Essas eleições bateram o recorde de candidaturas trans, 82 candidatas mulheres trans e travestis e dois candidatos homens trans. Em 2012, eram apenas 40 candidatas a vereadora ou vereador. A maioria é do PSOL. Mesmo sendo um partido muito pequeno, apresentou 29 candidatas a vereadora e as duas únicas candidatas a prefeita. Esse partido tornou-se referência na luta contra a transfobia e atraiu as jovens ativistas trans.
Muita gente ainda se lembra da surpresa que ocorreu naquele debate televisivo, quando Luciana Genro, candidata à Presidência da República pelo PSOL, questionou o reacionário Levy Fidélix acerca do tema LGBT e defendeu, na réplica, o combate à homofobia e, pasmem, transfobia. Além dela, quem sequer mencionou essa palavra ainda pouco conhecida pela população? Quem mais, no horário eleitoral, deu qualquer visibilidade às pessoas trans ou defendeu o combate à LGBTfobia?
Ora, de fato, Luciana Genro fez um feito inédito. Deu visibilidade a quem é invisível. O tema LGBT é praticamente proibido. Fidélix, por exemplo, começou a resposta dizendo que a candidata não deveria ter entrado nesse tema. “Pegou pesado”, disse. Pois é, “pegou pesado”, tocou na ferida. Falou de um tema que é tão tabu que até parte da esquerda, inclusive parte do PSOL, evita tocar.
Por outro lado, a Dilma acabou ganhando a confiança de muita gente ao dizer que a homofobia deveria ser criminalizada, mas nem mesmo fez qualquer pronunciamento quando o PLC 122, que criminalizaria a LGBTfobia, foi definitivamente arquivado. Ora, ela mesma já havia abandonado os direitos LGBTs no começo de seu mandato, quando escreveu a famigerada ‘Carta ao povo de Deus’, que, convenhamos, não era uma carta ao povo, mas para costurar uma aliança com os fundamentalistas de partidos como PSC, PR e outros.
O PSOL, com justiça, tornou-se referência para a nova vanguarda LGBT que decepcionou-se com as inúmeras traições do PT e que enfrentou-se com os fundamentalistas quando estes se mobilizaram para retirar o debate sobre gênero, identidade de gênero e orientação sexual das escolas. É a mesma vanguarda que fez parte do Fora Feliciano, Fora Cunha e também do Fora Temer. Essa é a vanguarda que revoltou-se com os inúmeros ataques dos reacionários desde que começaram as manifestações ‘Fora Dilma’ e que, nessas eleições, perceberam que precisam se organizar para derrotá-los.
Representatividade importa
Ainda existem muitos obstáculos para que as pessoas trans possam se candidatar. A maioria das candidatas a vereadora, como não encontram nenhum apoio do governo para mudar p nome e sexo nos registros, aparece nas eleições como se fossem candidatos homens. Sendo assim, não contam na cota das candidaturas femininas. Além disso, não existem cotas para LGBTs, quanto mais para pessoas trans, nem qualquer incentivo para promovê-las nas eleições. Muito pelo contrário, das mais de 500 mil candidaturas ao todo, apenas 0,017% são trans.
Por isso, uma candidata ou candidato trans apresentar-se nas eleições é um posicionamento político. Infelizmente, muitas delas apresentam-se a partir dos partidos conservadores como PP (partido de Maluf e antigo partido do Bolsonaro), PMDB (partido do Eduardo Cunha e do Temer), PSB e PMN. Outras apresentam-se pelo PT e PCdoB, que, mesmo após o impeachment, continuam se aliando com os mesmos partidos conservadores. Mas, ser trans não basta, é preciso que a representatividade seja também no programa, aliás, isso é o mais importante. A única forma de apresentar-se como oposição aos fundamentalistas é através dos partidos da esquerda socialista, PSOL, PCB e PSTU, que são os únicos partidos independentes dos conservadores, reacionários e golpistas.
Não tenho dúvidas que o fenômeno de candidaturas LGBTs socialistas, em particular as trans, representam um fenômeno muito progressivo, de contra-ataque aos fundamentalistas. É verdade que a vasta maioria delas é inexperiente no tema das eleições, muitas vezes não sabem fazer realizar uma campanha eleitoral, disputar votos, apresentar um programa completo para a cidade. Mas, são candidatas de luta que viram na esquerda socialista um programa contra as opressões.
Por tudo isso, no próximo domingo, quero convidar as leitoras e leitores deste texto a dar um voto de confiança nas candidaturas da esquerda socialista, em particular nas trans. Defendo o voto na Indianara Siqueira (Rio de Janeiro, RJ), Luiza Coppieters (São Paulo, SP), Amara Moira (Campinas, SP), nas outras candidatas a vereadora e nas candidatas a prefeita Sâmara Braga (Alagoinhas, BA), Thifany Félix (Caraguatatuba, SP).
Defendo, em especial, voto nas candidaturas do #MAIS: Amanda Gurgel (Natal, RN), Lu Araújo (Maceió, AL), e outras, que, apesar de não serem trans, têm sido importantes aliadas na luta LGBT.
Neste domingo, é importante não votar nos velhos partidos, nem deixar um voto nulo, ou em branco. Vamos votar na esquerda socialista, que representa visibilidade à nossa luta e ao combate contra os fundamentalistas. Vamos mostrar para o povo que também nas eleições existe luta e resistência.
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