Questões para os comunistas

Estando em Copenhagen, Trotsky pronunciou um breve discurso de propaganda, em francês e alemão, que foi gravado em áudio. Seu objetivo era de alcançar membros dos partidos comunistas e colocar questões que poderiam ajudá-los a compreender o que realmente propunha a Oposição de Esquerda.


Publicado em: 14 de janeiro de 2024

Marxismo

Leon Trotsky. Tradução de Paulo Duque, do Eol

Esquerda Online

Esse post foi criado pelo Esquerda Online.

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Camaradas, vocês me pedem para responder à questão do porquê eu pertenço à fração Bolchevique-Leninista, que fortemente se opõe à atual política da Internacional Comunista e ao governo soviético. Tentarei delinear pelo menos os pontos mais importantes da questão.

O objetivo principal do Partido Comunista é a construção da vanguarda proletária, com uma forte consciência de classe, preparada para o combate, decidida, preparada para a revolução. Mas a educação revolucionária requer um regime de democracia interna. A disciplina revolucionária não tem nada a ver com a obediência cega. A combatividade não pode ser preparada antecipadamente, nem pode ser decretada por uma ordem vinda de cima: deve ser sempre renovada e temperada. A disciplina revolucionária coloca a cada trabalhador comunista honesto e consciente a interrogação: temos uma democracia no partido, sim ou não? Responder à pergunta implica respondê-la. Até mesmo os menores vestígios da democracia partidária estão desaparecendo a cada dia que passa.

Na União Soviética, o Partido Comunista está no poder. Os êxitos econômicos são incontestáveis. O número de trabalhadores no país duplicou e triplicou. O nível cultura das massas cresceu consideravelmente nos últimos quinze anos. Em tais condições, a democracia operária deveria ser expandida, mas vemos justamente o contrário.

Apesar de todas as conquistas e êxitos, o proletariado em geral e a vanguarda comunista em particular estão acorrentados pelos punhos de aço do partido e do estado burocrático. A deterioração sem precedentes do regime partidário deve ter causas profundamente sociais e políticas. Nós, a Oposição de Esquerda, analisamos e denunciamos estas causas mais de uma vez durante o período pós-Lenin. Por acaso, a liderança oficial do partido submeteu lealmente nossos argumentos para a discussão no partido?

Nunca!

Quanto menos o funcionário é controlado pelas massas, menos consistente será, estará mais sujeito a influências externas e suas oscilações políticas mais inevitavelmente se assemelharão ao perfil de uma febre delirante. Isso é centrismo. Repito: isso é centrismo.

A destruição da democracia elucida o desenvolvimento de influências pequeno-burguesas, oportunistas ou ultraesquerdistas.

As diferenças começaram em 1923 sobre a questão do regime partidário, industrialização e relações com os kulaks. Além disso, vocês estão familiarizados com a plataforma da Oposição de Esquerda Russa de 1926? Vocês seguiram o desenvolvimento posterior da luta em torno do plano quinquenal e da coletivização? Em todos esses problemas, o “crime” da Oposição é esse: armada com o método marxista, consistiu em ver claramente, antecipar certas coisas e alertar em tempo contra os erros.

Vocês leram os documentos que foram escritos na luta fracional sobre as questões da revolução chinesa? Vocês conhecem as concepções opostas sobre o Comitê Anglo-Russo – a aplicação da “frente única” apenas de cima e verdadeiramente contra as massas em luta? Vocês sabem do trabalho da oposição nesse campo? Caso contrário, é dever de vocês se familiarizarem com esses documentos antes de tomar uma posição contra a Oposição de Esquerda.

Vocês devem se lembrar certamente das aventuras sem sentido do “terceiro período” que comprometeram gravemente o comunismo aos olhos de todos os trabalhadores conscientes. Existe um único comunista que ainda pode ter alguma dúvida sobre essa questão?
O novo desenvolvimento na Alemanha é um notável exemplo da política fundamentalmente errada da direção do proletariado: comparar a democracia ao fascismo, repudiar a política da frente única e, consequentemente, renunciar a criação dos sovietes – porque os sovietes só se tornam possível ao se alcançar a frente única dos trabalhadores pertencentes à diferentes organizações, bem como a diferentes partidos. Nada ajudou tanto a socialdemocracia alemã a se manter como a política do aparelho stalinista internacional.

Nós, da Oposição de Esquerda, permanecemos fielmente devotos à União Soviética e à Internacional Comunista, com uma diferente devoção, uma diferente fidelidade da maioria da burocracia oficial. O trabalhador que se considera comunista, mas que não aceita boatos e não estuda os documentos nem verifica os fatos, não é digno de valor. Não, este não vale muito. Foi sobre tais pessoas que Lenin disse algo muito duro, mas verdadeiro: Aquele que acredita na palavra de alguém na política é um idiota sem esperança.

Se aproxima o décimo ano desde a fundação da Oposição de Esquerda. Grandes acontecimentos verificaram e confirmaram nossas propostas. Quadros sérios foram educados. Enfrentamos o futuro com confiança. Nenhuma força pode nos separar da vanguarda proletária internacional. A União Soviética é a nossa pátria! Vamos defendê-la até o fim! As ideias e métodos de Marx e Lenin se tornarão as ideias e métodos da Internacional Comunista!

Fonte: Writings of Leon Trotsky [1932]. New York: Pathfinder Press, 1973. p. 326-327.

 


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