Eric Gil
A morte de Eduardo Campos, em 13 de agosto, abriu um novo cenário na disputa eleitoral. A saída de cena do candidato pernambucano permitiu a volta de Marina Silva, agora não mais como vice, e sim como candidata à Presidência.
A chapa do PSB pulou de terceiro para segundo lugar nas pesquisas eleitorais, subindo de 8% na pesquisa Datafolha de julho para 21% em agosto, passando o tucano Aécio Neves e com 15 pontos atrás de Dilma. Em um segundo turno a previsão desta pesquisa é de empate técnico entre Dilma e Marina. Mas será que Marina Silva simboliza o que ela diz defender, o que ela chama de uma “nova política”?
No planejamento inicial da “ambientalista” estava a legalização de um novo partido, a Rede Sustentabilidade. Gilberto Kassab, ex-prefeito de São Paulo, na criação do seu PSD, dizia que seu partido “não será de direita, não será de esquerda, nem de centro”. Com acréscimo de que não será “nem de situação, nem de oposição” Marina complementa o discurso do ex-democrata na propaganda do seu novo partido.
Mas o seu projeto não deu certo por não conseguir assinaturas suficientes reconhecidas pelo TSE a tempo, e para estas eleições Marina aceitou o convite do então governador de Pernambuco para compor a chapa presidencial com o PSB, partido ao qual se filiou.
Isto só aumentou o currículo de contradições da ex-senadora, que dizia ser contra tudo que estava aí. Quem não se lembra da campanha de 2010? Ao ser questionada sobre uma das principais pautas dos movimentos ambientalistas internacionais – a construção de Belo Monte –, a ex-Partido Verde se colocou em cima do muro ao dizer: “Não sou contra e nem a favor. O projeto deve ser objetivo. Do ponto de vista cultural, social e ambiental, o empreendimento deve ser ético e respeitar a diversas culturas da região”. Estranho para uma Verde.
Reconhecidamente uma conservadora no aspecto moral, no auge dos protestos contra o Deputado Federal Marco Feliciano (PSC) que ocupava a presidência da Comissão de Direitos Humanos, declarou que o parlamentar estava sendo hostilizado “mais por ser evangélico do que por suas posições políticas equivocadas”, tentando blindá-lo das críticas.
Além disto, devemos lembrar a quem a agora candidata à Presidência é ligada. Duas das principais figuras ligadas a ela são Guilherme Leal e Maria Alice Setúbal. O primeiro foi seu vice, na disputa presidencial de quatro anos atrás, e é um bilionário dono da empresa Natura. Já a segunda, conhecida como Neca Setúbal, também foi sua apoiadora inseparável, e hoje coordena seu programa de governo. Maria Alice é acionista da holding Itausa com o equivalente a 1,29% do total (ou R$792 milhões) da organização que controla o Itaú-Unibanco, o banco de investimentos Itaú BBA, e as empresas Duratex, Itautec e a Elekeiroz. Herdeira de Olavo Setúbal, empresário e político bilionário falecido em 2008, articulou para que o Itaú doasse milhões de reais para a campanha de Marina Silva em 2010.
Pelo visto a Rede Sustentabilidade não parecia carregar nada de “nova política”. Mas e agora, como candidata pelo PSB?
A notícia que parece confirmar que realmente a Marina Silva é mais do mesmo foi a escolha do seu vice na chapa presidencial, o Deputado Federal gaúcho Beto Albuquerque, líder do partido na Câmara. Beto é um nome de alta confiança dos ruralistas. No governo Lula, ele teve papel de importância na liberação da soja transgênicas, no mesmo período em que Marina era Ministra do Meio-Ambiente e criticava a iniciativa. Nas eleições passadas, companhias de sementes, beneficiadoras de grãos e empresas como Celulose Riograndense e a Klabin compuseram metade das receitas para sua campanha. Além disto, empresas de defensivos agrícolas, uma indústria armamentista e uma cervejaria também o financiaram nas últimas campanhas – setores os quais estão vedados como financiadores de campanha no estatuto da Rede Sustentabilidade.
Mas com uma ambientalista dessas, para quê o agronegócio vai precisar de ruralistas?
Comentários