Por: Waldo Mermelstein, de São Paulo, SP
No acordo de devolução de Hong-Kong à China, em 1997, algumas margens de liberdades democráticas distintas das que vigoram na China continental, tais como a liberdade de organização e expressão, foram mantidas. A assimilação da ilha foi facilitada pela restauração capitalista àquela altura muito avançada no continente, mas não alterou essa situação no essencial.
Em 2014, pela primeira vez após o esmagamento do levante de Tiananmen, em 1989, um questionamento público e de massas a uma medida antidemocrática do regime central ocorreu precisamente em Hong-Kong. Imensas mobilizações, denominadas de ‘revolução dos guarda-chuvas‘ paralisaram o centro da cidade exigindo eleições livres para o governo local, contra a proposta de Beijing de ‘aprovação prévia’ dos candidatos autorizados a participar . Mesmo derrotado, o movimento, pela sua extensão, profundidade e imponderáveis efeitos no continente chinês, deixou profundamente preocupado o governo ditatorial de Beijing.
A diminuição do ritmo de crescimento do país e as múltiplas contradições do modelo econômico levaram o governo de Xi Jin Ping a aumentar o controle e a repressão às ONGs e às mobilizações de trabalhadores, que continuam a ocorrer em grande número na China.
As semanas anteriores ao Ano Novo Lunar na China costumam ser um momento alto nas mobilizações, quando milhões de trabalhadores migrantes visitam suas aldeias e vilarejos natais e lutam para receber o pagamento dos salários atrasados para não chegarem de mãos vazias. Neste ano, destacaram-se os mineiros do carvão, que sofrem com os planos de demissão de até 1,8 milhão de trabalhadores.
Uma jovem trotskista ameaçada em Hong Kong
Sally Tang Mei-ching, militante de Socialist Action, seção do Comitê por uma Internacional Operária, é processada pela multinacional MTR, dona do sistema de trens e metrô de Hong Kong, surgido da privatização em 2000. É uma das maiores construtoras da cidade, tem investimentos e contratos em vários lugares do mundo.
O alegado crime foi o de transportar bandeiras maiores do que o permitido, de 1,80 metros e negar-se a apresentar sua identidade aos agentes de segurança da companhia.
Os motivos são fúteis e a pena pode ir a seis meses de detenção e multa, mas o que está em jogo é mais um ataque aos direitos democráticos em Hong Kong, aos que lutam pelos direitos democráticos e dos trabalhadores.
Recentemente, Sally foi candidata às eleições distritais da cidade pelo Socialist Action, um pequeno grupo trotskista, o único em território chinês. Utilizaram a legenda da Liga Social Democrata e concorreram no distrito mais pobre da cidade, Sham Shui Po, tendo obtido uma significativa votação. O programa incluía a luta contra a ditadura do PC Chinês, contra os milionários que controlam toda a vida da cidade, pelo controle e congelamento dos aluguéis, por um sistema universal de previdência social e pela semana de 40 horas . Além dessas bandeiras, não por acaso, em seus materiais havia um guarda-chuva.
O julgamento será no dia 1º de setembro. Aqueles que puderem enviar mensagem à multinacional para que desista da ação, podem postar no Facebook da companhia, ou escrever para MTR Corporation Limited, GPO Box 9916, Hong Kong.
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