Editorial 29 de maio
Após os 150 mil de Brasília, que resistiram aos enfrentamentos da polícia para dizer que não aceitarão nenhum retrocesso e querem a saída de Temer da Presidência, novos cem mil se reúnem e voltam a pedir eleições diretas no ato em Copacabana, no Rio de Janeiro. Artistas como Caetano Veloso, Milton Nascimento, Criolo, Mano Brown deram o tom de esperança necessário para milhares de pessoas, com a firmeza de que é preciso se posicionar e tomar com as próprias mãos a decisão dos rumos do país e de nosso futuro. Após 30 anos do último pedido de diretas no Brasil, esse fato histórico demonstrou que esse é o momento de ampliar nossas vozes e ações. Já são 85% da população que apoiam essa pauta. Agora, é a hora dos movimentos sociais organizados não arredarem o pé e se posicionarem em xeque mate nesse jogo, com a construção de uma nova forte greve geral. É necessário e possível vencer!
Desde o golpe parlamentar instituído no Brasil, os de cima deixaram claro que o grande objetivo era a aprovação de reformas que mexeriam com a estrutura social do país. As consequências da crise precisavam ser fatiadas entre os de baixo e não apenas com aumento conjuntural do desemprego, mas com medidas profundas que, se implementadas, rebaixarão a níveis desumanos a capacidade de sobrevivência de parte de nossa população. Aumentarão ainda mais os altos níveis de desigualdade e poderão nos submeter a graus ainda mais dependentes na divisão internacional do trabalho. É um jogo complexo, mas que tem a ver com o interesse dos de cima de não abrir mão de suas fatias no bolo.
Enquanto se engalfinham, querem nos impor reformas da Previdência, Trabalhista e tirar qualquer sinal de nossas migalhas. Para isso, não se importam com a impopularidade de suas medidas. No entanto, após os escândalos envolvendo o governo Temer, o presidente ilegítimo perdeu grande parte da sua base de sustentação. Como a JBS, que tomou seu rumo, estão pensando na melhor estratégia para se protegerem, unidos por um único programa, as reformas. E não há mais condições de seguir as aprovando nesse governo, como gostariam, a não ser com medidas extremas, o que motivou o tropeço da autorização da força do Exército, aprovada durante o protesto de Brasília no dia 28. A instabilidade do governo é gritante.
Ao mesmo tempo, cresce a capacidade de resistência dos de baixo. A impopularidade do governo de 71% antes dos escândalos já demonstrava isso. Agora, uma das únicas saídas apontadas pela burguesia, de eleições indiretas, para continuar aprovando o seu projeto inicial, seja com quem for à frente, também não é vista com bons olhos pelo conjunto da população. Ao todo, 85% dos brasileiros querem eleições diretas. A pauta saiu do círculo dos movimentos sociais organizados, das centrais sindicais e partidos de esquerda. Se ampliou massivamente e está nas vozes de Marias, Josés, Caetanos, Miltons e Manos Browns.
Hoje, acontece nova reunião das centrais sindicais. Desperdiçar esse momento de ofensiva na resistência poderá significar um crime para a nossa história. É preciso se utilizar de todas as forças que os trabalhadores já demonstraram ter nesse país. Temos uma classe com um dos maiores pesos do mundo. Ela precisa estar em ação. Não há qualquer saída que não seja construída nas ruas, nas fábricas, nos locais de trabalho e estudo. Já medimos a nossa força. Ela só se amplia e ganha legitimidade. Agora, é hora do ataque dos de baixo. É necessária uma nova greve geral.
Foto: Diretas Já
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