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O incêndio no parlamento alemão: a fake news que permitiu a Hitler perseguir os comunistas

Por: Gabriel Santos, de Maceió, AL

Na manhã do dia 28 de fevereiro de 1933, a cidade de Berlim acordava tensa, com a notícia do ocorrido na noite anterior: o incêndio no prédio do parlamento alemão, o Palácio do Reichstag. Policiais cercavam o local, impedindo o acesso dos curiosos para ver o que restou após os bombeiros terem apagado as chamas.

O chanceler Adolf Hitler chegou ao local e nitidamente transparecia o estado de perturbação. Hitler havia sido nomeado chanceler em 30 de janeiro daquele ano e, menos de um mês depois, nem ele e nem o partido nazista haviam se consolidado no poder e eram minoritários na coalizão que estava no governo. Mesmo já tendo tomado medidas de cunho autoritário, como o decreto de 04 de fevereiro, que limitava a liberdade de imprensa.

Martinus Van der lubbe, preso no Reichstag, foi executado no ano seguinte.

A polícia prendeu suspeitos e começava o interrogatório em busca dos responsáveis pelo incêndio. Entre os detidos estava um jovem holandês de 24 anos, Marinus Van Der Lubbe, que havia sido membro da juventude comunista em seu país dois anos antes, em 1931, e que estava há pouco tempo na capital alemã. Este acabou confessando que provocou o incêndio, como um protesto pela ascensão dos nazistas, mas que havia agido sozinho.

Hitler afirmou existir uma conspiração comunista para assumir o poder. Relatos e biógrafos dizem que o chanceler alemão ficou totalmente histérico ao ser informado que uma única pessoa foi responsável pelo incêndio no Reichstag. Hitler teria declarado: “Precisamos exterminar essa peste assassina com punho de ferro”. Assim Hermann Göring, comandante da polícia prussiana, declarou estado de alarme máximo, autorizando seus subordinados a usar armas de fogo.

Na mesma noite do incêndio, aquele longo dia 27, a polícia recebeu de Göring a instrução de prender deputados comunistas e funcionários do partido. As tropas da SA, forças paramilitares do partido nazista, logo entraram em ação. Elas levaram as pessoas para prisões provisórias, onde muitas seriam torturadas. Durante o mês de março, mais de 25 mil pessoas foram detidas nestas ações da SA.

Em nome da proteção do povo e do Estado, o presidente do parlamento alemão, Von Hindenburg, assinou um decreto que eliminava a liberdade de expressão, reunião, manifestação e de imprensa, assim como o sigilo de correspondência e deu o direito de o governo intervir em estados para garantir a “paz e a ordem”. Tudo isto em nome da suposta ameaça comunista.

Hitler e os dirigentes do partido nazista reconhecem que este incêndio era uma oportunidade única. A população se sentia insegura. As elites temiam a ameaça bolchevique. Eles possuíam o motivo (desculpa) ideal para combater seus inimigos, os comunistas e o movimento operário.

Sem provas, sem controle jurídico, sem evidências, Hitler começou a fechar qualquer jornal que lhe fosse desconfortável, em nome da pátria da Alemanha e de Deus.

Sem grande oposição, a exceção do movimento operário organizado, as liberdades democráticas começaram a ser retiradas, e os grandes jornais faziam coro com a “ameaça comunista”, saudando cada uma das medidas de segurança tomadas. Ao final do ano, a Alemanha vivia uma ditadura.

Apenas oito dias após o incêndio no Reicshtag, em 05 de março, diante de uma forte campanha contra os comunistas e demais partidos operários, aconteceram as eleições na Alemanha. As ruas das principais cidades alemãs estavam tomadas pela propaganda nazista, com cartazes nas ruas, apoiadores, jornais e até aviões com mensagens a apoio a Hitler e seu partido. Obviamente o partido nazista e Hitler saem vitoriosos, com 43,7% dos votos.

O resultado não foi o esperado por Hitler, que esperava superar facilmente os 50%, mas destas eleições em diante o fortalecimento dos nazistas rumo a conquista do Poder e de sua ditadura de ódio caminhou a passos largos.

Com a prisão dos 81 deputados do partido comunista e outros 11 do partido social democrata, Hitler consolida sua maioria parlamentar. Estes dois partidos juntos tiveram quase 40% dos votos. O restante da oposição ao partido nazista – o partido católico Zetrum (que viria a ser proibido em 14 de julho), acaba por apoiar Hitler. Assim o parlamento concedeu plenos poderes, com 441 votos contra 91, vindos da social-democracia.

Em 27 dias após o incêndio do Reichstag, Hitler se tornaria o III Furher.

A mentira contada pelos nazistas de que a o incêndio havia sido uma ação dos comunistas serviu para instaurar um clima de pânico e fazer a popularidade de Hitler e seu partido chegarem às alturas.

Hitler soube aproveitar o incêndio no Reichstag a seu favor, manipulando a opinião pública, e fazendo todos acreditarem na ameaça do inimigo interno, no perigo de um “golpe comunista”. Aproveitou a situação para aumentar seus poderes e pôr fim aos seus adversários.

Os comunistas levantaram uma tese oposta, de que Van der Lubbe era só um testa de ferro e os nazistas haviam causado o incêndio. Em 2014, o historiador americano Benjamin Carter Hett, em seu livro Burning the Reichstag, demonstrou que as SAs nazistas já tinham um setor especializado em incêndios. O fato é que a versão de que o incêndio era um plano comunista não passou de invenção, tanto que os demais acusados – quatro comunistas – seriam logo absolvidos.

As mentiras propagadas pelos nazistas mostram que desde sua gênese a extrema-direita fascista utiliza da fabricação de mentiras e manipulação em massa, para assim conseguir destruir seus adversários e aumentar sua popularidade.

Do incêndio do parlamento que teria sido feito por comunistas que tramavam um golpe na Alemanha da década de 30, até as fake news de hoje em dia, que estimulam o medo da “ameaça comunista bolivariana” do PT e de toda a esquerda, qualquer semelhança não é mera coincidência.

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