Por: Josias Porto, de Salvador, BA
Um dos alvos das ações da extrema-direita, nesses últimos dias, tem sido a Universidade Federal da Bahia. A repercussão maior se deu no último dia 13, com a exibição do documentário “O Jardim das Aflições”, sobre Olavo de Carvalho, uma conhecida liderança da extrema-direita brasileira, apesar de residir nos EUA. Olavo de Carvalho e outros figurões desse campo que tem crescido no país, como Jair Bolsonaro, pré-candidato à Presidência, difundem explicitamente um discurso de ódio aos negros, LGBTs, mulheres, indígenas, quilombolas, à esquerda em geral, além de fazerem alusões saudosistas à sangrenta ditadura militar brasileira que torturou e exterminou fisicamente aqueles que a ela se opunham.
Sobre o episódio: a exibição do documentário foi cancelada a partir de um alerta de segurança sobre a possibilidade de conflito. Ainda assim, o conflito aconteceu, já que os seguidores do “filósofo” de direita insistiram em projetar o documentário nas paredes da biblioteca, na praça mais movimentada da universidade. Tamanha provocação não ficaria sem reação de quem passava e, inevitavelmente, se indignava. E os “olavistas” foram preparados para isso. Há denúncias de que haviam muitos discretamente armados. Hostilizados pela comunidade acadêmica, a Polícia Militar precisou os escoltar para que saíssem do campus.
Nesse momento, tenta-se confundir os fatos ao se culpar o reitor, João Carlos Sales, por supostamente ter impedido a liberdade democrática de expressão. Há inclusive uma ação do vereador Cezar Leite (PSDB) no Ministério Público Federal, solicitando investigação ao reitor. O vereador o acusa de censura. O que o vereador que estava no local não diz, contudo, é que o público do filme tinha outras intenções com a exibição, já que acreditam ser a universidade o antro dos subversivos, que, portanto, precisa ser combatida. Intenções que ficaram explícitas na postura e nas ações que tiveram.
Não é por acaso que estes mesmos que reivindicam liberdade de expressão tentaram impedir a defesa de uma dissertação de mestrado no Instituto de Humanidades, Artes de Ciências da UFBA, tendo a universidade que solicitar segurança própria para que a atividade acadêmica pudesse se realizar. São também os que ameaçam pesquisadoras do NEIM (Núcleo de Estudos Interdisciplinares da Mulher) de morte e de outros tipos de violência; além de outras ações nas redes sociais contra projetos de pesquisa e extensão. Tudo isso está denunciado numa moção do Conselho Universitário, do dia 13 de novembro.
Construir uma agenda contra o semi-fascismo: agir agora antes que seja tarde demais
“Se você não está indignado, você não está prestando atenção”. Essa foi a última postagem no Facebook de Heather Heyer, assassinada no último dia 12 de agosto, em Charlosttesville, Virgínia, EUA, pelo neonazismo. Essa ativista norte-americana se tornou símbolo da resistência contra o absurdo movimento da extrema-direita norte-americana que ressuscitou as tochas da Klu Klux Klan como símbolo do seu movimento, e tentaram impedir a derrubada de estátuas de “heróis” escravocratas.
A indignação daqueles que estão prestando atenção precisa se transformar em ação, antes que seja tarde demais. Por isso nos somamos a duas importantes iniciativas nos próximos dias: Uma plenária convocada por grupos de pesquisa da UFBA, para defender a autonomia e a democracia da universidade pública, na próxima quarta; e um ato com o eixo “Ditadura nunca mais!”, chamado pela Frente Povo Sem Medo, no sábado de manhã, na região do “Iguatemi”, local onde um grupo tem insistentemente levantado faixas pedindo “Intervenção militar já!”. Entendemos que essas ações precisam ser abraçadas por todos os movimentos, organizações e ativistas que defendem a democracia, e delas se possam construir uma agenda de lutas contra o crescimento do discurso de ódio da extrema direita semifascista.
Plenária em Defesa da Democracia e da Universidade Pública
22/11, Quarta-feira, 11h, Pátio Raul Seixas (São Lázaro) FFCH/ UFBA.
Ato “Ditadura Nunca Mais!”
25/11, Sábado, 10h, Iguatemi.
A foto segue em anexo. Fonte da foto: atarde.uol.com.br
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