Negro eu? Neymar não consegue driblar a marcação cerrada da negritude
Publicado em: 18 de setembro de 2020
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Há muitos anos a UnB estabeleceu a comissão julgadora para decidir quem, de fato, era negro para ingressar em seu vestibular pelo sistema de cotas. O objetivo era evitar trapaças.
O movimento negro comemorou a decisão pioneira da universidade. Mas muita gente criticou, diziam ser impossível decidir quem era negro ou não, no Brasil.
Muitos militantes negros ironizaram este argumento e propuseram, então, uma comissão composta por policiais, porteiros, taxistas e seguranças de loja, pois estes sempre souberam quem era negro, nunca erravam.
É claro que a negritude não existe em si, o “negro” é uma construção social criada por europeus, na Modernidade. Tanto que ser negro no Brasil é uma coisa, ser negro nos EUA ou na África do Sul é outra completamente diferente.
Mas uma coisa é certa, ser negro, em qualquer lugar do mundo, nunca foi, nem nunca será, uma questão de autodeclaração. Neymar aprendeu essa lição da pior maneira.
A negritude é um estigma criado a partir da branquitude (outra invenção européia), que marca os “de fora”, o “outro”, os que não são “bem-aventurados”. Logo, ser negro é antes de tudo uma questão de alteridade e não de identidade – para tristeza de Neymar…
A identidade negra (positivada) só se constrói com muita reflexão e luta, no confronto cotidiano com o nosso maior inimigo: o racismo!
Na construção da identidade, a pior ilusão que um “não-branco” pode ter, é a de acreditar ser um “quase-branco”. Isso porque a variedade de tons criados no Brasil (moreno, mulato, marrom-bombom, etc.) é para criar hierarquias entre nós, negros. Mas esse degradê nunca nos igualará a nenhum branco no planeta.
É na hora da disputa (seja ela verbal, esportiva, judicial, por empregos, etc.) com um branco, que o “quase-branco” será posto no seu lugar de “quase”: quase digno, quase gente, quase nada!
Não por acaso a imagem mais acionada é a do macaco, ou seja, a de um animal quase humano.
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