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MOVIMENTO

Uma tarde entre os professores das escolas particulares de São Paulo

Alberto Zuza, de São Paulo (SP)

Terça feira, 29 de maio, 14 horas, dia ensolarado de inverno. Centenas de professores como eu sentados no asfalto interrompendo a rua Borges Lagoa, na Zona Sul de São Paulo, bem em frente ao nosso sindicato (Sinpro–SP). Ali mesmo, no meio da rua, era realizada uma importante assembleia em que se discutiam a iminência da perda de muitos de nossos direitos como categoria. A dos professores da rede particular de escolas da capital paulistana.

Entre os direitos ameaçados pela categoria patronal, que também tem seu sindicato, o Sieeesp, estão:

1. A semestralidade, que é o direito a receber vencimentos até o final do semestre, no caso da demissão de profissional com mais do que 22 meses de registro.

2. A redução do tempo de recesso escolar, período em que mesmo não havendo aulas o salário do professor está garantido.

3. As bolsas de estudos de nossos filhos que querem reduzir a 50% e para um filho apenas, em escolas com até 200 alunos.

Entre nós professores havia os que já estavam em greve desde a segunda-feira, os que deram aula pela manhã entraram em greve na terça à tarde e também aqueles que trabalham em escolas cujas aulas foram interrompidas pelos próprios mantenedores.

As falas começaram mal, um pronunciamento equivocado logo teve que ser corrigido e bola pra frente: queremos a manutenção da convenção coletiva da educação básica 2016-2017, aumento real de 3% e PRL em 15%. Acredito que nisso todos já estávamos de acordo há algum tempo, mas por quanto tempo? Por mais um ou dois anos? Essa era a votação que faltava ao sindicato para legitimar a negociação com os patrões.

Falas boas e ruins dos dois lados como se deve esperar de um verdadeiro ato democrático e no fundo o que se viu foi isso. A categoria ponderou e a maioria votou pela manutenção dessa convenção por apenas mais um ano e bora pra Avenida Paulista.

Depois do ato na Paulista a batalha passa para a web. Uma postagem do Sinpro comemorando a realização da assembleia como uma grande vitória levou alguns a crerem que tudo estava resolvido. Vitória sim, pelo exercício democrático meus camaradas, mas a luta não é entre iguais.

O Sieeesp manifestou-se por meio de entrevista ao Valor Econômico negando que fosse aceitar a proposta de manter a convenção coletiva ou qualquer outra reivindicação, depois postou uma convocação para a união de forças da sua categoria que está mais ou menos assim:

Há escolas que respeitaram o direito à greve de seus professores entendendo a importância do que isso representa para a sua verdadeira finalidade, o ensino. Como também deve haver aquelas que respeitam esse direito porque pega bem entre sua clientela.

Há escolas prometendo aos seus colaboradores que nada vai mudar. Que por não serem ligadas ao Sieeesp vão manter a convenção coletiva e, que por isso, não veem necessidade de greve ali. Essas apostam na falta de solidariedade de seus professores.

Há escolas onde o assédio corre loucamente. Mantenedores e coordenadores dispersam conversas em sala de professores, dificultam ou impedem realização de assembleias. Essas apostam no medo e na dependência de seus professores, acredito por temerem a repercussão que uma greve pode ter entre sua clientela. É o medo gerando medo.

Há escolas que paralisaram suas atividades antecipadamente justificando aos pais que o motivo era a falta de combustível causada pela greve dos caminhoneiros e possíveis paralisações de vias. Essas vão tentar ficar isentas de tomarem posição até que tudo se resolva. A meu ver é somente outro tipo de aposta.

Voltando aos acontecimentos, o Sinpro respondeu com uma nota e um vídeo do presidente Luiz Antonio Barbagali garantindo que já havia negociado a convenção coletiva com o Sieeesp e somente aguardava a assinatura. No vídeo o presidente também convoca os professores para atos na terça feira 5/6 em frente ao TRT e para nova assembleia na quarta-feira, 6/6, caso o Sieeesp não assine o documento, o que me parece bastante provável.

De concreto temos uma audiência de conciliação marcada para essa terça-feira, 5/6, no Tribunal Regional do Trabalho na qual o relator do processo decidirá nosso futuro, pelo menos por algum tempo.

FOTO:  Votação na assembleia do dia 29 de maio. Sinpro SP