A guerra civil na Síria, que se desencadeou após a brutal repressão do regime de Assad contra o levante popular começado em 2011, está chegando a níveis inéditos de dramaticidade e sofrimento.
O país está destruído, com cerca de 300 mil mortos, 4,8 milhões de refugiados nos países vizinho, 6 milhões de deslocados internos, segundo a agência de refugiados da ONU, ACNUR, em um país de 20 milhões de habitantes.
Há um impasse na guerra civil, uma espécie de equilíbrio mortal entre as forças que se enfrentam hoje no país. O panorama da guerra civil é complexo. Há várias forças fundamentais e subdivisões, o regime e seus aliados russos, iranianos e do Hizbolah; os rebeldes que podem a grosso modo ser divididos entre o Exército Livre da Síria e seus aliados, que incluem em alguns lugares como em Aleppo o Fatah Al-Sham, novo nome da Al-Qaida na Síria e as Forças Democráticas da Síria, centradas nos curdos sírios e seus aliados. E esse quadro varia de região para região.
Na segunda maior cidade do país, Aleppo, trava-se uma batalha que pode ser decisiva na guerra civil. Uma batalha que divide a cidade em duas áreas fundamentais, a controlada pelo regime, a controlada pelos rebeldes, além de um enclave dominado pelos curdos e, fora da cidade, a presença de forças do Estado Islâmico.
A ‘trégua’ acertada por americanos e russos entra em colapso
No dia 10 de setembro, os EUA e a Rússia reuniram-se em Genebra e acertaram um acordo secreto, do qual se conhecia concretamente o primeiro passo, um cessar-fogo por sete dias, seguido do envio de comboios humanitários às áreas atingidas e, ou cercadas. Dizia-se também que, após esse período, haveria um ataque conjunto contra as forças do Estado Islâmico e a Fathah Al-Sham.
A primeira parte do plano funcionou de forma precária, com acusações de violação de parte a parte. Mas, quando os comboios de ajuda foram enviados a Aleppo no dia 19, foram bombardeados, ao que tudo indica pelos russos e pelo regime sírio.
Após isso, recomeçou o inferno. Hoje, o exército sírio lançou uma ofensiva para tentar conquistar o máximo de terreno em Aleppo, que está dividida em setores dominados pelo regime e outros dominados pelos rebeldes. No que parecem ser os piores bombardeios desde o começo do levante na Síria em 2011, os bombardeios das forças do regime já causaram pelo menos 90 mortos, com cenas de terror indescritíveis.
Se o regime conseguir conquistar Aleppo, terá dado um passo importante para se fortalecer. Mas, a equação na Síria é muito complexa. Sem entrar em detalhes, muitos elementos complicadores existem:
– a estreita ligação de setores rebeldes com a Fatah Al-Sham torna difícil que sejam atacados por americanos e russos, caso estes se acertem novamente,
– a invasão das tropas turcas aumentou a regionalização do enfrentamento no campo de batalha e se enfrenta diretamente com os curdos sírios na região semi-autonôma curda de Rojava.
– capítulo à parte é a existência da área dominada pelo Estado Islâmico com centro na cidade de Raqqa, que tem ligação com a região por ele dominada no Iraque, com centro em Mosul, a segunda cidade do país vizinho.
Nesse contexto, a batalha de Aleppo pode dar um novo rumo à guerra civil. Aparentemente, o regime aposta em aproveitar o impasse para estabelecer fatos consumados no campo de operações e negociar em melhores condições. As 250 mil pessoas na área dominada pelos rebeldes está sofrendo as consequências dessa ofensiva brutal.
Assista ao vídeo com imagens da destruição
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