Por: Matheus Gomes, colunista do Esquerda Online
A Favela do Jacarezinho (RJ) está ocupada pelo Exército e pelas forças policiais. Nessa segunda-feira (21), além dos tanques e caminhões de guerra, uma mega operação que envolveu as Polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro e a Polícia Federal, Força Nacional e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), sob o comando do Ministro da Defesa Raúl Jungann, paralisou a vida na comunidade em nome da “guerra às drogas”.
O clima de terror está instaurado na Zona Norte desde o dia 11 de agosto, quando o agente da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) Bruno Guimarães Buhler foi assassinado. As ações das policias teriam o objetivo de investigar o crime, entretanto, a violência castiga o conjunto da comunidade. Segundo manifesto organizado por moradores, os policiais agem movidos por um cruel revanchismo, vingando a morte de Bruno com a vida de inocentes e abusos sob toda comunidade.
No fim da tarde de ontem, o jornal Extra divulgou o balanço da operação até o momento: cerca de R$ 1 milhão em drogas e armas apreendidas. Nada de novo que consiga justificar o uso de tanta força repressiva. Apreensões como essa são feitas em todos os cantos do país o ano inteiro, mas o combate aos efeitos do problema é inútil sem o ataque às suas raízes, que no caso do tráfico de drogas tem como “troncos” vitais a elite econômica, política e militar que governa o país. Enquanto eles transportam suas toneladas de drogas em helicópteros sem problema nenhum, operam em todos os terrenos a ampliação do racismo e da criminalização da pobreza através da retirada de direitos sociais e a restrição das liberdades democráticas.
Desde ontem, mais de 30 mil crianças ficaram sem escola por tempo indeterminado, milhares de pessoas estão sendo revistadas ostensivamente ao sair para o trabalho e outras sequer conseguem deixar suas casas com medo de não voltar para ver os filhos.
Protestos ocorrem desde a semana passada, exigindo o fim da violência de Estado, mas nessa segunda, conforme mensagem que circulou pelas redes sociais, devido ao ‘Estado de sítio’ da comunidade, as atividades de recolhimento de assinaturas e divulgação da campanha que exige o fim da “guerra às drogas” e direitos básicos às periferias não ocorreram. “Não há vida no Jacarezinho nesse momento”, afirmam os ativistas.
As forças militares atuam para impedir a organização da população nas comunidades. Na semana passada, a PM lançou bomba contra um protesto majoritariamente composto por mulheres. No final de semana, o encontro dos militantes do PSOL que ocorreria em Manguinhos com o objetivo de debater a resistência nas comunidades teve que ser cancelado, pois com as ações policiais seria impossível realizar o debate. A ocupação no Jacarezinho também visa impedir a organização política dos moradores, que buscam alternativas à crise econômico-social e ao aumento da militarização e da violência. O movimento promete marcar novas mobilizações para denunciar a situação de terror construída pelos governos, o tráfico e as forças militares na comunidade, exigindo direitos sociais e paz ao povo negro e trabalhador. Confiram novas atividades e o conteúdo do manifesto na íntegra, no evento.
Foto: Reprodução Facebook Marielle Franco
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