Editorial 10 de outubro,
Jair Bolsonaro desembarcou nos Estados Unidos no domingo (07). No mesmo dia, João Dória apareceu sorridente na festa popular de Círio de Nazaré, em Belém (PA). A um ano das eleições, a corrida presidencial ganha intensidade e a disputa entre nomes da direita mostra-se acirrada.
Enquanto Bolsonaro rasgava a máscara do nacionalismo em solo ianque, ao defender um programa de entrega do patrimônio brasileiro às multinacionais norte-americanas, a revista Veja disparava contra o militar. A capa do semanário estampou em foto aterrorizante “A ameaça Bolsonaro”.
Melhor sorte não teve o prefeito fantasma de São Paulo, que recebeu um duro golpe de Alberto Goldman, vice-presidente do PSDB, que num vídeo publicado nas redes sociais acusou Dória de não ser um “prefeito” e sim um “candidato a presidente”. O prefeito turista, visivelmente alterado, respondeu com grosserias e insultos.
O episódio revela que subiu muito a temperatura no ninho tucano, com Geraldo Alckmin passando à ofensiva na disputa com seu ex-pupilo. E para selar o mal momento do prefeito-empresário, a pesquisa Datafolha mostrou que a rejeição a Dória cresceu consideravelmente na capital paulista.
A crise da direita tradicional e o espaço da extrema-direita
A evolução regressiva do cenário político brasileiro abriu um espaço inédito à extrema-direita. Cresceu numa parcela significativa da população, sobretudo nas camadas médias e mais ricas, o apelo a uma saída autoritária e conservadora, abertamente reacionária.
O raivoso anti-lulismo não se plasmou nos partidos e figuras tradicionais da direita. Ao contrário, o PSDB, PMDB e seus caciques foram fortemente atingidos pela crise, tanto que ostentam níveis de rejeição popular altíssimos, superiores ao do PT e de Lula.
A principal figura que capitaliza o espaço político da extrema-direita é Jair Bolsonaro, que aparece em segundo lugar nas pesquisas presidenciais. O líder neo-fascista tem milhões de seguidores, mobiliza multidões nas cidades por onde passa e segue em dinâmica ascendente.
Bolsonaro, entretanto, não tem a confiança da classe dominante e tampouco é tido como opção pelos principais partidos da ordem. Por isso, a direita tradicional, preocupada com seu desempenho eleitoral, começa a atacá-lo com mais virulência, como fez a última edição da Veja.
João Dória, por sua vez, ocupa um espaço político situado entre Alckmin e Bolsonaro. Isto é, aparece mais à direita que seu padrinho, mas faz questão de não se mostrar tão extremista quanto o defensor da Ditadura. Nisso reside sua força, mas também parte de seus problemas. Pois não é tão radical como o líder fascista, o que não satisfaz os mais extremistas; e também não se mostra um conservador “moderado”, de centro-direita, como figura o governador de São Paulo aos olhos de parte do eleitorado.
A burguesia está preocupada. E não apenas em razão da dificuldade em encontrar um nome viável e confiável para as eleições de 2018. A resiliência político-eleitoral do lulismo a assusta também. Contrariando todas as expectativas, a rejeição de Lula vem diminuindo e sua popularidade aumentando. Se a eleição fosse hoje, o petista venceria no primeiro e no segundo turno. Mesmo a provável condenação de Lula em segunda instância, que o tornaria inelegível, não é mais motivo de segurança para a direita. Teme-se, agora, que Lula, mesmo condenado, possa alavancar a candidatura de outro candidato petista.
O desafio da esquerda socialista
A evolução da conjuntura política não vem favorecendo a esquerda socialista, é verdade. O avanço da extrema-direita, o refluxo das ruas e a relativa recomposição do petismo no espectro à esquerda da sociedade são obstáculos reais.
Mas o atraso no lançamento de uma candidatura alternativa, com um programa à esquerda do petismo, para enfrentar a ofensiva reacionária e defender os interesses dos trabalhadores e oprimidos, vem contribuindo para o atual quadro de dificuldades.
Ainda há tempo. É fundamental que o PSOL lance, o quanto antes, uma candidatura presidencial, articulando uma frente de esquerda com movimentos sociais (Povo Sem Medo, MTST, entre outros.) sindicais (CSP-Conlutas, Intersindical), culturais e outras organizações políticas combativas (PSTU, PCB). Seria muito importante, também, que Guilherme Boulos e o MTST assumissem, junto com o PSOL e demais organizações, a construção dessa candidatura da esquerda socialista. O ciclo de debates da plataforma Vamos! pode apontar nesse caminho.
Fortalecer e ampliar as lutas de resistência, combater a reação em todos os âmbitos e apresentar uma nova alternativa de esquerda, essas são as tarefas que consideramos imprescindíveis na atual conjuntura.
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