Editorial de 18 de setembro,
Os galinhas verdes estão, depois de muito tempo acuados, levantando asas. Antonio Hamilton Mourão, general da ativa, declarou, em evento promovido pela maçonaria, em Brasília, na última sexta-feira (15), que seus “companheiros do Alto Comando do Exército” compreendem que uma “intervenção militar” poderá ser imposta se o Judiciário “não solucionar o problema político”.
Trajando farda, o general afirmou que a força militar realizou “planejamentos muito bem feitos” a respeito do possível golpe militar. Segundo ele, a cúpula do Exército considera que ainda não é o momento para a ação, mas que ela poderá ocorrer após “aproximações sucessivas”.
O militar entrou no exército em 1972. E foi graduado como oficial na ESNI (Escola do serviço Nacional de Informações), que era o braço de inteligência da repressão durante a Ditadura. Em 2015, foi exonerado do Comando Militar do Sul, após manifestar apoio ao impeachment de Dilma Roussef (PT). Neste mesmo ano, um oficial sob seu comando fez uma homenagem póstuma ao coronel Brilhante Ustra, responsável por inúmeros crimes de tortura e assassinatos na Ditadura Militar.
Mourão fez declarações públicas de grave afronta à ordem constitucional, mas, até o momento, não houve manifestação de Michel Temer, do ministro da Defesa, ou do Comando das Forças Armadas. Se a defesa das garantias democráticas constitucionais fosse levada minimamente a sério, o general golpista já estaria exonerado e preso.
Não foi raio em céu azul
A ameaça do general não foi um ato isolado de um velho saudosista da Ditadura, sem conexão com a realidade. Trata-se, na verdade, de um perigoso sintoma político-social, o avanço da extrema-direita no Brasil. Na última semana, tivemos vários episódios preocupantes que comprovam isso.
Por exemplo, o cancelamento da exposição de arte em Porto Alegre, após campanha sórdida orquestrada pelo MBL, ganhou enorme repercussão nas redes sociais. Poucos dias depois, em passagem de Jair Bolsonaro por Belo Horizonte, houve um violento confronto entre grupos a favor e contra o líder neofascista.
Já no sábado (16), sem-tetos foram alvejados por balas na ocupação do MTST, em São Bernardo do Campo (SP). Um pai de santo foi assassinado em Fortaleza (CE), após se recusar a quebrar imagens de santos em seu terreiro. Em São José do Campos (SP), o sindicato dos metalúrgicos vem sofrendo de campanha difamatória organizada pelo MBL, o que ocorre, provavelmente, em conluio com a patronal. Recentemente, um diretor do sindicato e um trabalhador eleito na CIPA da GM foram demitidos.
Existe perigo de golpe?
É inegável o fortalecimento dos setores ultra-reacionários no Brasil. Diante da crise política, social e econômica dos últimos anos, num contexto de golpe parlamentar e ofensiva burguesa, e também de crise da esquerda, devido à desilusão provocada pelo fracasso do projeto petista de conciliação de classes, a extrema-direita se aproveita do mal-estar social para reviver os monstros do passado, apresentando uma alternativa de apelo à força e à ordem.
Porém, tendo em conta as atuais condições da realidade política nacional, não existe a possibilidade de golpe militar, ao menos neste momento. Pois, embora tenham crescido consideravelmente os defensores da intervenção militar, especialmente nas camadas médias da sociedade, e, em menor medida, nos setores populares, trata-se ainda de uma minoria da população.
A classe dominante, por sua vez, não trabalha com essa saída drástica, por enquanto. Inexiste o temor de uma revolução dos trabalhadores e do pobres, que subverta a dominação burguesa. Assim, a opção militar apresenta, neste momento, mais riscos do que benefícios aos grandes capitalistas, que estão impondo duríssimos ataques aos trabalhadores sem a necessidade das Forças Armadas no poder.
A declaração do Mourão atende a outro objetivo imediato, o de alimentar as forças políticas e sociais da extrema-direita. É um convite aberto à organização e ação do neofascismo em todo o país. Neofascismo que tem atualmente significativa expressão político-eleitoral: Bolsonaro está em segundo lugar nas pesquisas presidenciais.
Ao mesmo tempo, o general pretende, com sua declarações, fomentar, política e socialmente, uma alternativa extrema, que tem como estratégia o golpe militar, caso este seja necessário no futuro.
Combater a extrema-direita, tarefa imediata
A esquerda brasileira não pode titubear, é preciso enfrentar com a máxima seriedade e unidade o crescimento da extrema-direita. O combate político e ideológico contra esses setores deve ser tomado com uma das prioridades neste período. Não se deve, em hipótese alguma, menosprezar o neofascismo tupiniquim.
Por outro lado, é necessário construir uma nova alternativa de esquerda, que apresente um projeto de transformação de país que desperte novamente a esperança do povo trabalhador e da juventude. O mal-estar social hoje está sendo, em parte, canalizado para o ódio e para a intolerância de direita.
A esquerda que se vendeu à ordem dominante, se enlameando em relações promíscuas com os ricos e poderosos, frustrando, assim, os sonhos e a confiança da maioria do povo, tem responsabilidade direta no crescimento da extrema-direita. Por isso, uma nova alternativa de esquerda, para ser viável, tem que se construir em ruptura com o lulismo e o petismo.
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