Vale tudo contra os fascistas, inclusive homofobia?


Publicado em: 11 de outubro de 2022

Brasil

Lucas Brito, de Brasília (DF)

Esquerda Online

Esse post foi criado pelo Esquerda Online.

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Ouça agora a Notícia:

Na reta final do primeiro turno das eleições e nesse início do segundo turno, estamos vendo um escalonamento da utilização de fake news na campanha eleitoral. 

Assim como fez em 2018, a campanha bolsonarista centra suas baterias na produção dos mais variados tipos de mentiras, direcionados a mobilizar sua base social, atingindo-a em sua camada inconsciente, gerando medo, nojo, ódio e amor. Esse é o segredo do seu engajamento. 

Convencionamos chamá-las de fake news, melhor explicadas pelo termo da pós-verdade, quando os fatos deixam de ter importância diante das convicções e medos morais de determinados grupos ou indivíduos. Essa tática esteve presente na eleição da Trump, em 2016, e ao longo de todo o seu mandato. O mesmo faz Bolsonaro e seus seguidores. 

Há mentiras sobre todo tipo de coisas. Mas um em especial guarda o potencial de se destacar, o que toca em temas relacionados a sexo e gênero. Foi assim que a Fake News do Kit Gay se tornou a mais difundida em 2018, favorecendo a eleição de Bolsonaro e a ascensão do bolsonarismo. Ela foi parte de uma tática fascista de disseminar o pânico moral/sexual em nossa sociedade. 

Vale nós utilizarmos do mesmo? 

Contudo, temos de reconhecer que, pelo menos nas últimas duas semanas, apoiadores de Lula têm assumido a ideia do “vale tudo” pra combater os fascistas. Fake news têm sido produzidas para desmascarar Bolsonaro e tem feito com que muita gente embarque nessa tática – “chega de combater tiros com flores”.  

Entretanto, ainda não sabemos o real efeito de utilizar a mesma tática do inimigo para combatê-lo. Por hora, temos visto um processo de despolitização da campanha, ao menos no meio da internet, o que secundariza as reais preocupações do nosso povo, que devem estar no centro da discussão. 

Você que pensa que tem que radicalizar contra o bolsonarismo, que temos de subir o tom e esquentar a campanha, não seria melhor fazê-lo indo pra rua, montando banquinha, ajudando a organizar grandes atos em defesa da democracia, contra o fascismo e pela votação em Lula? Eu acredito que a melhor forma de responder na mesma moeda e lutando na rua pra derrotar o fascismo.  

E vale homofobia também? 

Hoje, o assunto mais comentado no twitter é a suposta homossexualidade de Nikolas Ferreira. Com a hashtag #nikolaschupetinha, vários perfis, como de Patrícia Lelis e André Janones, têm divulgado supostos prints de vídeos do deputado mais votado do Brasil praticando sexo oral em outro homem – que dizem ser o pastor André Valadão. 

Um desses prints nós já vimos que é mentira, pois o vídeo já foi localizado e não é do Nikolas Ferreira. Ainda aguardamos a apuração do outro. Sabemos que é relativamente comum casos de homens homofóbicos e socialmente apresentados como guardiões da moral heterocisnormativa e cristã serem relevados homossexuais enrustidos. Isso aconteceu com o deputado Douglas Garcia (SP) recentemente. Portanto, caso fosse revelada uma suposta homossexualidade de Nikolas Ferreira, esse não seria o primeiro caso do tipo. 

Desgraçadamente, a tática de hoje envolve homofobia. Assim como no caso da “noivinha do Aristides” – que abordei em outro texto neste Portal – opositores de Bolsonaro e parte da esquerda tem utilizado piadas homofóbicas e misóginas contra Nikolas Ferreira. 

Estamos vendo montagens e mensagens que colocam Nikolas vestido de mulher ou atribuem a ele o papel sexual passivo, para ridicularizá-lo. André Janones, ao falar da suposta homossexualidade de Nikolas chegou a comparar essa postura com outras que ainda seriam reveladas, como a pedofilia. 

Associar a homossexualidade à feminilidade para ridicularizar as pessoas é homofobia e misoginia. Associar homossexualidade à pedofilia é clássico da homofobia. Esse é um esgoto que não nos cabe! 

Como já dissemos, o falso moralismo é recorrente. Mas, até o momento, não temos confirmação de que nenhuma das fotos veiculadas trata realmente de Nikolas Ferreira. Caso isso fosse confirmado, acredito na seguinte postura das esquerdas, do Vale LGBTI+ e de todes que acreditam na luta contra as opressões: 

1 – Caso fosse confirmada a suposta homossexualidade de Nikolas Ferreira, deveríamos sim denunciar o falso moralismo e a perversidade de manter no armário agitando hordas fascistas contra as pessoas LGBTI+, o que causa preconceito, discriminação e violências. 

2 – Ao mesmo tempo, teríamos de denunciar a sociedade homofóbica, ela sim responsável por produzir situações extremas de decadência humana como o falso moralismo de LGBT enrustidos, tão maléfico para esses próprios e os que estão ao seu redor. 

3 – E por fim, combater a homofobia, nunca capitulando à ela, por mais engraçado que possa parecer uma piada homofóbica contra quem há pouco tempo se apresentada como o guardião da “moral e dos bons costumes”. 

Usar homofobia contra homofóbicos é declarar vitória à própria homofobia. 

Se Nikolas fosse gay, não seria bem-vindo ao Vale. Mas nunca um alvo da homofobia.


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