Por: Mayara Conti, de São Paulo, SP
Muito tem se discutido sobre a decadência da seleção masculina de futebol. Dentre as críticas mais comuns está a falta de comprometimento e a ausência de resultados. Por outro lado, sobram elogios à seleção feminina: garra, ousadia, eficiência. Até mesmo os grandes veículos de comunicação deram uma ‘virada feminista’ nessas Olimpíadas, espaço conquistado e merecido pelas mulheres da seleção.
Desde criança as meninas são submetidas a todo tipo de julgamento no mundo dos esportes, e são vítimas até mesmo de proibições. “Você não pode jogar aqui, não sabe jogar”, ou a afirmação “menina tem que brincar de boneca, não de futebol”, são algumas das coisas que escutam logo na infância. Perdi as contas de quantas vezes fui barrada na infância e no início da adolescência. E quando eu, enfim, conseguia jogar, quase sempre apoiada na sorte de ter um irmão ou um amigo que me levasse junto à quadra e me escalasse no time, duas coisas muito comuns aconteciam. Eu era o centro das atenções, mais especificamente meu corpo, e era obrigada a ouvir todo tipo de comentários machistas e cantadas idiotas, ou odiada por ter invadido o espaço considerado dos homens, que começavam a ‘cavalar’ imediatamente, exagerar no jogo de corpo, dar empurrões para machucar. Algumas vezes passavam a perna mesmo, literalmente.
Com o tempo fui perdendo a vontade de jogar. Passaram-se anos até que eu me animasse de novo e optasse por treinar em um time feminino, só para não ter que passar por tudo outra vez. Mas, ainda não são raras as vezes em que me pego passando em frente a uma quadra cheia e dá vontade de entrar, simplesmente, como qualquer garoto pode fazer e dizer “tô de próximo”.
Mas, esse ainda é um privilégio só deles
Fico imaginando que Marta e as meninas da Seleção devem ter passado por coisa muito parecida, e, agora, conseguiram uma conquista muito importante: provar que menina pode jogar sim, e que podemos ser muito talentosas.
Esse artigo não pretende dar uma resposta cabal ao título que apresenta, mas apenas tirar conclusões sobre quais as dificuldades enfrentadas pelas mulheres o mundo do futebol. Não se trata de auferir quem é melhor ou pior, numa batalha sexista sem sentido, mas apenas reconhecer o esforço dobrado e as condições adversas que as mulheres precisam enfrentar para chegar perto do reconhecimento que os homens têm, quase naturalmente.
O futebol feminino é, na maioria das vezes, desprezado, a começar pelo salário das jogadoras, que recebem muito menos que os homens. Não há transmissão ao vivo em horário nobre do brasileirão feminino, e tampouco qualquer incentivo para que as pessoas assistam às partidas no estádio.
A verdade é que o futebol feminino só fica em evidência quando o futebol masculino vai mal, e ainda assim, quando os dois times estão na mesma competição, no caso, as Olimpíadas, e não tem como fingir que não se vê. Mas, o time feminino provavelmente vai ser esquecido novamente nos próximos dias, confiram.
As Olimpíadas do Rio 2016 têm potencial para deixar um grande legado, a marca das mulheres na competição. Seja no futebol, no judô, ou na natação. É inegável que marcamos um golaço contra o machismo. Um gol que, aliás, foi de todas nós, marcado dentro e fora de campo.
É cada vez mais evidente o papel das mulheres nas manifestações que se espalham pelo país, e não há dúvidas de que a nossa luta também ecoa nos campos.
Foto: Ministério do Esporte
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