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Colunas

Sobre Aécio Neves e a natureza da Lava Jato

Agência Brasil

André Freire

Historiador e membro da Coordenação Nacional da Resistência/PSOL

Tucanos entregam os anéis para preservar os dedos

Na última terça-feira, dia 17 de abril, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) aceitou denúncias de corrupção e obstrução de justiça contra o Senador Aécio Neves (PSDB-MG). Não há dúvidas sobre o envolvimento de Aécio com escândalos de corrupção, especialmente com repasses milionários para suas atividades políticas ilícitas. Ele é denunciado por executivos tanto da Odebrecht, como da J&F. Só do empresário Joesley Batista ele teria recebido R$ 2 milhões.

Aécio se apresentava sempre como um árduo defensor do combate à corrupção. Assim foi, por exemplo, na sua campanha presidencial em 2014. Mas, tudo não passava de uma grande mentira, afinal gravações revelaram seu envolvimento direto nos esquemas de financiamento fraudulentos de campanhas. Inclusive, com aquele famoso áudio em que Aécio chega afirmar que, se fosse necessário, poderia até mandar matar quem fizesse delações premiadas.

A situação do Senador mineiro é tão grave que, mesmo seus amigos do PSDB estão buscando se descolar do ex-presidente dos tucanos. Alckmin, candidato do PSDB à Presidência da República já declarou que o ideal é que Aécio não seja candidato nas próximas eleições.

É sempre bom lembrar que Aécio está ainda sendo indicado no STF. Esse processo pode durar anos, e seus amigos ministros, principalmente Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, estarão sempre apostos para tentar salvá-lo.

Justiça imparcial?

O simples indiciamento de Aécio já foi usado por setores da direita golpista, como MBL, apoiadores esfuziantes da Operação Lava Jato, para comemorar a imparcialidade da Justiça brasileira no combate à corrupção.

Infelizmente, setores da esquerda brasileira entraram no mesmo “canto da sereia”, saindo nas redes sociais com a mesma comemoração, defendendo que agora serão presos todos os corruptos. Ledo engano! O indiciamento e a prisão de políticos dos partidos burgueses, como MDB e PSDB, não demonstram, de forma nenhuma, uma imparcialidade da Justiça. Ao contrário, o que vemos é a prisão e indiciamento de figuras que já não são úteis para os interesses dos ricos e poderosos.

Por exemplo, Eduardo Cunha (MDB-RJ) foi preso só depois de ter dirigido o trabalho sujo do golpe parlamentar do Impeachment. Hoje está preso, em total desaparecimento.

Sérgio Cabral e grande parte de sua máfia do MDM-RJ foram presos depois de estarem fora do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Mas, seu braço direito, Pezão, segue como governador fantoche, mas sequer é ameaçado de perder o cargo e ser preso.

Agora, Aécio vira réu no STF. Mas, o candidato a presidente da República pelo PSDB, ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, sequer é seriamente investigado pelos escândalos das obras superfaturas do metrô paulista.

As grandes empresas, especialmente as empreiteiras, que financiaram de forma ilícita os políticos corruptos, de praticamente todos os partidos, seguem operando no mercado, apenas pagando acordos de leniência, que diante de seus lucros astronômicos se revelam apenas um preço pequeno a ser pago por seus crimes contra os interesses do povo trabalhador.

Nenhuma confiança no Poder Judiciário

Na verdade, a Justiça brasileira demonstra a cada dia que tem lado nessa história. Segue protegendo os interesses das grandes empresas e bancos, e dos políticos que governam de acordo com os interesses dos ricos e poderosos.

Querem usar estes processos e prisões, na verdade, para legitimar o golpe parlamentar e a prisão sem provas de Lula.

Não apoiamos em nada o projeto político do PT de alianças com os partidos da velha direita e aplicação de um plano de governo que não rompeu em nada com o andar de cima.

Mas, é evidente que a Lava Jato, o STF e a maioria do Judiciário têm atuado de forma parcial e seletiva, priorizando a condenação sem provas de Lula, sua prisão e o impedimento da sua candidatura nas próximas eleições, enquanto os políticos principais do PSDB, DEM, MDB, seguem operando suas falcatruas e atuando sempre contra os interesses da maioria da população.

Todos eles apoiam as reformas reacionárias, o ajuste econômico e uma saída política ainda mais conservadora para a crise política brasileira.

Estamos na luta pela libertação de Lula. Mas, ao mesmo tempo, defendemos nova alternativa política de esquerda, socialista e do povo trabalhador, com as candidaturas de Guilherme Boulos e Sonia Guajajara para a Presidência da República.

Para defender nossos direitos, derrotar o golpe parlamentar e combater a corrupção de verdade não existem “atalhos”. Não podemos acreditar que logo essa Justiça elitista e antipopular vai combater a corrupção. Só uma ampla mobilização unitária do povo trabalhador, da juventude e do conjunto dos oprimidos e explorados pode colocar em xeque os grandes esquemas de corrupção, que envolvem as grandes empresas e os políticos dos partidos tradicionais.