Por Bernardo Lima, de Contagem, MG
A polêmica entre Uber e taxistas voltou às páginas policiais nesta terça-feira (30). Um grupo de taxistas encurralou e espancou um motorista de Uber na Avenida Cristiano Machado, em frente ao Minas Shopping em belo Horizonte. Após terem imobilizado a vítima, um dos agressores desferiu um golpe de faca contra o motorista de Uber. O homem que esfaqueou já está detido e deve pegar alguns anos de cadeia, provavelmente deixando a família em colapso financeiro. Já o motorista esfaqueado, que não corre risco de morte, levará consigo as cicatrizes e os traumas de uma violência deste tamanho.
O aumento da violência urbana é diretamente proporcional ao desemprego e à privação dos direitos mais elementares, como saúde, educação e moradia. É dentro desse contexto que devemos entender o conflito de ontem. Tanto a maioria dos taxistas quanto os motoristas de Uber são trabalhadores precários. Os taxistas, dirigindo veículos de frota, são explorados por um setor empresarial que maximiza seu lucro, combinando a reserva de mercado e a superexploração dos que dirigem seus carros. Não raro os donos da frota são políticos, ou possuem relação estreita com estes. Já os motoristas de Uber são trabalhadores que viram na empresa que controla o aplicativo uma forma de subir na vida. Se iludem, como se fossem num passe de mágica donos de seu próprio negócio, enriquecendo a multinacional sem possuir qualquer direito trabalhista ou garantia de rendimento. Férias, décimo terceiro salário, seguro contra acidentes, FGTS e outros direitos são negados a esses trabalhadores.
A esquerda deve refletir sobre o ocorrido no dia de ontem. Quando um trabalhador ameaça a vida de outro trabalhador por que acha que este é o seu inimigo é porque nossos adversários estão ganhando terreno. Não faltam motivos para os motoristas de táxi ou de Uber se indignarem com suas condições de trabalho. Falta a consciência de quem é o responsável pelos seus flagelos.
A esquerda deve urgentemente apresentar um programa que garanta emprego para todos, com plenos direitos. Um programa que coloque fim as condições que permitem que existam ricos proprietários de frotas de táxis, assim como multinacionais como a Uber explorando motoristas desesperados. Uma medida emergencial interessante seria proibir a locação de frotas por parte dos taxistas, obrigar a Uber a assinar a carteira dos motoristas e, caso a multinacional deseje abandonar o negócio, regularizar um aplicativo nacional de caronas sem fins lucrativos para além do próprio trabalhador. Ao mesmo tempo, sem esquecer que a solução para a mobilidade urbana se encontra em um serviço de transporte público, estatal, gratuito e eficiente. Esse não é um programa acabado para o conflito entre a Uber e os taxistas. É uma pequena contribuição para que a esquerda encontre uma resposta dos trabalhadores para esses trabalhadores.
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