Por: Henrique Canary, colunista do Esquerda Online
O Esquerda Online tem defendido incessantemente a necessidade de superar o lulismo pela esquerda e apresentar uma alternativa política socialista para as eleições de 2018. O discurso de que “2018 está longe” só serve ao próprio petismo (que já apresentou uma alternativa – Lula) e à direita, que assim ganha mais tempo para se articular.
Entre os trabalhadores, há muita gente assustada com Temer e iludida com o lulismo. Este é o principal debate na sociedade: Qual a alternativa? A velha direita ou a volta do PT? Mas nós da esquerda socialista sabemos que este é um falso debate. Por isso, nos integramos à plataforma “Vamos! Sem medo de mudar o Brasil” com um alerta de que seria errado transformar essa importante e correta iniciativa da Frente Povo Sem Medo em uma espécie de movimento de reconciliação com o PT. Lula detém 30% das intenções de voto e continua sendo a maior referência do povo pobre e oprimido. Por isso, chamamos e continuaremos chamando Lula e o PT a colocarem toda a sua influência a serviço da luta contra as reformas do governo Temer. Lutaremos ao lado de qualquer um que queira lutar. Não apresentamos nenhuma pré-condição neste terreno.
Mas quando se trata de apresentar uma alternativa política para o país, as coisas mudam de figura. Aí não há acordo possível com o PT. Lula já declarou inúmeras vezes que, se for eleito, não só não anulará as contrarreformas implementadas até agora, como fará outras. Porém, mais leves, em doses mais homeopáticas. Lula já criticou “as frescuras do PSOL” em fazer acordos com forças políticas reacionárias e de direita. Ou seja, já está evidente que um terceiro governo Lula será essencialmente igual aos outros dois: acordos com a direita, contrarreformas reacionárias, enriquecer ainda mais os ricos, pequenas concessões sociais e democráticas. Isso não nos basta. Foi essa lógica de ceder sem parar à direita que nos trouxe à tragédia que vivemos hoje. É preciso um governo e um programa de ruptura. Nossa posição sobre a necessidade de superar o petismo, o programa alternativo que apresentamos e os alertas que fazemos sobre as ilusões no lulismo podem ser vistos aqui, aqui e aqui.
O PT aderiu à plataforma “Vamos!” E agora?
Agora, no esforço por superar o petismo, nos enfrentamos com um problema: o próprio PT decidiu participar da iniciativa “Vamos! Sem medo de mudar o Brasil”. A presidente do PT Gleisi Hoffmann fez recentemente uma postagem em seu facebook divulgando a plataforma e figuras diretamente ligadas ao PT estão nas mesas de debates em várias cidades. O que fazer nesta situação? Boicotar? Fingir que nada mudou?
Em primeiro lugar, é preciso entender por que o PT aderiu à inciativa. Querem impedir que a Frente Povo Sem Medo e o PSOL se coloquem como alternativa à esquerda do lulismo. A entrada do PT na jogada é um reconhecimento, por parte deles, da força e da correção da iniciativa. Sendo assim, o que fazer?
Ora, em nossa opinião, a entrada do PT no movimento “Vamos!” torna ainda mais importante a participação de todas as correntes e ativistas da esquerda socialista nesse ciclo de debates. Se o PT quer debater uma saída para o Brasil, não somos nós que vamos fugir dessa discussão. Ao contrário: faremos um duríssimo balanço sobre os 14 anos de governos petistas, sobre a famosa “Carta ao Povo Brasileiro”, sobre as alianças com o agronegócio e o setor financeiro, sobre a Reforma da Previdência de 2003, sobre o Código Florestal, sobre Junho de 2013, sobre a privatização dos aeroportos, sobre a entrega do pré-sal e o sucateamento da Petrobrás, sobre a corrupção generalizada que realmente atingiu o governo petista, sobre a ocupação do Haiti, sobre não terem movido um dedo para resistir ao golpe do impeachment, enfim, sobre todos os erros que nos trouxeram até aqui e que o PT e Lula querem repetir agora.
Não devemos ter medo de debater com ninguém, nem com o PT, nem com Gleisi Hoffman, nem com Tarso Genro, nem com Lula. Na verdade, a entrada do PT na iniciativa traz uma grande vantagem: ao invés de debater entre nós, vamos debater com quem tem 30% de intenções de voto. Isso faz muita diferença e pode dar um grande impulso à iniciativa “Vamos!”.
É preciso romper o isolamento da esquerda socialista
Ao longo dos 14 anos de governo petista, a esquerda socialista foi colocada na marginalidade, se acostumou a debater entre si, a se satisfazer com uma crítica que somente ela própria entendia e concordava, desaprendeu a debater com quem importa, adquiriu o terrível vício (talvez já viesse de antes) de polemizar somente entre si.
Pois a iniciativa “Vamos!” será um grande desafio e pode servir para reeducar toda uma geração de militantes. A esquerda socialista pode e deve voltar à verdadeira cena política do país, sair de seus pequenos espaços sectários, derrubar os muros e as paredes que a separam do debate real na sociedade. A iniciativa “Vamos!” nos permite fazer esse debate com um dos atores políticos centrais do país. Tanto melhor! Tanto mais forte deve ser a participação dos ativistas de esquerda nesses debates. É preciso inundar essas plenárias com nossa militância de esquerda, mostrar que o PT é forte, mas que não é mais hegemônico no movimento social, que aprendemos alguma coisa nos últimos 14 anos.
O PT aderiu à iniciativa. Vamos sair pela outra porta? Vamos dizer “obrigado, não fumo”? Vamos virar as costas aos 30% que têm ilusões em Lula? Não! Vamos com mais força! Somente assim uma alternativa poderá ser forjada. Do contrário, o PT sequestrará a iniciativa e a transformará, sem qualquer resistência nossa, numa plataforma de apoio ao lulismo.
O resultado do debate está decidido? Não! Nem a nosso favor, mas também nem a favor do petismo. Há riscos? Há! Mas olhemos ao nosso redor! Por acaso temos o direito de ficar em casa? Vamos!
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