Por Bernardo Lima, do Diretório Estadual do PSOL-MG, e Rodrigo Cláudio, da Executiva Nacional do PSOL
2018 é um ano especial para a esquerda socialista. As eleições presidenciais irão ocorrer em uma conjuntura de avanço do golpe, ataques aos direitos sociais e democráticos e processos de resistência dos trabalhadores e da juventude, que não foram fortes o suficiente para derrubar o governo ilegítimo de Temer. Nesse cenário, o Brasil terá que decidir nas urnas quem sucederá Michel Temer na presidência da República.
O problema principal é que a classe dominante controla todo o processo eleitoral (das regras do jogo ao espaço dos candidatos na imprensa) e, por isso, a disputa se dá de maneira totalmente desigual. A esquerda socialista contará com pouquíssimo tempo de TV e escassos recursos, enquanto os partidos burgueses terão campanhas milionárias e ampla cobertura de seus candidatos na mídia. Até mesmo Lula e o PT, que não possuem um programa radical e seguem afirmando a intenção de manter a velha aliança com setores da classe dominante, estão sendo alvos da operação Lava Jato, a qual impedirá que Lula se candidate. A direita está apostando todas as fichas em eleger um candidato golpista nas eleições deste ano que aplique com ainda mais força o programa do ajuste.
Diante dessa situação, é extremamente importante que a esquerda socialista apresente uma candidatura presidencial unitária em 2018. Uma candidatura que diga em alto e bom som que rejeita o golpe parlamentar e sua agenda, mas que também supere o programa de conciliação de classes aplicado pelos governos petistas. Que chame os trabalhadores, a juventude e os setores populares a lutarem juntos contra as reformas, sem deixar de apresentar um programa avançado de ruptura com o capitalismo.
Em nossa visão, a pré-candidatura a presidente que melhor representa essa unidade de toda a esquerda socialista é Guilherme Boulos (líder do MTST), numa frente que unifique o PSOL, PCB, MTST, Mídia Ninja, artistas, sindicalistas, movimentos populares, de opressões e indígena e outras lideranças independentes. Por isso, apesar da participação restrita do MAIS no congresso nacional do PSOL, apoiamos a ideia de esperar as negociações entre PSOL e MTST para decidirmos em conferência eleitoral o candidato do partido.
As outras pré-candidaturas do PSOL
Obviamente, como já é natural em uma esquerda socialista viva e dinâmica, o nome de Guilherme Boulos não é consenso no PSOL: Plínio de Arruda Sampaio, Hamilton Assis, Sonia Guajajara e Nildo Ouriques colocaram seus nomes à disposição do partido para encabeçar a disputa eleitoral de outubro. Todos os pré-candidatos são lutadores socialistas e parte dos movimentos sociais, e é legítimo que tenham o direito de disputar o pleito. Eles também representam visões distintas da conjuntura e das tarefas que os socialistas devem cumprir neste ano. A maioria das correntes que apoiam Plínio, por exemplo, enxerga que a luta de classes se desenvolveu de forma favorável nos últimos anos, vê Temer apenas como continuidade do governo Dilma (algumas negam mesmo a existência de um golpe) e acredita que a aliança com o MTST e seu líder é uma espécie de apoio ao PT e a Lula. Visão da conjuntura e das tarefas completamente distinta da nossa do MAIS.
A proposta de prévias
Na semana passada, algumas correntes do PSOL iniciaram uma campanha para a realização de prévias para a definição da candidatura presidencial. Isso significaria que a conferência eleitoral votada pelo congresso nacional ainda não definiria nosso candidato, que demoraríamos mais alguns meses realizando plenárias nas cidades e que um longo processo de aferição envolveria todos os filiados do partido.
Achamos que a realização de prévias é uma proposta muito boa. Porém, ela deveria ter sido apresentada, defendida e aprovada no congresso nacional (instância democrática máxima do partido), quando ainda havia tempo hábil para realizar as prévias sem prejudicar a campanha e a construção do nosso arco de alianças com a esquerda socialista e os movimentos sociais. No momento do VI congresso do PSOL, apenas a pré-candidatura Nildo Ouriques defendeu as prévias e todas as correntes e pré-candidatos defenderam a conferência eleitoral. Hoje, a proposta de sair da conferência eleitoral sem um candidato serve apenas para protelar e intensificar a disputa interna no partido. É voltar o PSOL para dentro, no momento em que ele deve ir para fora apresentar suas ideias a milhões de jovens e trabalhadores. É colocar em risco a importante aliança entre o PSOL e o MTST.
Definir no próximo período formas mais democráticas de escolha das candidaturas
Os diferentes mecanismos democráticos decisórios de um partido de esquerda não podem ser reivindicados apenas quando é conveniente para a agenda das tendências internas. Precisamos que o partido debata profundamente quais as formas de decisão que julga melhores e as façam valer sempre, com regras previamente conhecidas por todos os militantes. Essa é a melhor maneira de preservar a democracia interna e evitar que se substitua as discussões políticas por discussões de método.
Devemos agendar para o próximo congresso nacional um debate profundo sobre a necessidade de definir com antecedência nossas candidaturas e nosso arco de alianças, de realizar prévias amplas junto aos nossos filiados, de fazer com antecedência o debate sobre programa, análise de conjuntura e tarefas para que as candidaturas expressem ao máximo as opiniões do conjunto do partido.
Unificar o PSOL para a campanha eleitoral
Depois da conferência eleitoral de 10 de março todas as correntes e pré-candidatos do PSOL precisam se unificar em uma grande campanha eleitoral como o PSOL nunca fez. Os desafios são gigantes, precisamos apresentar uma alternativa política à direita, que dirige o país, mas também ao lulismo. Um dos ataques sobre a esquerda socialista foi a recente reforma política. Ela também trás desafios que exigem unidade. O PSOL precisa ultrapassar a cláusula de barreira para garantir a sua legalidade além do funcionamento pleno no parlamento.
A eventual vitória da candidatura Boulos/Guajajara e a construção da frente eleitoral entre o PSOL, MTST, PCB, Mídia Ninja e movimentos sociais potencializa a campanha do PSOL. Será a abertura de um novo momento da reorganização da esquerda com a construção de um terceiro campo com capacidade de disputar um novo projeto para mudar o Brasil na perspectiva da classe trabalhadora e da juventude.
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