil. Sem vencer nenhuma eleição! Foi ódio à primeira vista, mas acho que foi para todo mundo.
Passamos alguns meses de expectativa. Ele, esperando o golpe ser sacramentado. Eu, esperando uma reação do PT que nunca veio. Desde então, migramos juntos do governo de frente popular para um de direita tradicional. Ele, na linha de frente. Eu, na resistência.
Começamos a nos relacionar quando ele tinha 76 e eu 25, e me parecia que os maiores problemas começavam ali. Vi o ajuste fiscal de Dilma ser aplicado por ele até às últimas consequências. Tentei todas as receitas possíveis com o que deu para comprar depois da inflação. Escolhi não chorar todos os dias por nunca poder me aposentar. Fiz uma dúzia de novos amigos nas muitas manifestações que tivemos que fazer contra ele. Sofri com sua reforma trabalhista, gargalhei com o rechaço que sofre nacionalmente. Separados, olhamos o Brasil em ebulição. Dos dez maiores pesadelos que eu tenho hoje, sete foi ele quem me apresentou. Os outros três são os projetos que ainda não sancionou. Aprendi com ele o significado de ‘lutar sem Temer’, ‘primeiramente’ e outras palavras que o word tá sublinhando de vermelho para demarcar posição.
Nós ainda não terminamos. Ele, de tentar aprofundar os ataques contra minha classe. Eu, de resistir e de preparar sua derrubada. Não será fácil. Para nenhum de nós dois. Mas eu tenho milhares comigo. Até hoje, não tem um lugar que eu vá que alguém não diga, em algum momento: Fora Temer! Parece que, pra sempre, ele vai ser primeiramente. Se ao menos a gente for até o fim, eu penso. Levaria ele queda abaixo.
Hoje li que o tribunal de justiça anulou os julgamentos do Massacre do Carandiru, que condenou 74 PMs. Fleury, governador na época, é integrante da executiva estadual do PMDB. Achei que fosse chorar tudo de novo. Mas o que me deu foi um ódio muito profundo. E também uma força gigante de lutar e derrotar essa direita asquerosa. As ruas hão de responder ao seu governo ilegítimo. Nossa relação será cobrada pela história. Não faltará nada.
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