O recente anúncio da definição dos partidos do “Centrão” pela candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência da República é um fato que merece atenção.
Formado por DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade, esse bloco de partidos burgueses, reconhecidamente fisiológicos, conservadores e corruptos, é expressão nítida e sem mediações do balcão de negócios do regime político brasileiro. A maioria dessas siglas sempre esteve com o governo de turno, compondo tanto a base de apoio de FHC quanto a dos governos Lula e Dilma. Com o golpe parlamentar de 2016, formaram a aliança de sustentação de Temer, ocupando importantes ministérios.
Ao negociar em bloco, potencializaram seu poder de barganha. Abriram tratativas com Ciro Gomes (PDT), que acabou preterido. Em seus cálculos táticos para 2018, consta, ainda, o fator sobrevivência: boa parte dos principais parlamentares desses partidos estão implicados na Lava Jato.
Faltando menos de 1 mês para a campanha eleitoral, tomaram uma decisão de embarcar na candidatura tucana em troca de cargos e outras promessas inconfessáveis.
Candidatura de Alckmin ganha força
O fato é que a adesão do Centrão dá novo fôlego eleitoral à candidatura de Alckmin, até então questionada pela estagnação ao redor de 7% de intenção de votos nas pesquisas. Estima-se que a aliança renda ao candidato do PSDB 4 minutos e meio no horário eleitoral gratuito, afora o considerável reforço em termos de palanques e estrutura de campanha por todo o país.
Do ponto de vista político, a convergência em direção à Alckmin, em meio à fragmentação e imprevisibilidade marcantes do cenário eleitoral, aponta que a classe dominante e o imperialismo vão se definindo por uma alternativa prioritária. Em meio a uma profunda crise de representação política, a burguesia repete, uma vez mais, a aposta no PSDB.
Alckmin será, portanto, o legítimo representante da coalizão governista liderada por Temer que emergiu com o golpe parlamentar, empreendendo uma ofensiva brutal contra os direitos e as condições de vida da maioria dos trabalhadores. Sua candidatura é a continuidade desse projeto antipovo, que aspira, agora, a revigorar-se com a legitimação do voto.
Ida ao segundo turno não está assegurada
O calcanhar de Aquiles de Alckmin é que Temer é um peso morto dificílimo de arrastar. A rejeição popular do atual presidente, a maior desde o fim da ditadura, e o rechaço popular ao programa de retirada de direitos são sérios obstáculos às pretensões eleitorais do PSDB. Naturalmente, Alckmin se esforçará ao máximo para desassociar sua imagem da de Temer, por isso hesita em fechar aliança com o MDB, que promete lançar a candidatura de Henrique Meirelles.
Outra enorme dificuldade para o tucano é o fortalecimento de Jair Bolsonaro (PSL), que cresceu especialmente sobre o eleitorado da direita tradicional. Se não conseguir desidratar a candidatura do fascista, Alckmin dificilmente chegará ao segundo turno.
O tucano também enfrenta diversas denúncias de corrupção: propinas recebidas por empreiteiras, superfaturamento em obras do Metrô e desvio de verbas para a merenda escolar. Contudo, até aqui, o Judiciário vem blindando Alckmin das investigações, postura oposta àquela adotada com Lula e o PT.
Derrotar o candidato do golpe
A esquerda tem a tarefa de denunciar em alto e bom som: Alckmin é Temer. Seu programa é precisamente a continuidade do que foi implementado pelo peemedebista. Sua aliança eleitoral é essencialmente a mesma que sustentou o golpe e deu base parlamentar às principais medidas regressivas aprovadas no Congresso Nacional contra os direitos sociais.
Nesse sentido, contrapondo-se ao candidato preferido dos golpistas, a candidatura de Guilherme Boulos e Sonia Guajajara (PSOL/PCB/MTST) defende medidas que respondem às necessidades do povo pobre e trabalhador, como a revogação das contrarreformas aprovadas durante os últimos 2 anos, a redução da jornada de trabalho, sem redução salarial, e a elevação do salário-mínimo. E, também, a taxação das grandes fortunas e a auditoria da dívida pública, bem como a defesa dos direitos das mulheres, negros e negras e da população LGBT.
Além de propostas sociais e democráticas, Guilherme Boulos defende o fim das alianças com a direita. Um governo comprometido com a maioria do povo deve garantir a sua “governabilidade” com apoio social e mobilização popular, e não com acordos com o Centrão e o MDB.
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