Por: Secretaria de Opressões do MAIS de Alagoas
Por entre as redes sociais tem circulado a campanha do Setembro Amarelo, o mês de conscientização sobre o suicídio. Dentre várias razões, a campanha tem o interesse de mostrar à sociedade as causas do suicídio e atentar para as estatísticas alarmantes do que se tornou uma das principais causas de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Sabemos, entretanto, que pessoas LGBTs são um grupo vulnerável que compõe parcela considerável desses dados e, por esse motivo, é preciso discutir a invisibilidade que damos ao tema e a política que devemos ter de combate à criminalização e patologização de nossas identidades.
Declarar-se LGBT em uma sociedade que rejeita comportamentos que fujam à normatividade heterossexual é desafiar padrões não apenas sociais, mas também médicos e jurídicos. É preciso que nos situemos: ainda protagonizamos as lutas contra a onda política conservadora que influencia nosso reconhecimento legal e contra a atestação de transtorno mental que o discurso médico ainda propõe para nós.
Somado a isso, precisamos encarar uma sociedade que, em quase todos os seus segmentos, reprime nossos comportamentos. E o primeiro segmento que precisamos encarar é, na maioria das vezes, nossa própria família. De maneira diferente ao que ocorre com algumas outras formas de opressão, pessoas LGBTs sofrem suas primeiras violências dentro de suas próprias casas, e precisam descobrir suas próprias identidades sozinhas, sem que o seio familiar seja para elas um lugar de acolhimento e empatia.
Em face dessa exclusão, o crescimento dos índices de suicídio evidencia o ponto dentro das estatísticas de que nós somos um grupo social mais propenso a tentar suicídio. É o que comprova a Columbia University em pesquisa de 2012: com uma participação de 32 mil jovens entre 13 e 17 anos, ela constatou que adolescentes LGBTs estão cinco vezes mais propensos à tentativa do que adolescentes heterossexuais. O Centro Nacional pela Igualdade de Transgêneros constatou, ainda, que 40% das pessoas trans já tentaram suicídio.
Para além das estatísticas, apesar do déficit em pesquisas voltadas para a realidade brasileira e latino-americana, é preciso reconhecer que não há metodologia de pesquisa que traduza, em números, os efeitos dos ataques cotidianos que atingem as pessoas LGBTs: as hostilizações verbais, as agressões físicas, as repressões de expressão corporal e os assassinatos são parte de uma estrutura que institucionaliza o ódio e a discriminação.
Em um contexto político de avanço dos setores de direita e de um discurso responsável por nossa morte, proferido especialmente por Bolsonaro, seus seguidores e outros parlamentares que representam a direita fascista do país, nosso papel consiste em criar, coletivamente, uma unidade de resistência a esses ataques. Devemos impedir que nossa existência seja deslegitimada por uma direita que tem suas mãos sujas com o sangue do povo LGBT.
No fim das contas, o suicídio da população LGBT é um homicídio de autoria coletiva. Faz parte, portanto, do nosso papel garantir que companheiros e companheiras de luta se sintam amparados e amparadas o suficiente para que, juntos e juntas de nós, tenham garras suficientes para derrotar as forças do Congresso Nacional dispostas a tornar invisíveis as nossas pautas.
Leelah Alcorn, Nicholas Domingues, Kayla França e todos e todas aqueles e aquelas que nos deixaram um legado de luta e resistência, presente!
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