Por: Mais São Paulo
São Paulo é a maior cidade do Brasil e uma das maiores cidades do mundo, com cerca de 12 milhões de habitantes. A cidade que produz R$ 14 mil de riqueza por segundo, também é aquela em que o 1% mais rico continua com a renda crescente. Enquanto isso, os 50% mais pobres, continuam perdendo renda e consequentemente, vendo a piora das suas condições de vida. A cidade dos negócios e da riqueza, também é a cidade da mais profunda desigualdade social. Será neste cenário que os atores da corrida às eleições municipais desfilarão seus distintos projetos.
Há três anos, aqui explodiu o estopim de junho de 2013, justamente pela questão do transporte público. A juventude e os trabalhadores tomaram as ruas contra o aumento da passagem, afirmando que queriam mais direitos, que não era somente pelos 20 centavos. De dois anos para cá, a cidade também foi marcada por protestos que expressavam os anseios das classes mais abastadas, conduzidas por velhos conhecidos da direita tradicional do país.
São Paulo protagonizou a polarização política que se estabeleceu no Brasil. As jornadas de Junho de 2013 e a greve dos rodoviários e metroviários que parou a cidade em 2014, reivindicavam mais direitos para os trabalhadores. Já, as manifestações reacionárias que se iniciaram em 2015, tiveram como símbolo o prédio iluminado da FIESP, quartel general da burguesia do país e que culminou na manobra parlamentar do impeachment de Dilma Rousseff. Em 2013 as ruas se encheram com a juventude trabalhadora e precarizada. Já a partir de 2015, a grande maioria da população assistiu às manifestações de suas casas. Ficaram nas periferias das periferias, onde o metrô não chega, onde a crise da água se manifestou há muito tempo, onde a ideia de metrópole e grande cidade se torna questionável, ou ganha uma definição mais realista.
Os anos da gestão do PT no Governo Federal e também os anos da gestão de Haddad no município, produziram uma grande desilusão entre os trabalhadores. Se é verdade que a maioria da população não compareceu aos chamados da elite branca paulistana, também é verdade que a maioria dos trabalhadores tampouco compareceu às manifestações chamadas pelo PT para defender Dilma.
Agora, nestas eleições, a mesma direita que dirigiu as manifestações reacionárias, têm vários representantes. Sob o discurso de proteção ao consumidor, Celso Russomano é um clássico representante da velha política conservadora, que pensa a cidade sob a ótica da repressão à pobreza. Sua mais recente ação política é a conformação de uma frente parlamentar em defesa da Polícia Militar. Também já disse que está fora de cogitação reduzir a tarifa dos transportes.
João Doria é o candidato do PSDB. Alckmin quer que a maior cidade do estado seja governada como ele governa o estado: com privatizações, demissões, repressão policial e descaso com a educação. Dória já disse que vai excluir as pastas de mulheres, negros e deficientes. Marta Suplicy, agora do PMDB de Temer, tem como seu vice, Andrea Matarazzo, um velho oligarca e um dos pupilos do ex-prefeito Gilberto Kassab.
Há quatro anos atrás, o povo trabalhador apostou na alternativa Haddad (PT) para se contrapor aos projetos elitistas. Ocorre que a prefeitura de Haddad foi pautada pela mesma lógica com a qual o PT governou o país nos últimos 14 anos. Assegurando seu compromisso com os empresários, Haddad não hesitou em aumentar sucessivamente o preço das passagens e em reprimir as lutas das ocupações urbanas. Haddad manteve e ampliou a terceirização dos serviços e os convênios com as Organizações Sociais, que significaram mais privatização dos serviços púbicos. A lógica de um projeto de conciliação de classes fracassou mais uma vez e só gerou a descrença e a desmoralização dos trabalhadores.
É por isso que se faz urgente resgatar um projeto de independência de classe. Qualquer projeto que repita os erros do PT estará fadado ao fracasso novamente. Neste sentido, o MAIS defendeu e continuará defendendo a necessidade da conformação de uma Frente de Esquerda e Socialista para estas eleições municipais, mas que se materialize também nas lutas da classe trabalhadora, com um programa de alternativa tanto à velha direita, quanto ao PT.
