Por: Cintia Teixeira*, do Rio de Janeiro, RJ
O governo golpista de Temer, que traça uma conjuntura clara de ataques a direitos básicos como saúde e educação, assim como emprego formal da população brasileira, agravará o abismo social, econômico e cultural, além da criminalização dos dirigentes políticos que enfrentam o agronegócio e setores institucionais, ou não, que sustentam as eleições de políticos corruptos.
A cada dia, as condições ficam mais difíceis para se ter acesso e, ou manter um padrão de condições de vida que não leve ao nosso adoecimento, ferindo a Declaração Universal dos Direitos Humanos, como o direito à alimentação e à nutrição, requisitos básicos para promoção, proteção da saúde, possibilitando o desenvolvimento humano, com qualidade de vida e cidadania. E, como prevê o arcabouço legal da Lei 8080, SUS, em seu Artigo 3º, que define a alimentação, constitui-se como um dos fatores determinantes e condicionantes da saúde da população.
Não estamos avançando nas políticas sociais, não estamos emancipando mulheres e homens das políticas sociais que os permitam sair da penúria e do abismo social. Não estamos dando condições que recuperem a capacidade de produzir e, ou adquirir sua própria alimentação. Mantemos o rumo da história, onde o lugar do negro é da senzala às favelas, cortiços, ruas, invasões, ocupações e conjuntos habitacionais, cujos modelos são os guetos dos países desenvolvidos dos dias de hoje. Em 2018, ainda temos que lutar por moradia e terra pra plantar e produzir. Até quando?
O critério dos governos tem sido, simetricamente, o mesmo, a divisão racial do espaço. É necessário ressaltar que a burguesia provoca a miséria social para gerar uma situação de embrutecimento da classe trabalhadora, e as mulheres, como “proletárias do proletário”, são o elo mais frágil, sobretudo as negras e homossexuais. Contudo, é necessário resgatar o legado da escravatura que deu às mulheres negras a experiência acumulada de todas essas mulheres que trabalharam arduamente debaixo do chicote dos seus donos, trabalharam, protegeram as suas famílias, lutaram contra a escravatura, e foram batidas e violadas, mas nunca dominadas.
Nos dias de hoje, percentual mínimo de mulheres, em especial as negras, ocupa lugares na política. Aqui, no Rio de Janeiro, tínhamos a Marielle Franco, vereadora pelo PSOL, que foi brutalmente executada por dar visibilidade e lutar pela nossa raça.
O governo, sabedor do caos social, aqui no estado do Rio de Janeiro desenha por anos uma política de Segurança Pública da força da “bala” da repressão, associada a cortes orçamentários nas políticas públicas. Traçada uma estratégia conjunta com o Governo Federal, vivenciamos várias ações de colocar as corporações do exército nas periferias, até que instituiu a política de intervenção federal na Segurança Pública do Rio de Janeiro, tendo como prioridades as favelas e bairros periféricos.
A cada dia, vemos mais mortes de crianças tiradas dos braços de suas mães, assim como os capatazes e feitores na época da escravidão faziam. Antes, o sangue era pelo chicote com couro cru. Mesmo com sangue escorrendo pelos seios, as mães escravas davam de mamar aos seus filhos. Hoje, é pelo tiro da arma da repressão e da opressão. O sangue escorre, mas não mais podemos amamentar. Não só tiraram dos braços, como da vida. Essa violação continua sendo uma arma de dominação. A cada dia, morrem civis e policiais e não é resolvida a origem do problema.
Marielle, assim como nossos ancestrais, nunca silenciou, pois sabia que, se silenciasse, afirmaria a violência que o povo está sofrendo.
Tentaram calar Marielle, mas somos muitas guerreiras. Manter quilombos produz vozes de liberdade que não se calarão. Fora a Intervenção Militar. Exigimos saúde, emprego, educação, moradia, lazer, cultura, saneamento e transporte.
*Cintia Teixeira é nutricionista e militante do PSOL
Comentários