Para além de uma alternativa que se contraponha tanto à direita quanto ao PT, também julgamos necessária a construção de um programa anticapitalista que se enfrente com os principais problemas colocados pela concentração de riqueza nas mãos de poucos, na espoliação da cidade através da dívida pública, da exploração dos usuários dos transportes através dos lucros da máfia dos empresários dos ônibus.
Achamos que a melhor maneira de construir este projeto seria pela unidade dos partidos de esquerda PSOL, PSTU e PCB. Infelizmente nem o PSTU, nem o PSOL batalharam por esta aliança. O PSTU lançou um ótimo candidato, ligado a importantes lutas da cidade, como a redução da tarifa em junho de 2013 e a forte greve metroviária em 2014. Consideramos a candidatura de Altino, revolucionária e socialista, mas lamentamos que neste momento em que é tão necessária a unidade da esquerda para enfrentar a direita e o PT, a candidatura do PSTU não esteja unificada ao PSOL e ao PCB.
Por outro lado, o PSOL decidiu pela candidatura de Erundina, tendo como vice Ivan Valente, sem fazer o esforço necessário para uma unificação com o PSTU. Nós do MAIS, consideramos que nenhum partido da esquerda sozinho vai ser capaz de alcançar o desafio de mobilizar amplas massas por um projeto alternativo, classista e socialista. Por isso lamentamos que a esquerda saia dividida em duas candidaturas nesta eleição municipal em São Paulo.
Consideramos que a candidatura de Erundina, neste momento, é a que mais expressa a unidade da esquerda e a que mais pode capitalizar as simpatias das massas trabalhadoras, além de aglutinar a maioria da vanguarda lutadora da cidade. Erundina está com 10% das intenções de voto e representa para amplas parcelas dos trabalhadores, uma alternativa à esquerda em relação às candidaturas da direita e à do PT. Por isso nós do MAIS nos inclinamos a dar o nosso apoio à candidatura de Erundina e à coligação PSOL e PCB. Porém achamos muito importante pontuarmos aspectos do programa que consideramos ainda insuficientes e que julgamos necessário debater com o conjunto dos ativistas desta campanha.
Para fazer realmente a diferença, será necessária a coragem para enfrentar temas imprescindíveis para que se possa construir uma cidade que saia da lógica da cidade-negócio-mercado. Achamos que o primeiro programa apresentado pela candidatura de Erundina, apesar de apontar passos importantes nesse sentido, apresenta importantes lacunas e insuficiências.
Consideramos que para enfrentar as máfias do transporte urbano, para que de fato se possa reduzir o valor da tarifa, rumo à tarifa zero, é necessária a constituição de uma empresa pública de transportes, que possa fazer o contraponto ao sistema atual, rumo à estatização do sistema. Em relação ao tema da dívida pública, achamos fundamental apontar a necessidade da suspensão do pagamento para se fazer a auditoria. Também é imprescindível propor a suspensão dos contratos com as empresas terceirizadas e com as Organizações Sociais para ter os serviços 100% públicos. Outro tema essencial, é o compromisso com a desmilitarização da GCM (Guarda civil Metropolitana), e a proibição expressa de que a GCM reprima a população de rua e os trabalhadores ambulantes, como vemos ocorrer hoje diariamente no centro de SP, assim como enfatizar o posicionamento contrário a qualquer reintegração de posse ou repressão aos movimentos grevistas.
Estes temas que levantamos acima, julgamos serem medidas indispensáveis para invertermos a lógica da cidade administrada para o capital, para termos uma cidade projetada para o povo trabalhador. Sabemos que os poderosos farão todos os esforços para inviabilizar qualquer projeto anticapitalista, porém, sabemos que a força para isso virá da mobilização popular, coisa que a esquerda tem que renovar sua capacidade e potencial para mobilizar, se quiser fazer diferente dessa vez.
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